Telmo Azevedo Fernandes
Um conjunto de 12 indivíduos
decidiu criar uma coisa chamada “Observatório da extrema-direita”. Diz essa
gente que se trata de “um projeto plural que junta pessoas com percursos
vários”. Fui ver: tem um fundador do Bloco de Esquerda (BE), vários dirigentes
do BE, eleitos e candidatos autárquicos do BE, tudo BE declarado e até às
entranhas. Fiquei convencido sobre a pluralidade…
A agremiação parece marxista,
cheira a trotskismo, lembra estalinismo, portanto, é bloquista.
Um dos dois artigos de opinião
já produzidos por este coletivo é assinado pela filha de um Conselheiro de
Estado de quem junto três imagens para mais fácil identificação:
A forma eufemística, ou
melhor, retrincada com que se apresenta como estrutura independente um coletivo
que não passa de um veículo de transmissão do partido é um expediente
recorrente do Bloco de Esquerda.
Outro exemplo paradigmático é
a Climáximo, uma suposta organização ambientalista enxameada também de
dirigentes e militantes bloquistas que é uma mera spin-off do BE. O artifício
vai ao ponto de um dos seus principais e mais ativos responsáveis ser
apresentado como “especialista em alterações climáticas” quando se omite a
verdade de ser antes de mais um membro do BE, por sinal companheiro conjugal da
rapariga acima anteriormente retratada. Deste junto igualmente três imagens
para mais fácil identificação:
O estaminé de ativistas do
personagem acima diz em manifesto que “está tudo lixado” e que se “fartaram”,
pelo que se comprometem a “lutar contra o vírus da maximização do lucro”, a
“construir uma nova civilização” e anunciam sair às ruas este Outono “em ações
de desobediência civil em massa”. É o desígnio da proteção do Ambiente…
Mas talvez valha a pena ouvir,
pela voz do próprio, considerações sobre a “emergência climática” aludindo a
“fascistas a surgirem em cada região” e afirmando-se pronto a “produzir a ação
para um processo revolucionário que substitua o capitalismo”.
Foi também a Climáximo que
intercedeu para que Greta Thunberg fizesse há tempos uma escala em Portugal. E,
note-se, é com este tipo de plataformas que a Fundação Calouste Gulbenkian vive hoje em concubinato.
Além da multiplicação em
diversas estruturas satélites do Bloco de Esquerda uma outra característica
desta rede é a de que um conjunto limitado dos seus protagonistas é
omnipresente a todas elas.
Por exemplo, na Rede Anticapitalista lá encontramos novamente João Camargo e na revista
desta metástase do Bloco escreve com frequência o seu sogro, Francisco
Anacleto.
A família junta-se também numa publicação regular do partido ou na produção de um filme sobre “Portugal nos anos 201x quando a Troika aterra em Portugal para mais uma avaliação e começa um surto de morte e violência.”
A família junta-se também numa publicação regular do partido ou na produção de um filme sobre “Portugal nos anos 201x quando a Troika aterra em Portugal para mais uma avaliação e começa um surto de morte e violência.”
A polivalência familiar
deriva quiçá do seu aburguesamento e múltiplos interesses:
Francisco Louçã além de Conselheiro de Estado foi (ainda é?) consultor do Banco
de Portugal, a sua mulher (Ana Campos) é nomeada consultora da DGS, a sua filha (Joana Louçã) tornou-se assessora parlamentar com salário pago pela AR, o seu cunhado (Correia de Campos)
além de ex-ministro da Saúde foi até há pouco Presidente do Conselho Económico
e Social.
Dos irmãos de Anacleto Louçã
não me consta que tenham cargos de nomeação governamental nem especial visibilidade
pública. Mas registo que estes se tenham zangado com o Bloco, deixando claro e por escrito que “o Bloco se tornou numa
organização hierárquica e cristalizada onde imperam os acordos de cúpula”.
Sabendo que os extremos se
tocam, partilham muitas práticas e até alguns mesmos princípios, nada mais
apropriado que a expertise da extrema-esquerda para
monitorizar a extrema-direita.
Boa sorte para o novo
Observatório!
Título, Imagens e Texto: Telmo
Azevedo Fernandes, Blasfémias,
31-7-2020
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