sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Acabou a lamúria, vamos ao trabalho

António Ribeiro Ferreira
As responsabilidades dos empresários aumentaram com a reforma laboral

Foto: DR
Acabaram-se as discussões cíclicas e intermináveis sobre as leis laborais. Acabaram-se as promessas eleitorais sobre a matéria, os debates, as queixas e as lamúrias sobre a rigidez da legislação, o seu impacto negativo nas empresas, no emprego e na competitividade.
Acabaram-se também as queixas e as lamúrias dos saudosistas das leis de 1975, os ataques permanentes sempre que alguém ou algum governo decidia retocar as leis do trabalho. Os tabus caíram na madrugada de terça-feira e o movimento sindical, que sempre se mostrou reaccionário e contrário a qualquer mudança, por pequena que fosse, e tentou sempre impedir a livre negociação entre empresários e trabalhadores ao nível das empresas, sofreu obviamente uma enorme derrota. E se os sindicatos sofreram um enorme revés nessa madrugada, o mesmo não se passa com os portugueses que ainda têm emprego e trabalham por conta de outrem.
A velha e caduca contratação colectiva, que os sindicatos não largavam de mão para não perderem poder e o dinheiro das quotas dos seus associados, tem os dias contados. Agora, mais que nunca, vão funcionar os acordos empresa a empresa, em que patrões e trabalhadores fixam objectivos, direitos e deveres em função das situações concretas do mercado, da concorrência e, essencialmente, da viabilidade económica e financeira das empresas. Esta nova realidade vai pôr à prova as qualidades de gestão dos empresários que investem em Portugal. É comum dizer-se que a formação da grande maioria dos empresários portugueses é abaixo de medíocre.

Com toda a razão. Os maus exemplos abundam e muito do que se diz sobre a produtividade e a competitividade das empresas é culpa única e exclusiva de pessoas com uma visão troglodítica da economia, do lucro e da responsabilidade social. É por isso também que as crises violentas, como a que Portugal está a viver, servem para limpar o tecido económico de muito lixo empresarial.
Mas com formação ou sem ela, com mais ou menos visão para os negócios e para a economia, os empresários portugueses só se podem queixar de si mesmos se não conseguirem potenciar o acordo assinado na madrugada de terça-feira.
Se optarem pelo caminho básico e estúpido do despedimento sem justificação, do ataque cego e brutal aos trabalhadores, têm a falência como destino certo e seguro, Se, pelo contrário, envolverem os seus colaboradores na vida das empresas a todos os níveis, dos prejuízos aos lucros, se conseguirem que cada trabalhador lute e trabalhe para o êxito ou a sobrevivência do seu trabalho, as crises podem ser superadas e encontradas soluções que  minimizem os dramas sociais.A bola está decididamente do lado dos empresários. Ainda se podem queixar da burocracia do Estado, do preço elevado da taxa social única e dos custos exorbitantes de alguns factores de produção, como a energia. Mas não podem, a partir de agora, queixar-se da legislação laboral, dos custos do trabalho ou das dificuldades em reestruturar e adaptar as empresas às condições do mercado. Se o fizerem, então são maus empresários e merecem desaparecer rapidamente da face da economia.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 20-01-2012

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