Alceu Garcia
Conta Aristóteles que seu
mestre Platão ocasionalmente interrompia as aulas que ministrava na Academia
para questionar-se, e a seus alunos, se no tema desenvolvido eles estavam
partindo dos primeiros princípios ou no caminho que se dirige a eles. No Brasil
são poucos, mesmo nos mais sisudos centros acadêmicos, os que efetivamente se
preocupam com essa investigação preliminar de máxima importância em qualquer
campo do saber. Nos debates públicos ventilados na imprensa, então, nem se
fala. Nesse universo marcado pelo falatório sofístico não só inexiste
preocupação com princípios, como a própria linguagem encontra-se tão corrompida
que é impossível sequer saber com um mínimo de clareza e precisão do que se
está tratando nas discussões. E o maior problema é que a adulteração do sentido
das palavras é deliberada, envolvendo um projeto de dominação ideológica no
sentido marxista do termo, a falsa consciência, o véu de idéias forjadas por um
grupo para, ocultando a realidade, explorar os demais com a anuência expressa
ou tácita dos próprios explorados. Esse grupo é a classe letrada, a
intelligentsia, obcecada pelo socialismo e imbuída do método gramsciano de
reforma do senso comum para implementá-lo, como tem denunciado e fartamente
provado o filósofo Olavo de Carvalho. A depravação da linguagem torna
impossível identificar, isolar, compreender e enfrentar os problemas postos
para a coletividade. Como discutir proveitosamente sobre algo que sequer
sabemos o que é?
O objetivo desse texto é
contribuir modestamente para a difícil tarefa de remover a névoa pegajosa e
traiçoeira que recobre certas palavras e expressões vertidas incessantemente na
imprensa por intelectuais e políticos de "esquerda" (mas não apenas
eles), de modo que os interessados de boa-fé possam ao menos tentar entender com
alguma nitidez o que realmente está sendo afirmado e se as propostas de ação
política reclamadas são compatíveis ou não com os fins (ocultos ou declarados)
almejados.
"JUSTIÇA SOCIAL" –
Justiça deriva do latim justitia, exprimindo conformidade com o Direito, não
necessariamente o Direito Positivo, legislado, que pode ser, e frequentemente
é, injusto (ex: pensão vitalícia de dez mil reais para ex-governadores), mas os
princípios gerais derivados dos valores que formam a Ética de um determinado
grupo, que antecedem e informam as leis objetivas e sua interpretação,
consubstanciado no mister de dar a cada um aquilo que é seu, como diziam os
juristas romanos. E cada indivíduo só é proprietário daquilo que produziu com o
seu próprio trabalho ou que adquiriu contratualmente por meio de trocas
voluntárias (compra e venda, locação, contrato de trabalho, doação, etc).
Social vem de sociale, relativo à sociedade (do lat. societate), ou seja, uma
coletividade humana. Ora, se justiça é dar a cada um o que é seu, infere-se
necessariamente que a existência de mais de um indivíduo é sua condição sine
qua non. Não havia necessidade de justiça para o solitário Crusoe em sua ilha
deserta, antes do aparecimento do Man Friday. Tudo lhe pertencia. Assim, toda
justiça é por definição social, um imperativo de convívio humano. O adjetivo
"social" é, pois, redundante e dispensável. O mesmo obviamente ocorre
com outras expressões, tais como "movimento social", "política
social", "investimento social", "questão social",
"direitos sociais", "democracia social" e muitas outras.
Quem se lembra do slogan da propaganda oficial do malsinado Governo Sarney? Era
"Tudo pelo Social", o cúmulo do estelionato semântico demagógico. Até
o erudito e em geral lúcido J. G. Merquior embarcou nessa canoa furada com o
seu "liberalismo social". O economista e filósofo Friedrich Hayek, em
seu clássico Law, Legislation and Liberty, deu-se ao trabalho de enumerar
dezenas de termos adjetivados com o infalível "social", que nada
acrescentava de racional e esclarecedor aos respectivos substantivos.
