Rodrigo Constantino
Aproveitando o clima de
carnaval, que coloca a Cidade Maravilhosa em evidência mundial, e também a
quebra de mais um tabu ideológico dos petistas, gostaria de lançar aqui a
campanha pela privatização do Galeão. Por que Garulhos, Brasília e Campinas, e
não o nosso "querido" Galeão, por onde circulam quase 15 milhões de
passageiros por ano? Com a expansão da classe média, turbinada pelo crescimento
chinês e regada a crédito, a quantidade de passageiros que usam o Galeão
cresceu 11% ao ano nos últimos cinco anos. A gestão da Infraero não foi capaz
de acompanhar este ritmo. Qualquer viajante que precisa utilizar o Galeão com
frequência sabe o martírio que é enfrentar tal desafio.
A privatização de aeroportos
não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o
processo em 1987. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México, Malásia e
Tailândia foram países que seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que
experimentaram expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos também
existem vários aeroportos privados.
Não é difícil compreender por
que a gestão estatal acaba sendo ineficiente. O governo não é bom empresário,
pois lhe faltam os mecanismos adequados de incentivo. A burocracia estatal
busca a rotina, não a inovação. O uso de recursos da "viúva" faz com
que não exista preocupação com a rentabilidade do negócio. Logo, satisfazer o
cliente não é um foco relevante. A estabilidade dos empregados faz com que
fique impossível punir a ineficiência e premiar a competência com base na
meritocracia, típica do setor privado.
Nas estatais, os interesses
políticos sobrepujam os interesses econômicos, fundamentais para se prestar
bons serviços. Qualquer cidadão acostumado com a visita rotineira às
repartições públicas sabe bem do que estou falando. Para piorar as coisas, no
Brasil é crime o "desacato a funcionário público", com pena de até
dois anos de detenção ou multa. Como desacato é algo um tanto arbitrário, se o
cliente elevar o tom da voz já pode ser enquadrado na lei. Todo cuidado é
pouco, viajante!
O ranço ideológico,
especialmente do PT, sempre foi uma enorme barreira contra a privatização. O
setor privado era visto com enorme desconfiança, o lucro era obra de algum
pacto mefistofélico, e os interesses nacionais eram confundidos com a
necessidade de controle estatal. Foi com esta mentalidade retrógrada que o
governo brasileiro resolveu atuar como empresário em diversos setores.
Após décadas de serviços
ruins, bilhões em prejuízos, muita corrupção e atraso tecnológico, teve início
a era da desestatização. Justiça seja feita, os tucanos partiram para este
caminho a contragosto, por necessidade e não por convicção (como faz falta um
partido realmente liberal no Brasil). Tanto que nunca souberam defender
abertamente o sucesso das privatizações. Quem esqueceu a cena patética de
Alckmin em 2006 posando de outdoor ambulante das estatais, para negar a
"acusação" de privatista?
O PT sempre fez de tudo para
impedir esta etapa crucial para o progresso do país. Se dependesse dos
petistas, a Embraer ainda faria sucatas voadoras, as ferrovias estariam
abandonadas, a Telebrás estaria na era analógica e a Vale jamais seria o ícone
de excelência que é hoje. Em toda eleição o partido apelava para o
"terrorismo" ideológico, alegando que os adversários iriam cometer
este terrível pecado que é a privatização.
Nada como o pragmatismo do
poder. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas chegando, e a falta de recursos para
investimentos (não sobra muito depois de tantos gastos assistencialistas e com
pessoal), eis que o próprio PT resolveu privatizar aeroportos! Está certo que
houve grande atraso por culpa do ex-presidente Lula. Está certo também que o
modelo escolhido foi repleto de falhas, dependeu do BNDES (sempre ele) para
garantir financiamento, e foi realizado às pressas.
Ainda assim, antes tarde do
que nunca. Mesmo com a forte presença dos fundos de pensão nos grupos
vencedores, o fato é que R$ 25 bilhões serão arrecadados pelo governo, e a
gestão sairá da Infraero. Quanto valeria o Galeão em um leilão programado com
calma, sob forte concorrência internacional?
Aproveitemos que o Brasil está
na moda e que os investidores do mundo todo estão desesperados em busca de
oportunidades. Nós nem nos importamos com a discussão semântica se é
privatização ou não, desde que a gestão fique com a iniciativa privada, em
busca de lucros. É a melhor garantia que os usuários têm para melhorias do
serviço. Até porque pior do que está não fica!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, 21-02-2012
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