Os excluídos e as profissões ceifadas

José Manuel

A primeira batalha foi ganha a duras penas pelos aposentados do Aerus, mas com brilhantismo e não poderia ser de outra forma, pois são pessoas já em idade avançada que estão sofrendo muito com tudo o que se está passando.

Apesar de estar ainda garantida somente por seis meses, o desenrolar dos fatos e as circunstâncias em si nos dão a certeza de que ela se manterá sem prazo definido, até que seja julgado o mérito da ação civil pública, e todos os seus efeitos judicialmente positivos na recuperação dos direitos de todos.

Quando do fato ocorrido em 2006, com a suspensão temporária dos nossos proventos, nós, já éramos aposentados de fato e o que agora acontece é simplesmente o amadurecimento de um processo que se arrastava há mais de oito anos.

Portanto, em nenhum momento fomos excluídos, tampouco tivemos as nossas profissões ceifadas de repente, no início, meio ou próximo do fim das atividades laborais, como os funcionários do grupo Varig que estavam na ativa.

Tão violento ou mais até do que o nosso, foi a perda dupla tanto dos seus empregos, bem como de todo o dinheiro que já havia sido depositado no fundo de pensão.

Os ativos à época são sem dúvida alguma, os verdadeiros excluídos em toda esta tragédia patrocinada, que tem Cpf, Rg,Cnpj, e hoje todos sabem que é quem.

Retrocedamos no tempo e nos coloquemos hipoteticamente no lugar daqueles que estando em pleno vigor da vida, trabalhando, e com as suas famílias dependendo de um trabalho sendo plenamente executado, com carreiras profissionais em ascensão inclusive e, em um piscar de olhos todos os anseios, todas as expectativas, todo um futuro, jogado no lixo da história, tendo como responsáveis por essa grande tragédia, nada mais, nada menos do que aqueles que nos governavam à época, donos das identificações acima.

Eles e só eles, da ativa à época são os verdadeiros excluídos, portanto são os que talvez até em maior grau que nós, tenham sofrido muito, muito, enquanto não conseguiam se realocar no sempre difícil mercado de trabalho.

Imaginemos quantas carreiras especiais e caras, de profissionais como pilotos, por exemplo, tiveram seus espaços cerceados abruptamente, tendo inclusive que abandonar o país, suas famílias para que pudessem encontrar o seu trabalho especializado no exterior, uma vez que à época nosso país não dispunha de vagas que cobrissem toda a oferta.

Imaginem as carreiras do pessoal especializado em aeroportos, engenheiros de manutenção de aeronaves, engenharia de interiores, motores, enfim toda a complexidade de uma aeronave, burocracia financeira, contábil, reservas, administração, comunicações, informática e mais uma centena de pequenos detalhes inerentes a uma indústria de aviação comercial, tiveram os seus projetos de vida assassinados por uma quadrilha no poder, pois acreditavam acima de tudo na sua empresa pela qual davam o seu sangue e suor.

Muito para lá do meu problema pessoal, que foi imenso, imagino a tristeza desses profissionais que perderam a carreira, o emprego e o fundo de pensão, tudo em um pacote só, e no meio de suas vidas.

Foi muito triste e convém refletir um pouco melhor sobre as nossas atitudes, sobre nosso egoísmo dentro de toda a nossa problemática, ao longo deste negro período.

Eles, os excluídos, nos ajudaram por todo este tempo, a reaver o que nos é de direito, portanto, logo após a ressaca da vitória, a hora é de começar a trabalhar também para eles, que merecem todo o nosso respeito pelo que sofreram.

A Aprus por exemplo, tem um plano de ação já desenhado e pronto para 2015, pois este ano que agora finda, com o ainda recente formato como foi conduzido todo este processo dos aposentados, não deu para fazer melhor, visto a precariedade tanto de recursos, como a delicadeza do tema em questão, visto estarmos trabalhando em um aspecto jurídico em que algumas correntes de pensamento não puderam, nem podem atuar, por força de contrato vigente com um escritório especializado.

A nossa prioridade agora, além de toda a vigilância tutelar que nos garante o momento, será a liberação do transitado em julgado da ação Tarifária da Varig e a luta pela Terceira fonte, essas sim, em âmbito e foro de ação do Aerus, em que todos podem trabalhar livre e democraticamente.

Urge tomar providências, agora em 2015, no sentido de unirmos forças em torno da liberação e acompanhamento gerencial "in loco" da Tarifária, uma vez que ela aportará recursos ao Aerus para que seja operacionalizada a parte previdenciária com a liberação das reservas matemáticas dos ativos retidas desde a intervenção, assim como também nos dará finalmente o direito a receber a nossa aposentadoria indefinidamente.

Não interessa quanto e como nossos colegas da ativa estejam trabalhando, pois eles têm direito a receber o que lhes é de direito, e no mais breve tempo possível.

Até agora o tempo de lutar foi nosso, mas de agora em diante a luta será a priorização dos direitos daqueles que foram duramente atingidos.

As lutas são boas ao ser humano, pois oxigenam a alma, refrescam a cabeça, desenvolvem a musculatura psíquica, renovam as células e principalmente nos trazem a paz de espírito, com a expectativa de um futuro melhor e a certeza da vitória.

E é atrás dessa vitória, que recomeça a nossa nova maratona.

Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 9-12-2014

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