Quando perguntaram a Joseph
Stiglitz o que pensava das mudanças à lei laboral em Portugal, o nobel da
Economia respondeu que sim, que eram positivas, que era óptimo haver acordo
entre parceiros sociais mas que a verdadeira questão é se o euro se vai manter.
A resposta devolve-nos à escala dos nossos conflitos. É a Grécia, é sempre a
Grécia. E somos nós. Vamos inventar uma crise política a esta hora?
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Imagem retirada daqui |
A Grécia está a ser largada no
corredor da morte. A missão de salvá-la é quase impossível, tamanha é a sua dívida,
tão fraca é a estabilidade política, tão esparsa é a possibilidade social de
implementar as medidas danadas exigidas pelos credores. Quase metade da dívida
grega é já hoje europeia (emprestada pelo Banco Central
Europeu e pelo Fundo de Estabilização). Na outra parte, pede-se um
perdão de 68%.
A dissimulação já não existe:
os líderes dos maiores países europeus e das institu-ições comunitárias já não
fazem juramentos de bandeira azul e branca. A tese dominante parece ser a
seguinte: a Grécia vai sair mas não pode sair já, descontroladamente, pois
seria o caos; é preciso ganhar tempo para criar "firewalls", cortinas
que internem a Grécia sem perigo de contágio; e depois deixam-se os gregos à
desventura de uma falência do estilo da Argentina, extirpando o
problema da Europa.
A tese tem um problema:
ninguém sabe se vai funcionar. As "firewalls" passam pela receita de
sempre - compromisso político, mais federalismo, reforço dos fundos europeus e
activação do BCE - mas é impossível prever se a quarentena da
Grécia não inocula o vírus. Mesmo que o Banco Central Europeu já esteja,
indirectamente, a injectar vastas quantidades de liquidez (através dos
empréstimos a três anos a taxas de 1%), a corda que nos sustém é fina. E são
mais os que dizem que não é possível separar o contágio da Grécia do que os que
crêem no contrário.
Agora segure-se bem: há "hedge funds" norte-americanos que, por causa
da dívida, admitem processar a Grécia no Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos. Sim, os "hedge funds", uma forma selvagem de
investimento institucional, alegam violação de Direitos Humanos... Este exemplo
mostra a ridícula submissão a que a Europa chegou face aos mercados
financeiros. É como abutres processarem as carcaças de animais mortos por já
não estarem frescas.
Este cenário de catástrofe
possível na Europa não pode paralisar Portugal. Estamos, como tem sido dito, a
fazer a nossa parte na base do melhor cenário europeu, cujo desfecho não
controlamos e quase não influenciamos. O nosso novo ministro das Finanças já
cita o mesmo "Monstrengo", de Pessoa, que o antigo ministro das
Finanças citava, o que significa que já se sente isolado e missionário. Por
tudo isto, este acordo para a reforma das leis laborais é um activo precioso,
que deve ajudar à percepção externa de que Portugal está mais para o bom lado
irlandês do que para o mau lado grego.
A união entre a UGT e a CGTP desfez-se. A união
dentro do PS está em risco do mesmo. António José Seguro não tem o partido a
seus pés e CarlosZorrinho não tem a bancada parlamentar nas mãos. Há um grupo de
dissidentes, que são socratistas, que querem divorciar-se de um novo acordo com
o Governo, quando ele for solicitado, o que há-de acontecer para novas medidas
de austeridade. Se o PS sai do caldo, ele entorna-se. Cavaco Silva sabe-o.
E nós também. Não é altura de uma crise política. Olhai a Grécia, minha gente,
olhai a Grécia...
Título e Texto: Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios, 20-01-2012
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