As críticas à ida de Soares
dos Santos para a Holanda só beneficiam os culpados da triste situação em que
nos encontramos
A sociedade Fernando Soares
dos Santos, detentora da maioria do capital da Jerónimo Martins, decidiu mudar
a sede social para a Holanda. De acordo com Alexandre Soares dos Santos, esta
decisão deveu-se à instabilidade fiscal em Portugal e às boas condições que a
Holanda oferece às empresas. A quem investe, monta um negócio e cria postos de
trabalho. Algo a que, descobrimos nos últimos dias, a Holanda dá imenso valor.
Algo que, atentas as críticas de tantos comentadores e os boicotes tentados ao
Pingo Doce, me leva a concluir que não prezamos muito.
Nos últimos 25 anos, o Estado
português sobreviveu à custa de um aumento gradual dos impostos e de um
endividamento ao exterior que, para ser pago, nos levou às medidas de
austeridade que conhecemos. Foram muitos os avisos de que, quanto mais o Estado
exige a quem trabalha, menor é a vontade de trabalhar. É a velha máxima de
quanto maior a tributação, menor a competitividade. Infelizmente, nenhum
governante se preocupou com esta situação ou alterou a forma como geria os
interesses do país. Porquê? Porque acreditavam no que faziam. Melhor: porque
faziam aquilo em que queriam acreditar. Porque queriam que o Estado fosse o
motor da economia e que, quanto mais este investisse e regulasse a actividade
económica, melhor. Melhor para o país, já vimos que não. Mas melhor para o
conceito de vida política que impregna os nossos governantes. Que os convence
do direito de, conquistado o poder político, terem acesso ao poder económico.
Distribuir benesses, repartir favores. Serem influentes, não à custa do que
conseguiram com o trabalho, mas do dinheiro que cobram aos cidadãos.
O ruído à volta da decisão de
Alexandre Soares dos Santos tem sido muito aproveitado pelos políticos de
esquerda. Depois de tanta asneira cometida que nos obriga a passar pelas
dificuldades que conhecemos hoje, não há nada como atirar poeira para cima dos
outros. E é aqui que precisamos de ter cuidado. Que devemos parar, escutar e
olhar com atenção para o que se passa. Para o porquê das coisas. A crítica à
mudança da sede de uma sociedade, perfeitamente legal e que já aceitaríamos de
bom grado se nos beneficiasse, é irracional e susceptível de ser conduzida por
interesses que não nos dizem respeito. Por motivos que apenas interessam a quem
tanto nos prejudicou nos últimos anos. Vivemos tempos difíceis com o
desemprego, os salários em atraso e as poupanças a serem destruídas. Tempos que
vão agudizar ódios e ressentimentos, sentimentos propícios a discursos
oportunistas e demagógicos. Próprios de quem instiga a inveja e a animosidade
como forma de justificar o seu discurso ultrapassado e estatizante.
Os políticos que criticam
Soares dos Santos são os que andaram de mãos dadas com empresários, orgulhosos
por os terem a investir em Portugal. São os que criticam a escolha de Catroga
para a EDP, mas esquecem que a única forma de isso não acontecer é o Estado
sair por completo das empresas. Agora que a forma de cativar investimento é
reduzindo o poder do Estado, estes políticos estão assustados. Assustam-se
porque receiam perder influência sobre os escolhidos. Porque a alternativa que
sugerem, de impedir decisões como as da deslocação da sede de uma sociedade
para o estrangeiro, implica o estabelecimento de um Estado policial em que tudo
é proibido, desde que não seja em prol do Estado. Do poder político, mascarado
de patriotismo. Ou já nos esquecemos de como nasce o nacionalismo bacoco?
Assim, antes de reagirmos a quente, precisamos de pensar muito bem nos motivos
de quem nos atira poeira para os olhos. Porque o fazem e com que objectivos.
Temos de ser mais cuidadosos na análise da informação que nos chega. Na
verdade, além de pagarmos impostos, também servimos para pensar.
Título e Texto: André Abrantes Amaral, Advogado, jornal
“i”, 14-01-2012
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