Se o "social" nada
significa de relevante, porque é tão usado? Porque o sentido oculto dessa
palavra é "socialismo", ou seja, a intervenção coletiva, política,
estatal, na esfera de autonomia individual, mesmo e sobretudo aquela em que as
pessoas não estão tomando dos outros o que não lhes pertence. Em outras
palavras, "social", nesse contexto, consiste em ações coercitivas por
meios das quais aqueles que detém o Poder Político ordenam os comportamentos e
dispõem do patrimônio dos indivíduos da forma que bem entendem, dando a cada um
o que, segundo critérios inteiramente arbitrários, entendem que cada um merece.
Vê-se que o "social" é mais do que tautológico em relação à justiça.
É incompatível com ela. "Justiça social" é pura e simplesmente
injustiça. E quem aceita esse conceito distorcido e contraditório como premissa
para o debate, mesmo que não seja socialista, já admitiu a viabilidade prática
e conferiu validade moral ao socialismo.
"POLÍTICA PÚBLICA" –
Política origina-se do grego polis, cidade-estado, daí politiké, ciência dos
negócios de Estado, ou seja dos negócios públicos, sendo que público tem raiz
no latim publicu, relativo à coletividade, oficial, estatal. Ou seja,
"política pública" é mais uma expressão vazia, pois se é política já
é pública. Seu uso tem se disseminado a partir das principais estações
difusoras do gramscismo – as universidades – sobretudo por soar bonito,
vestindo um modelito novo e sedutor às velhas e já algo desgastadas
"políticas sociais", intervenções estatais indevidas no domínio
particular para "resolver" problemas que desastradas "políticas
sociais" anteriores causaram. "Política pública" é, assim, mais
um eufemismo para – adivinhem? – socialismo.
"NEOLIBERALISMO" –
Liberalismo é o nome de um conjunto de idéias e doutrinas que basicamente
defendem a liberdade individual contra o Poder Político, formuladas por
filósofos e economistas como John Locke, David Hume, Adam Smith, Herbert Spencer,
Frédéric Bastiat e John Stuart Mill. A partir da segunda metade do século 19 o
prestígio do liberalismo decaiu tão rapidamente quanto ascendeu a aceitação
geral do socialismo entre os intelectuais e políticos, com sua ênfase na ação
coletiva e estatal como meio de se alcançar a plena liberdade e dignidade do
Homem. O liberalismo então extinguiu-se como doutrina politicamente eficaz,
subsistindo apenas na obra de um punhado de estudiosos e publicistas isolados e
espalhados pelo mundo, como Walter Lippmann, Wilhelm Ropke, Ludwig von Mises e
Frank Knight.
Após a Segunda Guerra,
contudo, diante do óbvio fracasso do socialismo, no atacado e no varejo, em
cumprir suas mirabolantes promessas de abundância material e excelência moral,
o pensamento liberal recuperou paulatinamente uma pequena parte de sua antiga
influência graças aos esforços de Friedrich Hayek, Milton Friedman, Karl
Popper, Peter Bauer, James Buchanan, Raymond Aron e outros pensadores
eminentes. É isso o famoso neoliberalismo, que se traduz em continuação e
aperfeiçoamento do antigo liberalismo. Na esfera política, o neoliberalismo só
alcançou alguma expressão nos anos 80 do século passado, inspirando certas
medidas, bastante limitadas, de alívio para a iniciativa individual na
economia, tomadas pelos governos Thatcher e Reagan, tão claramente
bem-sucedidas que logo foram imitadas por todo o mundo, inclusive em países
comunistas como a China e o Vietnã. Vale frisar que o neoliberalismo ganhou
força nos meios intelectuais combatendo os socialismos comunista e fabiano (ou
social-democrata) com argumentos irrefutáveis, reforçados pela prova empírica
inegável do fiasco universal do coletivismo, totalitário ou limitado, e só teve
aplicação restrita no cenário político quando todas as formas de socialismo
possíveis e imagináveis (comunismo, fascismo, nazismo, social-democracia etc)
já tinham sido tentadas e rejeitadas.
