As reformas já eram, os
impostos vão aumentar. Acabou mais uma grande ilusão.
O filme está aí, é de má
qualidade e já não provoca grandes excitações. As tais grandes reformas
estruturais, que muitos consideram urgentes e absolutamente necessárias para o
país ter uma economia saudável, que crie riqueza e postos de trabalho, estão
todas a caminho do enorme caixote do lixo das boas intenções de políticos,
patrões e sindicatos. O Estado está e vai continuar na mesma, com mais ou menos
reformados e mais ou menos cargos dirigentes; na justiça ninguém se atreve a
mexer a sério; o arrendamento é já um fracasso anunciado, com os despejos
enterrados nas secretarias dos tribunais; as leis do trabalho são um jogo
demasiado pornográfico em que os actores principais fazem cenas obscenas,
indignas de serem vistas por crianças e adultos. É por essas e por outras que
já ninguém abre a boca de espanto quando o ministro das Finanças organiza uma
megaconferência sobre as grandes reformas estruturais. Deve ser bonito ver os
mesmos que nunca quiseram reformar coisa alguma juntarem-se todos num enorme
acontecimento, com uma espectacular cobertura mediática e directos para todos
os gostos e inteligências. Deve ser muito bonito ouvir intervenções espantosas
dos maiores crânios da pátria sobre as tais reformas estruturais, as grandes,
as decisivas, as fundamentais, as sete maravilhas que irão transformar Portugal
num país moderno, racional, amigo dos negócios, da iniciativa privada, do
mercado, da concorrência e de tudo o que é preciso para a economia ser uma
realidade positiva e não um pesadelo, e o trabalho ser isso mesmo, trabalho, e
não uma via-sacra para quem pretende criar empregos.
Essa grande conferência
sobre as grandes reformas estruturais é, em si mesma, o sinal mais do que óbvio
de que o governo já desistiu de mexer no enorme caldeirão de interesses
instalados há muitos anos na sociedade portuguesa. Criar um grupo de trabalho,
uma unidade de missão, uma comissão ou algo do género revela sempre uma enorme
incapacidade para alterar seja o que for. Organizar uma enorme conferência
sobre as reformas estruturais é o mesmo que marcar uma missa solene em que
estão presentes os cadáveres de todas as intenções, programas e mesmo propostas
bem-intencionadas sobre os grandes nós górdios deste país que, mais cedo do que
tarde, se arrisca a ir na enxurrada da crise europeia para destino incerto e
pobreza absoluta garantida. Acabada a ilusão reformista, mais uma que nos
embalou durante alguns meses, resta tentar cumprir as metas do défice à conta
de mais austeridade para as pessoas e empresas, isto é, à custa da subida dos
impostos. As trapalhadas com o Orçamento do Estado para este ano e a imensa
confusão lançada com a transferência dos fundos de pensões dos bancos para a
Segurança Social mostram que já nem Vítor Gaspar é o homem certo no lugar certo
para pôr o Estado e as finanças públicas na ordem. No meio desta desgraçada e vil
pobreza, já nem o óbvio é levado a sério. Podem zombar do ministro da Economia,
mas os pastéis de nata e de bacalhau são duas pérolas nesta imensa lixeira
lusitana a céu aberto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-