![]() |
Pintura de Claude Lorrain, de um porto francês de 1638, no auge do mercantilismo |
O CAPITALISMO preconiza
essencialmente a liberdade econômica e necessariamente a economia de
mercado que é a liberdade de trabalhar, produzir, comprar, vender,
importar, exportar sem restrições nem coerção do governo, deve estar
sujeito apenas aos instrumentos legais que sejam razoáveis e nunca limitadores
da livre iniciativa, mas reiteradamente é ‘acusado’ pela atual crise.
O fato é que no sistema
econômico capitalista, em que funciona a economia livre, de mercado,
o espaço para a corrupção diminui; consequentemente – a fórmula real para
diminuir, restringir a corrupção é a ampliação das liberdades econômicas
pela redução da regulamentação e dos monopólios estatais, o que poderá levar
gradativamente a reforma mais importante – a ‘reforma moral’.
É certo também que em
nenhum país opera um capitalismo puro, porém também é correto
afirmar que aqueles que mais se aproximam do livre mercado prosperam
muito mais do que os que se regem por diretrizes de burocratas e políticas
econômicas de viés socialista.
No mercado global temos uma
ampla variedade que vai desde o capitalismo autoritário – forjado no ambiente
autoritário - com ‘valores asiáticos’; "o capitalismo de Putin”,
com seus 'valores russos' (prevalece a violência a partir do poder) [e] o capitalismo
brasiliensis com excesso de normas limitadoras, sobretudo tributárias
(‘marcos regulatórios’) de cunho macrófago em que os que têm afinidade com o
poder político prosperam de maneira vertiginosa.
Nas análises da atual crise
global de modo geral predomina certa falácia interpretativa que estabelece
como nexos causais o que não passa de simples correlações estatísticas que
passam a ser ‘verdades absolutas’.
Confira o artigo “O mercado
não tem rivais de verdade” de SAMUEL BRITTAN do qual destaco:
A melhor maneira de
redistribuir é mediante um sistema tributário e de seguridade social (de
preferência unificado), e não interferindo em preços e salários.
O capitalismo é um meio
para termos liberdade e prosperidade, e não um fim em si mesmo.
Texto: Rivadávia Rosa
O mercado não tem rivais de
verdade
Samuel Brittan
|
Há mais tempo do que gosto
de lembrar, escrevi um livro, "Capitalism and the Permissive
Society", título que confundiu algumas pessoas, como se eu fosse
defensor de ambos. Como a maioria dos livros sobre economia política,
resultou imperfeito. Mas suas falhas foram de omissão, e não de comissão, e,
retrospectivamente, quase duas décadas e meia depois, não há quase nada pelo
que eu gostaria de me retratar.
Não há necessidade de fazer
de conta que as recompensas do mercado refletem mérito pessoal. Como
disse Lord Melbourne em outro contexto: "Não há mérito nenhum
nisso". A melhor maneira de redistribuir é mediante um sistema
tributário e de seguridade social (de preferência unificado), e não
interferindo em preços e salários.
Um capitalismo bem
sucedido também é compatível com - e, em minha opinião, exige - o uso
da política monetária e fiscal para moderar as flutuações da atividade
econômica e para evitar que longos períodos de demanda deficiente produzam
desemprego desnecessário, bem como, naturalmente, para evitar inflação
galopante.
A importância do capital
privado para a liberdade de expressão foi comprovada pela maneira como os
escritores americanos tidos como subversivos encontraram refúgio da
perseguição imposta por McCarthy assumindo empregos no setor privado
americano.
Minha argumentação
fundamental em favor do capitalismo competitivo é que ele promove a liberdade
pessoal e política. Um empresário fora do setor financeiro prosperará
disponibilizando o que os adultos desejam ter, mesmo que isso seja música
pop, algodão doce ou shows com gente pelada - em vez do que gente
supostamente mais sábia suponha ser bom para eles. Acima de tudo, o
indivíduo tem a liberdade para usar seus potenciais segundo suas próprias
escolhas. Ele ou ela podem concentrar-se em buscar seu prazer pessoal,
dedicar-se ao serviço social em seu próprio país, minorar a pobreza no
exterior ou qualquer combinação dessas e de outras atividades.