Essa tímida ressurreição do
liberalismo como doutrina intelectualmente respeitável e como alternativa
política e econômica válida enfrentou uma formidável barragem de propaganda
caluniosa movida pela esquerda culturalmente hegemônica. O neoliberalismo
passou a ser inculpado por tudo de mau que acontecia pelo mundo, sobretudo em
regiões em que absolutamente jamais houvera liberalismo ou neoliberalismo, como
a África, continente dominado por regimes socialistas em variados graus. Após
décadas de vulgarização e abuso, o termo "neoliberal" adquiriu uma
conotação extremamente negativa -malgrado ninguém saiba ao certo o porquê -,
comparável ao sentido odioso de palavras como "nazista" e
fascista". Acontece que nazista é a abreviação de nacional-socialista,
assim como virulentamente nacionalista e socialista foi o fascismo. Dito de
outro modo, o nazi-fascismo é irmão xifópago do socialismo dito de
"esquerda". O resultado dessa monumental campanha ideológica pode ser
aferido pela simples análise do sentido comum dos termos "comunista"
e "socialista", usualmente significando uma doutrina política
intrinsecamente benevolente e humanista, cujos efeitos bárbaros são debitados
exclusivamente aperversões acidentais identificadas com o termo
"stalinismo". Muita gente ainda se diz comunista, e quase todo mundo
se considera socialista (ou de "esquerda", que é a mesma coisa), com
a maior naturalidade, embora regimes comunistas e socialistas tenham perpetrado
as piores barbaridades da História em toda parte. Por outro lado, ninguém –
ninguém mesmo! – ousa assumir-se publicamente como neoliberal. Ora, pode-se
concordar ou discordar das idéias liberais (ou neoliberais), desde que se
procure tomar conhecimento do que efetivamente são essas idéias, submetendo-as
então à uma crítica racional. É absurdo tomar como reais idéias pela imagem
caricatural dela que seus inimigos forjaram. Mas é exatamente isso que ocorre.
O economista Eugen von
Bohm-Bawerk certa vez foi censurado por não intervir quando alguns alunos de
seu seminário expunham teorias obviamente erradas e absurdas. Ele disse em
resposta que nada era mais eficaz para se revelar o erro de um raciocínio do
que permitir que fosse desenvolvido até suas últimas consequências lógicas. A
humanidade parece ter seguido procedimento similar em relação ao socialismo, o
qual contou com meios e tempo mais do que suficientes para provar suas
proposições e falhou lamentavelmente, precisamente onde e como seus críticos
previram que falharia. Será que já não sofremos o bastante para admitir que o
socialismo é um erro trágico?
"DIREITOS HUMANOS" –
O Direito, do latim directu, aquilo que deve ser reto e justo, é uma criação
humana, e somente o Homem é sujeito de direito. Mesmo as pessoas jurídicas e
patrimônios personalizados (fundações) são ficções jurídicas cuja criação e
atuação no mundo concreto se materializam através da vontade e da ação humana.
O risível "direito dos animais", que aliás acaba de ganhar foro
constitucional na Alemanha, não é gerado pelos marinbondos e papagaios, é
claro, mas pelos homens. Sendo assim, é evidente que o Direito é sempre humano,
constituindo esse adjetivo mera tautologia. O que esse conceito espúrio pretende
de fato, enrolado em um falso manto humanitário, é conferir às pessoas –
sobretudo pessoas enquadradas em certas classificações capciosas –
"direitos" a coisas imateriais, como felicidade e amor, ou coisas
materiais, como emprego, renda, habitação etc, que o Estado não pode dar,
porque não possui, ou só pode dar a um quando tira de outro, fazendo uma
caridade farsesca com o chapéu alheio, mediada por uma casta burocrática que
reserva para si a parte do leão dos recursos "pilantrópicos" que amealha.
