João Bosco Leal
Como já estou perto de
adquirir uma nova maioridade, agora após minha idade ter adquirido a terminação
“enta”, normalmente me surpreendo em busca de meus óculos de leitura, aqueles
“para perto”, que já não é encontrado em decorrência de uma simples alteração
do local tradicional de colocação, sobre um móvel.
Como já não consigo ler ou
enxergar os detalhes de praticamente mais nada sem eles, muitas vezes me
irritava com esses sinais da idade. Durante uma leitura realizada recentemente,
fui novamente levado a pensar sobre a sabedoria da natureza. O texto falava sobre
o significado simbólico dessas alterações, que seria a natureza dizendo para
darmos menos atenção às pequenas coisas e desenvolvermos uma visão mais global,
enxergarmos a floresta e não a árvore.
Ao tentar procurá-los, percebo
que o simples ato de me levantar e sair andando já não é mais possível, pois
nesse momento surgem as incômodas dores de um corpo já enferrujado, que para
cada mudança de posição necessita de um tempo, um alongamento, para depois ser
iniciada a caminhada.
Estes sinais aparecem juntamente
com as mudanças de nossos comportamentos, quando passamos a não realizar mais
nada com a pressa que tínhamos na juventude, pois percebemos ser até irracional
a mudança de velocidade de nosso veículo de 100 para 140 quilômetros por hora e
questionamos qual a importância de chegarmos ao destino em um tempo quarenta
por cento menor do que seria executado na velocidade anterior, que valha a pena
o aumento tão significativo dos riscos.
Domingo passado acordei
tranquilamente, sem nenhuma pressa, pois como dizem é o dia da preguiça. Tomei
meu banho, o café e já havia passado das oito horas quando sai em busca de
jornais. É o dia em que, na cidade onde resido, ocorre a distribuição gratuita
de vários jornais, entregues na principal avenida, esquina com a mais
tradicional rua do comércio e para lá me dirigi.
Interessante que, chegando ao
local, não havia as comuns filas dos carros para receber os jornais e sequer os
entregadores dos mesmos. O que teria acontecido? Como ocorrera uma mudança e
das ilhas centrais da avenida foram retiradas as vagas de estacionamento – onde
estacionavam os veículos que serviam de depósito dos jornais a serem
distribuídos-, pensei na possibilidade de haverem mudado de local e virei à
direita, na rua do comércio.
Estranhamente notei a rua
muito movimentada para um dia de domingo, com muitos veículos nas várias pistas
e muita gente andando pelas calçadas. Transitando lentamente, percebi que todas
as lojas estavam abertas e comecei a me questionar se estávamos na véspera de
algum feriado que explicasse aquilo. Não me recordei de nada e, chegando à
próxima esquina, sem nenhum sinal dos jornais sendo distribuídos, o sinal
fechou.
Com o veículo parado olhava
curioso para todos os lados e não estava entendendo aquele comércio tão movimentado
num domingo. Seria véspera de algum feriado, ou já era segunda-feira e eu me
enganara? Será que dormi tanto assim que nem sequer vi passar o domingo? O que
estava ocorrendo?
Percebendo ao lado um casal
com os vidros do carro abertos, perguntei: hoje não é domingo? O senhor
respondeu que não e eu então, para confirmação de minhas suspeitas perguntei
novamente: é segunda-feira? Parecendo incrédulo, ele olhou para a senhora que o
acompanhava e respondeu: é sábado, como que perguntando se eu estava vindo de
outro planeta ou algo assim, não sabendo quando nem onde havia caído.
Pensei, é…, todos os sinais da
idade mais avançada realmente já haviam aparecido. Mas depois até me diverti
com o ocorrido, pois quem é que já não ficou assim, um pouco perdido?
Aquele que não se envergonha
de seu passado, e se orgulha das sementes plantadas, aceita de bom humor as
mudanças físicas e mentais que ocorrem com o tempo.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal
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