sábado, 7 de janeiro de 2012

Não se esqueçam das confrarias, por favor.

Muito bem. Políticos, empresários, juízes e jornalistas têm de pôr tudo a nu. Tudo.
António Ribeiro Ferreira
Estalou a polémica. Depois de ter sido publicada a notícia que dava conta de que Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, pertencia à Maçonaria, o deputado não desmentiu fazer parte da organização.
A insanidade tomou conta da pátria. Percebe-se. Pela primeira vez na história desta engraçada democracia há cortes a sério na educação, na saúde, na segurança social e nos ordenados dos funcionários públicos. Pela primeira vez nestes anos a caminho do socialismo, a bancarrota é uma realidade e Portugal anda de mão estendida e chapéu na mão a pedir dinheiro para sustentar os vícios de muitos anos. E como é muito difícil encarar a realidade e tomar decisões sérias sobre o presente e o futuro, uma parte do rebanho decidiu ocupar o tempo com diversos assuntos esotéricos. É natural. É por isso mesmo que os bruxos, adivinhos e outros que tais têm sempre imensa saída em momentos de grande depressão e infelicidade. O tema escolhido por estes dias é a maçonaria e os seus respeitáveis irmãos. Parece que uns investigadores de primeira água descobriram que nas catacumbas se reúnem secretamente homens de diferentes artes e ofícios. De avental vestido, secretamente, conspiram contra a pátria e sabe-se lá se não andam mesmo a preparar um golpe de Estado. Fazem negócios escuros na obscuridade das lojas, arranjam empregos uns aos outros e até têm o topete de aliciar honestos representantes do povo para as suas maléficas actividades. Chegados a este ponto de malfeitoria e desvergonha, é tempo de acabar com tanto despautério e obrigar os energúmenos a sair das catacumbas. É tempo, pois, de dar os nomes aos bois, salvo seja. A ideia parece agradar ao secretário-geral do PS e a outros dignos deputados. Todos, sem excepção, devem, em nome da transparência, da democracia, da pátria e das tretas do costume, declarar se pertencem a organizações secretas ou discretas, quem são os seus parceiros de avental, o nome das lojas, os locais em que se encontram e quais os temas perversos que os ocupam pelo menos uma vez por semana. A medida é não só inteligente como exemplar. Mas peca por ser tímida e não ir ao âmago da questão. Não basta aplicar a medida aos deputados. É preciso alargá-la aos jornalistas, empresários, gestores (públicos e privados), magistrados judiciais e do Ministério Público, polícias (principalmente da Judiciária), espiões, obviamente, e a todos os funcionários das Finanças, com destaque para os que cobram os impostos para o Estado. Mas não basta. Além dos malvados irmãos maçónicos, é necessário que todos os suspeitos acima mencionados confessem a religião que professam e, no caso dos católicos, declarem se são da Opus Dei. Mais. É imperioso que os potenciais criminosos declarem a que clube pertencem, quais são os seus parceiros nas bancadas e nos camarotes dos estádios de futebol, se têm por hábito reunir tertúlias secretas em casas particulares ou se preferem lugares públicos para melhor fugirem ao olhar atento das autoridades. E, por favor, não se esqueçam das confrarias. Por trás da cerveja, do bacalhau, do cozido à portuguesa e do vinho do Porto podem esconder-se perigosos conspiradores, juízes corruptos, empresários mafiosos e homens do fisco que não zelam pelos cofres do Tesouro. Chegou a hora de marchar. Marchar mesmo. Sem medos. Para o diabo que os carregue.
Título, Imagem e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 07-01-2012

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