"Direitos Humanos", em síntese, é mais um exemplo de socialismo
disfarçado com belas palavras, um pretexto polivalente para a múltipla
intromissão estatal injusta na esfera de autonomia individual...
Muito mais clara e adequada é
a denominação Direitos Inalienáveis inscrita pelos fundadores dos Estados
Unidos no preâmbulo de sua Constituição, derivados da filosofia lockeana dos
Direitos Naturais. Esses direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade
(aos quais deve ser acrescentado o direito à propriedade legitimamente
adquirida) são inalienáveis porque não se pode dispor deles sem deixar de ser
Homem, bem como se caracterizam pela reciprocidade, isto é, ao direito de cada
pessoa corresponde direito igual de todas as outras, e o dever geral de
respeitá-los. Esses atributos de reciprocidade e universalidade são violados
pelos chamados "direitos humanos", vez que, por exemplo, ao
"direito" de fulano a uma renda de mil reais mensais inevitavelmente
corresponde o "dever" de sicrano, que ganha mais do que isso, de prover
recursos para fulano, muito embora este não seja culpado pela pobreza daquele.
Os "direitos humanos" são a cristalização da injustiça sistematizada,
ou seja, dos "direitos desumanos".
"DESIGUALDADE
SOCIAL" – Novamente o adjetivo "social" é objetivamente inútil,
porém politicamente malicioso. Para haver desiguais há naturalmente que haver
mais de um ser humano, de maneira que "social" já está implícito no
substantivo "desigualdade". Nada é mais lacrimosamente denunciado
pelo intelectual, com tom de ira santa, do que a desigualdade. Que esta existe
é um fato incontestável, um dado da natureza...As pessoas são mesmo desiguais,
e o seriam mesmo que toda a humanidade fosse constituída de clones. Não há
outra igualdade possível senão aquela diante da lei, fundada nos direitos
inalienáveis, recíprocos e universais estudados acima. A intelligentsia,
entretanto, discorda categoricamente. Há que haver igualdade material, dizem de
modo bastante vago, e cabe ao Estado instaurá-la, comandado por eles mesmos ou
por quem acate suas idéias. Como Thomas Solwell observou com sagacidade, os
intelectuais de "esquerda" dividem a humanidade em três grupos: os
desvalidos, os desalmados e os iluminados. Os primeiros, os pobres, são
maltratados pelos segundos, os ricos, cabendo aos terceiros – os próprios
intelectuais de "esquerda" – intervir munidos dos poderes coativos
estatais para defender os bons dos maus e implantar a "justiça
social" na Terra. A contradição insolúvel nesse discurso igualitário é que
sua execução exige que um determinado grupo seja incumbido da tarefa de igualar
os outros grupos, detendo para tanto poderes exclusivos, o que por si só
inviabiliza a priori a igualdade. De resto, se os indivíduos são naturalmente
desiguais e a igualdade material é impossível – até porque se fosse viável
igualar a renda monetária de todos (e não é), seria impossível igualar a renda
real, vez que, v.g., para quem vive no litoral é muito mais barato o lazer na
praia do que para quem vive no interior – a doutrina igualitária é absolutamente
inexequível, portanto absurda e, logo, intrinsecamente nefasta.
A eficácia desse discurso
absurdo depende da associação implícita e falaciosa da desigualdade com a
miséria, e também da estimulação sub-reptícia do sentimento da inveja. A falsidade
do sofisma da miséria pode ser facilmente exposta em termos econômicos. A
miséria é causada basicamente pela baixa produtividade do trabalho, que deriva
de reduzidos padrões de capital investido per capita em determinada comunidade.