No início do século XX, Ludwig
von Mises, um economista austríaco, desafiou os socialistas a dizerem
como determinar o que deve ser produzido, e por quais métodos, na ausência de
mercados capitalistas. A resposta mais interessante veio de "socialistas
de mercado", com a afirmação de que as empresas estatais poderiam
imitar os capitalistas, usando preços de mercado para orientar suas
atividades. Com efeito, elas poderiam fazê-lo, com um conjunto
conhecido de produtos, uma tecnologia conhecida e gostos conhecidos e
estáticos do público.
A questão é totalmente
distinta quando se trata de inventar novos produtos ou descobrir
metodologias baratas. E quem deveriam ser os gestores e como conseguir
que uma quantidade limitada de fundos para investimentos sejam alocados a
todos que tiverem uma ideia brilhante? Acima de tudo, há a consideração
política enunciada por John Stuart Mill: "Se as estradas, as
ferrovias, os bancos, os escritórios de seguros, as grande sociedades
anônimas fossem, todas, ramos do governo... se os trabalhadores de todas
essas empresas... buscassem no governo cada melhoria em suas vidas, nem toda
a liberdade de imprensa e participação popular na legislatura tornaria este
ou qualquer outro país livre em outra coisa que no nome". A
importância do capital privado para a liberdade de expressão foi
comprovada por seu papel no lançamento da revista crítica e satírica
"Private Eye", ou pela maneira como os escritores americanos
supostamente subversivos, na década de 1950, encontraram refúgio da
perseguição inspirada por McCarthy assumindo empregos no setor privado.
Existem alguns atrativos em
empresas fundadas em autogestão (às quais Mill era simpático) e
houve alguns sucessos aqui: por exemplo, o grupo Mondragon, na Espanha; e
escrevo na condição de satisfeito cliente da John Lewis Partnership. Mas
simplesmente não há provas ou análises suficientes para justificar uma
transferência politicamente determinada de empresas para tais entidades.
Jesse Norman, o
deputado conservador, listou algumas das inúmeras maneiras pelas quais o
capitalismo pode ser corrompido por nepotismo. Uma delas é o velho
monopólio; um capitalismo de tipo russo simbolizado por oligarcas que
ganharam controle sobre os recursos naturais; capitalismo cáqui em
países dominados por militares e narco-capitalismo baseado em negócios
com drogas ilícitas. Esse último é agravado por excessiva legislação
ocidental intrusiva, similar à Lei Seca nos EUA, na década de 1920. Não é
preciso, porém, dizer que esses sistemas não são "capitalismo
real" ou reivindicar uma patente conservadora sobre a variedade genuína.
A deficiência real de meu
livro foi que, como muitos outros, não discuti o setor financeiro e as
maneiras como suas atividades podem minar a ordem capitalista, mesmo se
não houver inflação ou deflação ostensiva nos preços ao consumidor. O
funcionamento ordenado de mercados exige a existência de alguma maneira de
casar poupança com o desejo de tomar emprestado; um mercado para recursos
disponíveis para investir e alguma forma de seguro contra as vicissitudes da
vida, bem como, naturalmente, uma forma melhor de manter dinheiro líquido do
que armazená-lo sob o colchão. Mas nada disso justifica a ameaça - criada
pelas massas de dinheiro inventado - para uma instituição após outra e um
país após outro. O capitalismo é um meio para termos liberdade e
prosperidade, e não um fim em si mesmo. Melhorias, nesse terreno, podem
justificar não apenas regulamentação internacional, mas a retenção, na esfera
estatal, por um tempo bastante prolongado, de bancos e outras instituições
que tiveram de ser socorridos por governos. (Tradução de Sergio Blum)
Samuel Brittan é
comentarista econômico do FT.
Valor Econômico - 13-01-2012
Grifos: Rivadávia Rosa
Edição: JP
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-