Nuno Rogeiro
Já vimos isto. Quando dá jeito, tiram-se do
armário a bandeira nacional, os desfiles, os “oitocentos anos” de história e os
egrégios avós. Pede-se à massa que marche contra os canhões (antes os ingleses
do hino, agora os alemães da sina), fala-se do “orgulho nacional” e os mais
românticos trovejam alguns poemas.
O patrioteirismo de ocasião, sazonal, oportunista
é uma espécie de versão política dos condutores de domingo, ou de tradução “ideológica”
dos treinadores de bancada.
A “crise europeia” é uma ótima oportunidade para
esta espécie, assim como as estradas portuguesas se enchem de trânsito em direção
ao mar, sempre que o sol desponta das nuvens frias, e é fim-de-semana, ou o
carnaval do costume.
Alguns pais da Pátria, entre a tomada de fôlego
para cada trombetada verde-rubra, deviam explicar o que andaram a fazer até
aqui. Quando a dita foi sendo vendida a retalho aos imperialismos, aos fundos
estrangeiros, aos agiotas que nos sobrevoaram nas últimas décadas, os
patriarcas indignados de hoje não só não protestaram, como conduziram o leilão.
A venda em hasta privada (e sem concurso) de Portugal, rumo a um “casino
monstro e um bordel europeu”, radioso destino previsto por Junqueiro,
consumou-se tantas vezes pelas mão dos hoje patriotas de altar e terço
(profanos), que é difícil resumir-lhe a conta, num texto pequeno.
Destruíram a indústria em nome dos serviços,
trocaram a agricultura pelos subsídios, a pesca pelas barracas de praia, a
investigação científica pela celebridade mediática, o rigor universitário e o
ensino pela “sensibilidade”, a criação pela imitação, o trabalho pelo emprego,
a produção pela importação, a qualidade pelas quantidades, as ideias pela
propaganda, a justiça social pela lei do mais forte, a meritocracia pela
partidocracia.
Encheram o Estado de contingentes de servos e
clientes, agravaram os fossos entre naturais e imigrantes, ricos e pobres,
jovens e idosos, interior e litoral, cidade e campo. Infiltraram o serviço
público com facções e obediências feudais, prometeram tudo a todos (em
campanha), gastaram o que não tinham, e sobretudo gastaram demasiado sem
proveito social durável, nem reprodução equitativa da riqueza.
Os patrioteiros que hoje dizem rasgar as vestes
pela Grécia e que prometem solidariedade a todos os explorados do mundo,
aceitaram todas as humilhações, afrontas à independência e limitações à
soberania popular.
Muito simplesmente, colocaram-nos onde estamos:
entre a miséria e a catástrofe. Quando julgaram certo, “socializaram” sem tino
nem moral. Perante a falência do “socialismo”, abriram as portas ao capital
mais ganancioso. Acumularam uma pesada herança de dívidas e compromissos,
celebrados por conveniência eleitoral e cegueira técnica.
Os patrioteiros tardios são os pais e os
antepassados da crise. Ganhavam em não espeernaear tanto e em passar
despercebidos.
Título e Texto: Nuno Rogeiro, “Sábado”, nº 408, de
23 a 29-02-2012
Digitação e Edição: JP
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Mário Soares, foto: Valter Campanato/ABr, fevereiro de 2003 |
Mário Soares (da Wikipédia)
A 28 de Abril
de 1974, depois da Revolução de 25 de Abril, desembarcou em
Lisboa, vindo do exílio em Paris no chamado «Comboio da Liberdade». Foi recebido, entre
uma multidão de portugueses.[2]
Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de Álvaro
Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços
dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa
Pombalina e a avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou
conhecido como PREC
foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas
eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.
Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de
1974 a Março de 1975, e um dos
impulsionadores da independência das colónias portuguesas, tendo sido responsável
por parte desse processo.
A partir de Março de 1977 colaborou no
processo de adesão de Portugal à CEE, vindo a subscrever, como Primeiro-Ministro,
o Tratado de Adesão, em 12 de Julho de 1985.
Foi primeiro-ministro de
Portugal nos seguintes períodos:
I Governo Constitucional entre
1976 e 1977;
IX Governo Constitucional
entre 1983 e 1985.
Presidente da República entre 1986 e 1996 (1º mandato de 10
de Março de 1986 a
1991, 2º mandato de 13 de Janeiro de 1991 a 9 de Março de 1996).
Deputado ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2004. Foi candidato a
presidente do parlamento, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, a quem não
teve problema em chamar «dona de casa» (no sentido pejorativo do termo).
Fundador da Fundação Mário Soares - 1991.
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