A solução, assim, passa necessariamente pela acumulação de capital de modo a
que o trabalho se torne mais produtivo, elevando ipso facto o nível de consumo
das profissões marginais (aquelas cuja remuneração é mais baixa) para um
patamar acima da mera subsistência. A teoria e a experiência provam que somente
a economia de mercado, ou seja o capitalismo, é capaz de gerar os requisitos
necessários e suficientes para se extinguir rapidamente a miséria. Como, porém,
o capitalismo é rejeitado veementemente pelos intelectuais de esquerda,
conclui-se que Joaozinho Trinta estava certíssimo quando afirmou que esses
sujeitos adoram a miséria. Miséria para os outros, bem entendido. A invocação
da inveja, além de imoral, é contraproducente, posto que a ênfase na
expropriação dos que têm mais em prol dos que têm menos desencoraja o trabalho
e incentiva o parasitismo. No final do processo, a inveja resulta na miséria
geral, pois quem vai querer produzir para ser roubado? E se ninguém produz, o
que o parasita vai parasitar?
"GLOBALIZAÇÃO" – Quando
o homo sapiens emigrou há milênios de sua África natal para todos os recantos
do planeta estava terminada a única "globalização" de fato relevante.
Tratando-se de uma única espécie, gregária e sociável, nada mais natural do que
a progressiva intensificação dos intercâmbios de todos os tipos entre seus
componentes. A língua, o fogo, a roda, a escrita, a matemática, as religiões e
muito mais coisas se "globalizaram" no curso do tempo. Então o que há
de diferente e novo no que hoje se chama vulgarmente de
"globalização"? Nada. Em boa parte o termo tem conotação negativa,
identificado com capitalismo, imperialismo e bobagens do gênero. Para
identificar a má-fé nessa campanha de desinformação propagandística basta
constatar que seus autores são os mesmos que ainda ontem pregavam (e ainda
pregam, embora em outros termos) o "internacionalismo proletário",
isto é, a globalização do comunismo.
"EXCLUSÃO SOCIAL" –
Olhem o infame "social" aí de novo! O termo "excluído" foi
concebido pela intelectuária para substituir aos desgastados
"proletário", "trabalhadore" e "camponês",
malgrado corresponda, mais tecnicamente, ao que os marxistas clássicos
rotulavam de "lumpenproletariado". Como a retórica da
"esquerda" é cada vez mais vaporosa, contraditória e mutante,
"excluído" pode identificar as mais diversas categorias. Hoje são os
índios, para os quais se exigem terras equivalentes ao território de vários
países, amanhã são os "sem-terra", que demandam o fim do
"latifúndio" e a divisão de todas as terras em pequenas propriedades,
e assim por diante.
"A LÓGICA DO
CAPITALISMO" – A lógica é a disciplina filosófica que estuda a forma do
raciocínio, pelo qual de premissas admitidas como certas se inferem conclusões
necessárias, pois já implícitas nas premissas. Assim, quando um intelectual de
"esquerda" fala em "lógica do capitalismo", essa expressão
só é válida se o interlocutor aceita as premissas sugeridas. Quando, ao
contrário, o interlocutor pretende justamente problematizar essas premissas,
não há lógica nenhuma, e sim dialética. Infelizmente é quase impossível um
intelectual de esquerda aceitar esse debate franco e aberto - dialético –
acerca da real natureza do que se conhece como capitalismo. Para ele, premissas
como "exploração", "egoísmo", "exclusão",
"imperialismo" são artigos de fé (rectius: de má-fé) em toda e
qualquer peroração sobre o assunto. E se o oponente prova cabalmente os
múltiplos erros nos seus teoremas, o intelectual de esquerda recorre ao
argumento ad hominem, também denominado por Ludwig von Mises de polilogismo,
que se resume a colar no interlocutor impertinente a etiqueta odienta de
"capitalista", que o torna inerentemente incapaz de sequer
compreender a "lógica proletária", quanto mais refutá-la.
