As empresas públicas não sabem o que é a crise e
continuam no carnaval despesista
![]() |
Reuters |
António Ribeiro Ferreira
Os números do desemprego são
horríveis. Não há volta a dar. As previsões do governo vão ser obviamente
ultrapassadas e de nada servem palavras piedosas e mais previsões fantasiosas
sobre a possibilidade da tendência se inverter no segundo semestre de 2012. E o
desemprego dos jovens, que em Portugal já ultrapassa os 35 %, não vai ser
resolvido por uma comissão muito especial liderada pelo ministro Miguel Relvas
com doze estimáveis secretários de Estado. Para já não falar das brigadas
enviadas por Bruxelas para estudar o assunto.
Como dizia o outro, é a
economia, estúpidos, que não cria empregos. Não é o Estado e os seus sempre
admiráveis investimentos públicos que criam emprego e não são obviamente os
ministros e os governos que conseguem ultrapassar a situação com políticas voluntariosas,
remendos eleitoralistas, falsos estágios e muitos cursos de formação
profissional para melhorar as estatísticas. Só o crescimento económico cria
emprego. E para haver crescimento económico é preciso investimento privado, E
para haver investimento privado é preciso que os estados e os governos criem as
consições para atrair os investidores privados. Sem isso nada feito. Sem isso,
como acontece em Portugal, não há investimento, não há economia, as exportações
são uma miséria e a economia vive falsamente do consumo privado e público. Para
haver investimento privado e a economia ser competitiva é preciso que o regime
fiscal não seja brutal, que a burocracia e a corrupção não matem qualquer
projecto à partida, que a legislação laboral não seja rígida e impeditiva de as
empresas se adaptarem aos mercados e que a justiça seja eficaz nos tribunais
cíveis, do comércio e do trabalho.
Evidentemente que Portugal é
tudo menos um país recomendável para o investimento, a não ser que venha pela
mão amiga do Estado e de quem está no poder, com muitos benefícios fiscais e
facilidades burocráticas que não estão ao alcance do investidor normal. Este
governo, empurrado pela troika, prometeu reformas de fundo no Estado, com o
objectivo supremo de o reduzir para níveis aceitáveis e baixar, dessa maneira,
as suas necessidades de financiamento, isto é, de impostos e dívida pública.
Pois bem. Olha-se para o conjunto destes oito meses de governo e a desilusão
não pode ser maior. Olha-se para as empresas públicas e não se acredita no que
se passa. Aumentam brutalmente os prejuízos e não cumprem os cortes estipulados
pelo governo. O monstro e os seus filhotes não sabem o que é a crise e muito
menos o desemprego. Continuam imunes a todas as medidas de contenção orçamental
e os responsáveis políticos não conseguem pôr ninguém na ordem.
E se isto se passa no buraco
empresarial do Estado, vai ser bonito ver o monstro boicotar a lei que impede
os serviços públicos de assumirem compromissos financeiros sem terem a garantia
de pagamento a tempo e horas. Portugal, dizem uns, não é a Grécia. Os
indignados, pelo contrário, acham que devemos ser gregos. Têm toda a razão. Um
país como este não merece estar no euro. Um país como este está condenado. E
bem condenado.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 20-02-2012
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-