Reduzir o défice e o Estado é
possível. O pior é mudar as mentalidades da gentinha
António Ribeiro Ferreira
Dois exemplos da maneira de
estar e pensar de muitos responsáveis pela desgraça deste país. O director do
Instituto Superior Técnico, uma instituição de grande prestígio e qualidade em
Portugal e no mundo, que não se compara com as muitas chafaricas montadas no
ensino superior nos últimos anos, veio alertar a opinião pública para o risco
de ter de suspender por tempo indeterminado grande parte da actividade
científica. Num país de muitas queixas e queixumes, podia pensar- -se que o
problema do IST resultava de cortes orçamentais ou reduções forçadas no pessoal
docente, especialmente o afecto à investigação. Nada disso.
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Instituto Superior Técnico, foto: DR |
O problema do Técnico, segundo
o seu director, deve-se às restrições do decreto-lei de execução orçamental em
que os organismos abrangidos pelo Orçamento do Estado estão proibidos de
assumir compromissos sem que para tal exista disponibilidade financeira. O
diploma de Vítor Gaspar impede mesmo os organismos e os serviços públicos de
fazerem despesas com base em meras expectativas de receitas. Isto é, só com
dinheiro garantido para se pagar aos fornecedores sem os atrasos do costume são
permitidas as despesas. E quem violar a lei pode ser punido civil e
criminalmente, além de os serviços incumpridores serem fortemente penalizados
nas transferências previstas no Orçamento do Estado. Ora bem, um diploma que
para o cidadão comum revela bom senso e visa pôr cobro à desbunda do Estado,
que compra acima das suas possibilidades financeiras e acumula calotes sobre
calotes a empresas privadas, pondo em risco a sua sobrevivência e os postos de
trabalho de muita gente, é visto pelo IST como um entrave à investigação científica.
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Eurodeputado Nuno Melo, foto: Leonardo Negrão |
Num outro universo, o
eurodeputado Nuno Melo está possesso por a União Europeia ter aberto as portas
aos têxteis e ao vestuário do Paquistão. O centrista, que conhece muito bem a
indústria nacional, quer que a Comissão Europeia e o Conselho Europeu repensem
rapidamente esta decisão. Nuno Melo diz que será letal para muitas empresas e
postos de trabalho. Porque terão de concorrer com empresas que recorrem ao
trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais e utilizam
matérias-primas proibidas na Europa. Uma desgraça, portanto, esta concorrência
de países que não cumprem com os dogmas e a bíblia europeia, que não respeitam
tanta regra estúpida imposta pela eurocracia europeia, sempre baseadas no
politicamente correcto e nunca na realidade de cada país. Ainda por cima, é
justo dizer-se, este discurso catastrofista e passadista já foi há muito
ultrapassado pelos industriais do sector. Hoje as empresas têxteis exportadoras
já não apostam nos produtos baratos, sem valor acrescentado. Pelo contrário.
Vendem bom e caro para mercados exigentes e com poder de compra, porque o tempo
da mão-de-obra barata e das fábricas de vão de escada já passou.
Mas estes dois exemplos
mostram bem como é difícil mudar o país. As mentalidades estão formatadas para
modelos de vida em sociedade caracterizados por uma grande irresponsabilidade e
por um proteccionismo salazarento que ninguém quer erradicar deste desgraçado
país.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 16-02-2012
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