"AS FORÇAS CEGAS DO
MERCADO" – O mercado é essencialmente um processo através do qual os
fatores de produção (terra, trabalho e capital) são alocados segundo as
demandas mais urgentes dos consumidores, processo esse não controlado e
dirigido por nenhum órgão central. A maior e mais antiga controvérsia da economia,
desde Adam Smith e até mesmo antes dele, tem por objeto a capacidade
auto-reguladora do mercado. Para Smith e Bastiat, von Mises e M. Rothbard, o
mercado é auto-regulável; para Malthus e Sismondi, Marx e Keynes, a economia de
mercado sofre de contradições internas que acarretam sua destruição, exigindo,
pois, a intervenção estatal para corrigir (ou abolir, no caso de Marx) as suas
"falhas". Quem assevera que as forças de mercado são
"cegas" está afirmando que o planejamento estatal é onisciente, ou
menos falível do que o mercado. Nesse ponto temos que aplaudir a coerência dos
socialistas totalitários (comunistas e nazistas), posto que, se o Estado é
capaz de corrigir as falhas do mercado, deve logicamente suprimi-lo por
completo. A posição dos socialistas fabianos (terceira via, keynesianos,
sociais-democratas) nessa questão é frágil, vez que, se o Estado é
intrinsecamente superior ao mercado na organização da economia, porque então
não substituí-lo integralmente?
Por outro lado, se a
intervenção do Estado no domínio econômico também é "cega", a
economia será sempre um processo pelo qual cegos são guiados por cegos. E se
algo pôde ser inferido decerto e conclusivo da calamitosa experiência econômica
do século 20 é que a intervenção estatal é sempre "cega", muito
embora conduzida por políticos, intelectuais e burocratas dotados de enorme
"olho grande". Proponho ao leitor o seguinte teste empírico: a oferta
de pão está em nosso país a cargo do mercado, enquanto a provisão de serviços
de segurança incumbe ao estado. Quem o atende com mais eficiência? Quanto a
mim, não há dúvida. Eu viajei por todo o Brasil e não encontrei lugar em que
não houvesse uma padaria disponível para se adquirir o tradicional pãozinho
para o café da manhã. Por outro lado, sempre que necessitei de auxílio policial
nas diversas ooprtunidades em que fui roubado ou furtado, fiquei frustrado.
Imaginem só se a oferta de pães fosse monopólio estatal afetado a uma
"Pãobrás" qualquer. Provavelmente não haveria pão em lugar nenhum,
como não há em Cuba nem havia nos países comunistas.
"DIREITOS DAS
MINORIAS" – Todo sujeito de direito é uma minoria de um, uma vez que ao
seu direito corresponde o dever geral de não infringi-lo, conforme estabelecido
na breve investigação acima sobre a natureza do Direito. De maneira que a
expressão "direitos das minorias" é vazia. O direito do homossexual é
precisamente o mesmo do heterossexual, como o direito do branco é o mesmo que o
do negro, e assim por diante. A campanha dos "direitos das minorias"
não passa de uma ofensiva da intelligentsia esquerdista contra o Estado de
Direito com o fito de fomentar conflitos artificiais para depois
"resolvê-los" via coerção policial. Não é outra coisa a recente
importação da "affirmative action" (outra expressão melíflua e
contraditória em seus termos) dos Estados Unidos pelo hediondo governo FHC, com
sua infame política de quotas raciais. Isso equivale a institucionalizar o
racismo num dos poucos países do mundo isentos desse problema. Até mesmo as
mulheres, maioria da população, são qualificadas como "minoria", o
que é ridículo.
"CONSCIÊNCIA
CRÍTICA" – O intelectual de "esquerda" ama de paixão a palavra
"crítica", desde que não seja jamais criticado. Para ele, somente
aqueles que foram devidamente doutrinados nas idéias esquerdistas são
indivíduos "conscientes" e "críticos". Ocorre que a
peculiaridade de pessoas que pensam assim é exatamente a completa incapacidade
de raciocinar criticamente, isto é, de pensar por si mesmas, articular
argumentos e formar juízos objetivos e imparciais sobre a realidade. Na melhor
tradição orwelliana, para o intelectual de "esquerda",
"consciente" é o que para gente normal é "lobotomizado", e
"crítico" traduz-se por "acrítico".
