João Bosco Leal
Lendo um discurso intitulado
“Fizemos algo errado“, realizado por Oscar Arias, Presidente da Costa Rica,
durante reunião da Cúpula da Américas ocorrida em Trinidad e Tobago em abril de
2008, fiquei surpreso com muitos dados que até então me eram desconhecidos e
com a crítica espetacularmente realista e construtiva que ele fez a todos os
países latino-americanos.
Em primeiro lugar o presidente
chama a atenção de todos os outros presidentes dos países da América Latina e
Caribe ali presentes, sobre o fato de sempre se dirigirem aos Estados Unidos da
América para pedir-lhes coisas, reclamar de algo ou culpá-los por todos os
problemas, passados, presentes e futuros da região.
Oscar Arias passou então a
lembrá-los que a América Latina possuiu universidades antes do que os Estados
Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras
universidades desse país e que, até 1750, os países do continente americano
eram praticamente iguais: todos eram pobres.
Lembrou ainda que, com o
surgimento da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, diversos países como
Austrália, Canadá, Estados Unidos, França e Nova Zelândia seguiram por esse
caminho, enquanto os países da América Latina não se deram conta da chance que
passava, e perderam a oportunidade de iniciar nessa nova etapa juntamente com
os outros.
Que comparando historicamente
nossos países com os Estados Unidos, por aqui não surgiu nenhum português ou
espanhol que, como John Winthrop com uma Bíblia em sua mão, sugerisse a criação
de uma Cidade sobre uma Colina, que brilhasse, como fizeram os peregrinos
evangélicos que chegaram aos Estados Unidos e que, há apenas 50 anos, o México
era mais rico que Portugal, o Brasil possuía uma renda per capita maior que o
da Coréia do Sul e a de Honduras era maior que a de Cingapura, que hoje
apresenta uma renda anual de US$ 40.000 por habitante.
Em 1950 cada cidadão americano
era quatro vezes mais rico que um latino-americano e hoje ele já é 10-15 vezes
mais rico que os latinos e isso não por culpa dos Americanos, mas exclusivamente
nossa, por diversas políticas errôneas e equivocadas adotadas durante décadas e
até séculos, como o fato de, enquanto os países ricos destinam US$ 100 milhões
para aliviar a pobreza de 80% da população mundial, os países latino-americanos
destinam US$ 50 milhões em armas e soldados.
Quem seria nosso inimigo senão
a falta de educação, o analfabetismo, os gastos mínimos com a saúde pública, a
não implantação da infraestrutura necessária, os caminhos, estradas, portos e
aeroportos, as comunicações, os raríssimos investimentos na implantação de
novas hidrelétricas ou na geração de novas fontes de energia, sem a qual não
haverá progresso e o baixíssimo nível da educação existente em nossos países –
onde de cada 10 alunos que iniciam o nível secundário só um o conclui – e que
mantém as universidades como as dos anos 60, 70 ou 80.
Enquanto continuamos
discutindo sobre todos os “ismos”, capitalismo, socialismo, comunismo,
liberalismo, neoliberalismo, social-cristianismo – ideologias que já devíamos
ter enterrado há muito tempo -, os países asiáticos encontraram o “ismo” mais
realista e apropriado para o final do século XX e para o XXI, o “pragmatismo”,
pois quando se deu conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de
uma maneira muito acelerada, Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul,
e ao regressar a Pequim disse aos velhos camaradas maoistas: “Bem, a verdade,
queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o
que me interessa é que cace ratos” e “a verdade é que enriquecer é glorioso”. E
desde 1979 a economia chinesa cresce sempre acima de 11% ao ano e tirou 300
milhões de habitantes da pobreza.
Recentemente, o economista
Gabriel Palma, da Universidade de Cambridge, chamou a atenção para o processo
de desindustrialização vivenciado pelo Brasil. Ele lembra que “em 1980 o parque
industrial brasileiro era maior que o da China, Coréia do Sul, Tailândia e
Malásia somados, mas que em 2010, a indústria brasileira representou menos de
15% do que esses países somados produziram”, concluindo que “construir o que
nós construímos, e depois destruir, em tão pouco tempo, é um ato de vandalismo
econômico sem igual”.
Não culpe ninguém por seus fracassos, pois cada um é responsável por
suas escolhas e arcará com as devidas consequências, mas quando as opções são
realizadas por governantes, quem paga é a população.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural
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