“Desorganizai tudo que existe de bom nos país inimigo. Tentai envolver
as mais altas esferas dirigentes, em empreendimentos criminosos,
comprometendo-lhes as posições. Isso feito, conforme a oportunidade, dai
publicidade às suas prevaricações. Entrai, igualmente, em contato com os
indivíduos mais baixos e perigosos. Molestai, por todos os meios e modos, a
ação do governo; promovei discussões e discórdias entre os cidadãos. Lançai os
velhos contra os jovens. Perturbai o abastecimento e o aprovisionamento das
Forças Armadas” (Mao Tsé Tung).
Em tempos de bruxas e
paranóias, da enlutada Noruega aos Ministérios brasileiros onde tardia degola engatinha, com rabos e ratos se fazendo de desentendidos ,
pois todo mundo era santo desde o Tratado
de Tordesilhas, peço vênia ao
leitor para indagar-lhe se conhece
alguma República ou país hermano onde as lições de Mao pareçam exemplarmente
levadas à prática visando a dissolução de suas instituições. Os fatos até nos
remetem a Spinoza (1927) : “À medida que
as gerações passam, vão-se tornando piores. Tempo virá em que se mostrarão tão
perversas que passarão adorar o poder; o poder será para elas o direito, e a
reverência ao bem deixará de existir. Finalmente, quando nenhum homem se
mostrar mais irado perante as más ações ou não se sentir mais envergonhado na
presença do miserável, Zeus também as destruirá. E, não obstante, mesmo assim
alguma coisa deveria ser feita, ainda que fosse a sublevação dos humildes para
derrubar os governantes que os oprimem”.
Isso posto, leitor,
indagaríamos não ser delírio
ver entre nós uma lógica maoísta de fatos e ações no sentido da
desconstrução das estruturas pessoais e coletivas que mantêm qualquer tribo,
feudo ou nação integrados. Pior: grande parte dos fatos desestruturantes
emanam, direta ou indiretamente, do
poder estatal vigente, quase sempre sob o manto adocicado de discursos
politicamente corretos. Citaríamos aqui
a inocente publicação do Ministério da Educação onde corrigir “nós vai”
seria uma expressão de “preconceito linguístico”; também a fala de elevada membro do MPF, em
nossa Assembléia, afirmando diante de
200 pessoas, inclusive indígenas, que “ retomada não é invasão”, quando
realizada por índios. Lição bem dada e
melhor ouvida, pois, uma semana após, detona-se o terror em Japorã.
Todos guardam quando o Presidente de país
hermano antecipa-se ao seu STF
afirmando que “Mensalão não existiu, foi um golpe das elites preconceituosas
contra mim”. Ou quando, no infeliz PNDH-3, que o presidente assinou mas não
leu, e a presidenta atual rubricou mas não assinou, determinava que um
proprietário invadido só poderia buscar sua reintegração de posse após
discutir, com o invasor, os direitos humanos deste. Outra pérola, o presidente
da Funai vir a Campo-Grande afirmar que a questão indígena não se resolve por causa da “judicialização”,
ou seja, porque o proprietário turrão,
impatrioticamente, entra na Justiça em busca de seus direitos. E a cortesia com
chapéu alheio de membro de MPF de país
hermano, afirmar que, na questão indígena, o fazendeiro teria que ter mais
sensibilidade para com o índio e ceder.
Como pérola entre pérolas de desconstrução anti-civilizatória e
antidemocrática, interpreto ser a prática dogmática e estereotipada de membros
do MPF, pela qual inexiste a figura de restituição de posse pelo legítimo
proprietário, de qualquer área invadida por índios. Sim, pois, religiosamente,
a restituição de posse é contestada pelo MPF. Noutros termos, a violação de
direitos constitucionais de uns, quando promovida por grupos indígenas, ganha
um “salto dialético-qualitativo” e passa a ser fundante de direitos
fantasmáticos. Desconstrutora, diabólica, ainda, leitor, é essa “práxis
dialética”, enquanto lição pedagógica para a promoção da falta de limites e
desrespeito aos direitos alheios. Não sei se compartilho uma visão arcaica, o
que nos remete a certa jocosidade: antigamente fumar era bonito, motivo de
orgulho, enquanto “tal coisa” era feio. Hoje fumar é feio e “tal coisa” é
bonito. Integrar a Nação já foi bonito, vide o Marechal Rondon, exemplo também
pessoal de miscigenação e integração étnico-cultural. Coisa antiga e
ultrapassada pela “práxis da desconstrução”, não? Hoje é feio integrar e ter
orgulho de nossa integração étnica e cultural. Bonito é desconstruir.
Título e Texto: Valfrido M. Chaves – Um brasileiro
ultrapassado, 10-04-2013
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