"SETORES CONSCIENTES E
ORGANIZADOS" – Essa é clássica. Os intelectuais de "esquerda"
denominam assim os grupos que estão inteiramente doutrinados e arregimentados
por eles. Quem está fora é "alienado" ou "inimigo de
classe".
"ELITES PERVERSAS" –
Para os intelectuais de esquerda as "elites perversas" são sempre os
outros, nunca eles mesmos, não obstante eles constituam evidentemente um grupo
de elite. Reparem no Luis Fernando Veríssimo, por exemplo. Nascido em berço de
ouro, educado nos Estados Unidos, escritor de um best-seller atrás do outro,
prestigioso e regiamente pago colunista de grandes jornais, bajulado
servilmente pela mídia, amigo e guru de políticos influentes e poderosos, ele
costuma passar as férias em Paris. Se Veríssimo não integra a elite brasileira,
a que classe ele pertence então? Mas o insensado escritor de
"esquerda" e seus pares jamais se incluem na fina-flor da sociedade
brasileira, a despeito de contribuirem mais do que ninguém para a formação da
cultura do país, e daí naturalmente para a organização política nacional.
Fala-se muito no "poder
econômico" das "elites", que seriam responsáveis pelo atraso e pela
miséria no Brasil. Ora, e quem tem mais poder econômico nesse país do que o
Estado, que inclusive detém o poder de criar dinheiro? Que indivíduo, que
empresa, que elite se reveste do poder de tributar, de se apropriar de 34% do
que se produz nacionalmente? Quem tem privilégios como estabilidade no emprego,
vencimentos desvinculados da produtividade do trabalho, aposentadoria especial,
remuneração muito acima da média nacional etc. etc. etc.? Ora, que eu saiba são
os funcionários públicos a elite mais rica e poderosa do Brasil. O rendimento
médio mensal de um servidor federal está por volta de R$ 3.355,09; já o
assalariado do setor privado recebe em média R$ 751,60 por mês. Os funcionários
federais aposentados e pensionistas ganharam em média R$ 2.474,37 ao mês; os
aposentados do regime comum do INSS tiveram que se contentar com R$ 324,00
mensais em média. Acontece que a incessante ladainha dos intelectuais de
"esquerda" é justamente atribuir ainda mais poder e mais dinheiro a
essa elite insaciável, da qual a maioria deles faz parte. Isso é que é
"utopia" em causa própria!
A lista acima é meramente
exemplificativa. Cada leitor pode compor a sua própria lista, e, se umas vinte
pessoas o fizessem, poderiam publicar uma enciclopédia de sofismas com uns dez
volumes. O fato é que enquanto a linguagem continuar ideologicamente viciada
como está nada vai mudar nesse país – salvo para pior.
Título e Texto: Alceu Garcia,
maio de 2002; original aqui
Excelente texto para reflexão - resume toda a sociopatologia criminosa em que se funda a (in) governança do século XXIO fato é que os sofistas desde PLATÃO – argumentam:- Sustentado-se no terreno das aparências dos fenômenos, mas, na atualidade juram por ‘Lula’ que tudo o que dizem é verdadeiro mas, paradoxalmente, quando pegos com ‘a boca na botija’ (roubando dinheiro público), negam descaradamente com o chavão do ‘nada sei, nada ouvi, nada vi’, muito utilizado pelos honrados homens da conhecida organização criminosa denominada Máfia;
- Com recursos a falácias, sobrevalorizando, na discussão erística o sucesso imediato (ERÍSTICA - arte de combater com palavras, ou seja, vencer nas discussões utilizada pelos sofistas e pela escola megárica);
- Manipulam muito bem técnicas para enganar, de forma arbitrária, transmitindo nos seus discursos simulacros da realidade, em que alguns ultrapassam o cinismo e apelam para a escatologia;
- Valorizando os elementos passionais e contingentes, em vez de manter as opções morais por PRINCÍPIOS RACIONAIS E ABSOLUTOS.
