Sérgio Soares
A rigidez das leis laborais
foi uma queixa repetida do patronato. Após a capitulação da UGT, a economia
portuguesa tem via aberta para galgar rankings da competitividade
Com o acordo celebrado esta semana em Concertação Social acabaram-se as desculpas para os que atribuíam à
rigidez das leis laborais a responsabilidade principal pela fraca
competitividade e pela baixa produtividade das empresas e da economia
portuguesa.
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Acordo de Concertação Social, 18-01-2012, foto: Divulgação |
Eliminado esse obstáculo, a
competitividade da economia e das empresas depende agora em grande medida da
capacidade dos empresários nacionais.
Durante anos, alguns patrões e
seus representantes queixaram-se de que as suas empresas perdiam
competitividade e produtividade porque os salários cresciam mais em Portugal
que na União Europeia. O que nunca diziam é que a produtividade pode aumentar e
mesmo assim a competitividade baixar. Pode-se produzir muito e não se ser
competitivo num mercado aberto.
Portugal posicionou-se no 46º
lugar no Índice Global de Crescimento da Competitividade, num total de 139
países, segundo o relatório anual do Fórum Económico Mundial, de Setembro de
2010. A descida no ranking face a 2009 (43ª posição entre 133 países) foi atribuída
a um retrocesso em eficiência do mercado de trabalho.
A posição do país foi
desfavorável na última década em todos os rankings e essa situação foi quase
sempre associada ao crescimento elevado dos custos de trabalho, em comparação
com a média europeia. Contudo, na última década, a moderação salarial em Portugal
foi de longe superior à da generalidade dos membros da OCDE, mas a
competitividade e a produtividade nacionais não aumentaram.
Naturalmente, a
competitividade das empresas depende dos custos salariais e das receitas, mas
também do que se escolhe produzir, da sua qualidade, da procura e do valor
acrescentado dos produtos manufacturados. Essa responsabilidade assenta
sobretudo na boa ou má gestão dos empresários e não na quantidade de horas que
os trabalhadores cumprem. Os trabalhadores portugueses trabalham mais horas que
os nórdicos, mas estes vendem aviões e automóveis de luxo. Nós, por exemplo,
vendemos cortiça e sardinhas, e poucos produtos com elevada incorporação de
tecnologia. A maior parte dos economistas concorda que a diferença de
competitividade entre as empresas portuguesas e da União Europeia não se deve
aos salários.
A falta de competitividade da
economia deve-se também naturalmente à fraca produtividade das empresas, ao
fraco desempenho da gestão, à baixa qualificação dos empresários e à falta de
formação profissional dos trabalhadores.
Há inúmeras PME em Portugal
com produtos de elevada incorporação tecnológica que não apostam nos baixos
salários ou nos preços reduzidos na venda dos produtos fabricados. Resultado:
destacam-se pelo sucesso internacional.
O Nobel da Economia de 2001,
Joseph Stiglitz, disse quarta-feira em Lisboa que as reformas estruturais “não
vão resolver o problema” da zona euro a curto prazo. Stiglitz considera que
“deve haver mais flexibilidade laboral” na Europa, mas avisa: “Isso às vezes é
uma forma disfarçada de dizer ‘baixar salários’. E reduzir os salários só
agrava o problema numa crise, porque assim as pessoas não fazem compras.”
O economista recordou ainda
que o seu país tem “um mercado de trabalho flexível”, mas isso “não resolveu o
problema nesta crise” e que o mercado laboral dos EUA “funcionou pior durante a
recessão do que o da Alemanha”.
A responsabilidade pela
competitividade e pela produtividade em Portugal, para além dos factores
externos que não se podem controlar, assenta mais nos ombros dos empresários
portugueses que nos trabalhadores, que viram plasmado no acordo um vasto
conjunto de cedências sem qualquer contrapartida efectiva. Isto é uma
evidência. A rendição incondicional da UGT é ineludível. Esta leitura nada tem
nada a ver com avaliações ideológicas. Por duro que seja para os trabalhadores,
o acordo é positivo para a imagem do país e acaba com a desculpa da rigidez das
leis laborais.
Na teoria, com o Compromisso
para o Crescimento, Competitividade e Emprego, Portugal pode agora galgar os
rankings internacionais em termos de competitividade e produtividade.
Alguns, habituados ao
proteccionismo e aos subsídios estatais, vão ter de arranjar novas desculpas. O
financiamento às empresas serve.
Título e Texto: Sérgio Soares,
jornal “i”, 21-01-2012
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