Nivaldo Cordeiro
A leitura do artigo de hoje do Demétrio Magnoli (Os epígonos despedem-se em Iowa) é uma prova de
que mesmo analistas supostamente isentos podem destilar preconceitos sobre os
grupos conservadores surgidos recentemente nos EUA, sob a denominação genérica
de Tea Party. Esses grupos insuflaram vida nova e de fato mudaram a trajetória
do governo, de tal modo que as política esquerdistas foram inutilizadas e a
irresponsabilidade que Barack Obama faria na condução dos negócios públicos foi
devidamente abortada. O controle da Câmara de Deputados na última eleição
legislativa dá o grau de profundidade da ação política desses grupos, que
dispõem de amplo respaldo popular.
Desde o Pós-guerra houve uma sincronia e alinhamento na ação política e
administrativa do Estado norte-americano, em torno do programa da
social-democracia, por ambos os partidos dominantes. A resistência
conservadora, mal alinhada, limitavas a conter as iniciativas de elevação de
impostos. O governo Reagan, lembrado pelo articulista, como de resto os dos Bush,
não mudaram essencialmente o modo de agir quando comparados aos governos dos
presidentes democratas. Os membros do Tea Party, ao contrário, querem mesmo
destruir o consenso social-democrata. Repudiam o Estado grande, desconfiam da
mão do governo e querem que este se circunscreva a suas funções ditas
clássicas. Atualmente é a única força de fato que enfrenta a social-democracia,
com desdobramentos planetários. Afinal, os Tea Party não querem o governo
mundial e execram a redução do poder nacional norte-americano. Em boa hora.
Demétrio Magnoli revelou-se um desses críticos torcedores contra o Tea Party
ao tratar a convenção de Iowa de forma depreciativa e os principais postulantes
a presidente pelo Partido Republicano da mesma forma . A tal ponto que proclamou:
"A primária inicial da campanha republicana assinala o fracasso do
movimento conservador abrigado sob a abóbada do Tea Party". Um grave
equívoco de interpretação e uma inverdade evidente.
Dificilmente quem for consagrado pelas primárias do Partido Republicano
poderá deixar de atender o anseio minarquista dos membros do Tea Party. É isso
que de fato os une, o anseio por reduzir a tributação, as despesas e a
ingerência do Estado na vida das pessoas. E também a preservação dos bons
costumes cristãos, provavelmente a força motivadora dessa aguerrida ala do
partido.
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Mitt Romney |
Os republicanos que comungam do consenso social-democrata estão fora do
jogo, se tomarmos qualquer dos postulantes. Essa é a prova de que agora é o
tempo do triunfo da visão conservadora, ao menos no interior desse partido.
Magnoli revelou-se um grande torcedor-analista ao escrever: "O
insucesso dos radicais na primeira batalha praticamente define os rumos da
campanha inteira. Romney, que prudentemente ficou acima da briga de facas, deve
ser coroado desafiante de Barack Obama nas primárias da Flórida, em menos de um
mês". Pode queimar a língua duplamente, seja porque o governador do
Texas não é hostil ao Tea Party, seja porque é ainda muito cedo para afirmar
que seu nome foi consagrado.
O horizonte político que se abre para os EUA é conservador, de um modo
que já se havia esquecido. A crise permitiu brotar todo o ressentimento contra
o irracionalismo do coletivismo social-democrata, que tomou conta daquele país
também. É o tempo de correção de rumos. A vitória eventual do candidato
republicano contra Obama, qualquer que seja ele, será um divisor de águas. As
política coletivistas serão aposentadas impiedosamente, com severas
repercussões para o resto do mundo. Num cenário assim, pode-se até imaginar o
renascer do conservadorismo no Brasil.
Título e Texto: Nivaldo Cordeiro, 05-01-2012
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