segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Não há economia que resista a este Estado irresponsável

As empresas públicas não sabem o que é a crise e continuam no carnaval despesista

Reuters
António Ribeiro Ferreira
Os números do desemprego são horríveis. Não há volta a dar. As previsões do governo vão ser obviamente ultrapassadas e de nada servem palavras piedosas e mais previsões fantasiosas sobre a possibilidade da tendência se inverter no segundo semestre de 2012. E o desemprego dos jovens, que em Portugal já ultrapassa os 35 %, não vai ser resolvido por uma comissão muito especial liderada pelo ministro Miguel Relvas com doze estimáveis secretários de Estado. Para já não falar das brigadas enviadas por Bruxelas para estudar o assunto.
Como dizia o outro, é a economia, estúpidos, que não cria empregos. Não é o Estado e os seus sempre admiráveis investimentos públicos que criam emprego e não são obviamente os ministros e os governos que conseguem ultrapassar a situação com políticas voluntariosas, remendos eleitoralistas, falsos estágios e muitos cursos de formação profissional para melhorar as estatísticas. Só o crescimento económico cria emprego. E para haver crescimento económico é preciso investimento privado, E para haver investimento privado é preciso que os estados e os governos criem as consições para atrair os investidores privados. Sem isso nada feito. Sem isso, como acontece em Portugal, não há investimento, não há economia, as exportações são uma miséria e a economia vive falsamente do consumo privado e público. Para haver investimento privado e a economia ser competitiva é preciso que o regime fiscal não seja brutal, que a burocracia e a corrupção não matem qualquer projecto à partida, que a legislação laboral não seja rígida e impeditiva de as empresas se adaptarem aos mercados e que a justiça seja eficaz nos tribunais cíveis, do comércio e do trabalho.

Evidentemente que Portugal é tudo menos um país recomendável para o investimento, a não ser que venha pela mão amiga do Estado e de quem está no poder, com muitos benefícios fiscais e facilidades burocráticas que não estão ao alcance do investidor normal. Este governo, empurrado pela troika, prometeu reformas de fundo no Estado, com o objectivo supremo de o reduzir para níveis aceitáveis e baixar, dessa maneira, as suas necessidades de financiamento, isto é, de impostos e dívida pública. Pois bem. Olha-se para o conjunto destes oito meses de governo e a desilusão não pode ser maior. Olha-se para as empresas públicas e não se acredita no que se passa. Aumentam brutalmente os prejuízos e não cumprem os cortes estipulados pelo governo. O monstro e os seus filhotes não sabem o que é a crise e muito menos o desemprego. Continuam imunes a todas as medidas de contenção orçamental e os responsáveis políticos não conseguem pôr ninguém na ordem.
E se isto se passa no buraco empresarial do Estado, vai ser bonito ver o monstro boicotar a lei que impede os serviços públicos de assumirem compromissos financeiros sem terem a garantia de pagamento a tempo e horas. Portugal, dizem uns, não é a Grécia. Os indignados, pelo contrário, acham que devemos ser gregos. Têm toda a razão. Um país como este não merece estar no euro. Um país como este está condenado. E bem condenado.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 20-02-2012

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