Sacaram dinheiro para negócios
de casino e andam sempre com a pátria na boca
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Foto: Leandro AC |
António Ribeiro Ferreira
O Inferno, e Portugal, está
cheio de gente bem intencionada cheia de ideias perfeitas na cabecinha. Do mal
o menos. O pior é o resto, e neste país com 37 anos de democracia o resto é
sempre um bico de obra difícil de ultrapassar. Já não vale a pena falar das
famosíssimas e muito antigas reformas estruturais que andam sempre de boca em
boca, de sociais-democratas para socialistas e de socialistas para
sociais-democratas, com os populares no meio a apoiar umas e outras.
Já não vale a pena falar da
reforma do sistema político, objecto de muitas propostas, muitos consensos,
muitos estudos e imensos diagnósticos, que está na agenda dos dois principais
partidos há pelo menos 13 anos. Na hora da verdade, da decisão, a porca torce
sempre o rabo e os argumentos já são conhecidos previamente.
A nova divisão de círculos
eleitorais e os esperados círculos uninominais ora favorecem o PSD ora o PS e
portanto o melhor é deixar tudo como está. Importa, evidentemente, registar que
esta famosa reforma nunca irá para a frente pela simples razão de os aparelhos
partidários, velhos, desgastados, corruptos, clientelares, fechados, máquinas
de emprego público e de muita cacicagem, não quererem assinar a sua sentença de
morte. Obviamente. E já não vale a pena falar na célebre reforma da justiça,
que merece honras, de quando em vez, de uns estrondosos pactos entre os dois
pilares da democracia, com juras solenes e muitos apertos de mão que resultaram
sempre em mexidas cirúrgicas nos códigos e diplomas para proteger os amigos das
tímidas investidas do atarantado e tantas vezes submisso Ministério Público.
É por isso que vale a pena
falar do desabafo do primeiro-ministro no último debate quinzenal no
parlamento. Passos Coelho falou na economia privilegiada, que protegeu alguns
grupos económicos e não democratizou o acesso à economia. As palavras do chefe
do governo não mereceram um debate por aí além, melhor dizendo, ninguém falou
no assunto e percebe-se bem porquê. O Partido Socialista não está interessado
em promover nenhuma comissão de inquérito parlamentar sobre os negócios
patrocinados pelos governos de Sócrates, que favoreceram grupos económicos
determinados, e muito menos quer tocar na forma como a Caixa Geral de Depósitos
decidiu o destino de muitos milhões que deviam, obviamente, estar disponíveis
para quem produz, para quem exporta e não para jogadores de casino que fizeram
fortunas à sombra do Estado e dos poderes políticos democráticos. E se os
justiceiros do costume também não gostam de entrar por esses caminhos obscuros
que têm origem na presença perversa do Estado na economia, é bom que sejam o
governo e Passos Coelho a tentar desmontar o polvo que continua vivo e de
razoável saúde no mundo dos negócios. É natural que o primeiro-ministro
encontre resistências enormes no interior do seu próprio partido, que seja
metido em muitas armadilhas, mas já é um sinal positivo ver que a CGD não deu
ouvidos ao empresário Manuel Fino, que invocou o interesse nacional para não
pagar os milhões que deve e ainda ficar com 9,6% da Cimpor. É um bom sinal. Mas
uma andorinha, como se sabe, não faz a Primavera. E o que não falta por aí são
passarões.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 21-02-2012
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