Hábeis no DUPLO DISCURSO – foram devidamente identificados ainda por ARISTÓTELES – cujo ‘diagnóstico’ não deixa dúvida sobre essa sociopatologia: “proferem discursos opostos sobre as mesmas coisas e o mesmo discurso sobre coisas que são e não são ao mesmo tempo, pondo em causa o próprio princípio de não contradição, e procuram iludir os seus interlocutores através de todo o tipo de expedientes.” (in Metafísica, livro IV - Refutações Sofísticas. p. 16 – conta mais...).
Dessa forma perversa contribuem com ‘eficácia’ para a desagregação ÉTICO-POLÍTICA da comunidade e das instituições, mediante crítica corrosiva dos fundamentos da justiça e até ético-legais, assim como pela conduta e apego ao relativismo, justamente para auto justificar os crimes praticados, admitindo no máximo que cometem simples ‘erros’, passíveis de um singela ‘bronca’.
Na reconfiguração moderna os sofistas atuais aprimoraram a ‘técnica do cinismo’, armados e mal-intencionados com o duplo discurso novilinguístico (George Orwell, 1984), doutrinados e orientados para o poder pelo gramscismo (Antonio Gramsci, militante comunista italiano) e com o relativismo (a) (i) moral utilizam muito bem a “máscara”, inclusive de especialistas e, até de ‘filósofos’, mas sem nenhum compromisso com a verdade – a ‘verdade sobre a realidade’ e, assim continuam os mesmos enganadores de sempre, mas com muito mais perversidade...
Comentário (e grifos): Rivadávia Rosa
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- Com recursos a falácias, sobrevalorizando, na discussão erística o sucesso imediato (ERÍSTICA - arte de combater com palavras, ou seja, vencer nas discussões utilizada pelos sofistas e pela escola megárica);
- Manipulam muito bem técnicas para enganar, de forma arbitrária, transmitindo nos seus discursos simulacros da realidade, em que alguns ultrapassam o cinismo e apelam para a escatologia;
- Valorizando os elementos passionais e contingentes, em vez de manter as opções morais por PRINCÍPIOS RACIONAIS E ABSOLUTOS.
Hábeis no DUPLO DISCURSO – foram devidamente identificados ainda por ARISTÓTELES – cujo ‘diagnóstico’ não deixa dúvida sobre essa sociopatologia: “proferem discursos opostos sobre as mesmas coisas e o mesmo discurso sobre coisas que são e não são ao mesmo tempo, pondo em causa o próprio princípio de não contradição, e procuram iludir os seus interlocutores através de todo o tipo de expedientes.” (in Metafísica, livro IV - Refutações Sofísticas. p. 16 – conta mais...).
Dessa forma perversa contribuem com ‘eficácia’ para a desagregação ÉTICO-POLÍTICA da comunidade e das instituições, mediante crítica corrosiva dos fundamentos da justiça e até ético-legais, assim como pela conduta e apego ao relativismo, justamente para auto justificar os crimes praticados, admitindo no máximo que cometem simples ‘erros’, passíveis de um singela ‘bronca’.
Na reconfiguração moderna os sofistas atuais aprimoraram a ‘técnica do cinismo’, armados e mal-intencionados com o duplo discurso novilinguístico (George Orwell, 1984), doutrinados e orientados para o poder pelo gramscismo (Antonio Gramsci, militante comunista italiano) e com o relativismo (a) (i) moral utilizam muito bem a “máscara”, inclusive de especialistas e, até de ‘filósofos’, mas sem nenhum compromisso com a verdade – a ‘verdade sobre a realidade’ e, assim continuam os mesmos enganadores de sempre, mas com muito mais perversidade...
Comentário (e grifos): Rivadávia Rosa
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