RÚSSIA EM PARCERIA COM A CHINA
PARA A CONSTRUÇÃO DO CANAL DA NICARÁGUA
Moscou desafia os EUA ‘em qualquer lugar onde possa’...
Francisco Vianna
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Presidente russo, Vladimir
Putin, com o então Presidente chinês, Hu Jintao
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O plano de construir o canal surgiu
em consequência da cooperação política entre Manágua e Moscou com base não
apenas nos interesses russos de vendas maciças de armamentos para a América Llatina,
como também a de montar uma base militar na Nicarágua para dar suporte às
instalações já existentes destinadas ao reabastecimento de combustível para
aviões e portos para atracação de belonaves russas e, futuramente, chinesas.
Além da Nicarágua, Putin também busca estabelecer bases em Cuba e na Venezuela.
A intenção russa e chinesa,
sem dúvida, é a de criar bases permanentes e aumentar a presença desses países
no hemisfério ocidental e desafiar as políticas estadunidenses e ameaçar
diminuir a influência regional de Washington.
Evidente que isso pode levar a
uma repetição dos eventos que provocaram a chamada Crise dos Mísseis Soviéticos
em Cuba, em 1962, que obrigou os EUA a peitar militarmente o envio e a
instalação de mísseis soviéticos a poucos quilômetros do território norte-americano,
o que representou um desafio enorme vencido pelos EUA com o retorno russo à
Eurásia para evitar que sua frota fosse destruída no Atlântico e o fato
degenerasse numa guerra provavelmente termonuclear entre as duas potências.
Agora o que se observa, no
cenário internacional, é a volta do expansionismo russo, exercitado por Putin,
com iniciativas como essa e com as ações de anexação territorial n Ucrânia que
podem criar uma nova crise e licitar a intervenção dos EUA em países situados,
como os russos gostam de dizer, dentro de “sua área de influência”. Por
enquanto, Moscou tem se focado em áreas contíguas ao seu país, mas, ao que
parece, não pretende parar por aí.
Stephen Blank – um
especialista em geopolítica e estratégia internacional da Fundação Jamestown
(uma ‘think-tank” dos EUA) – afirma que “a Federação Russa se considera uma
potência global ativa em todo o planeta, qualquer que seja a alegação pública
de suas ações por parte da liderança instalada no Kremlin e destinada a
desafiar os EUA onde quer que possa fazê-lo”. Uma dessas “arenas” – segundo
Blank – é a América Latina. “Mesmo que a crise na Ucrânia piore e degenere em
algo mais sério como um conflito armado, Putin está constantemente tentando
aumentar sua expansão pelo hemisfério ocidental.
O foco de Moscou para
estabelecer uma base na América Latina será a Nicarágua. Em abril último, os
legisladores russos acordaram aprovar leis que autorizam o governo a por em
órbita um sistema de monitoração por satélite de navegação dedicado àquele país
centro-americano. Isso dará aos russos e chineses uma maior precisão no
controle de logística e de espaço aéreo sobre a Nicarágua e tudo com o apoio do
governo de Manágua.
Entretanto, os analistas
também acreditam que as instalações nicaraguenses serão substitutas do centro
de controle de navegação eletrônica de Lourdes, que Moscou instalou em Cuba a
questão de uma década atrás.
Russos e Chineses, assim,
planejam imitar o envolvimento do Irã que afirmou que seus navios de guerra
estarão também patrulhando as águas internacionais ao longo da costa
estadunidense usando portos situados nesses mesmos países. A construção do
canal interoceânico na Nicarágua representa o desafio do capitalismo estatal
sino-russo para concorrer diretamente com o capitalismo privado que comanda o
Canal do Panamá, e que se encontra em fase de ampliação.
Tudo isso está longe de ser um “ato neutro” e tais iniciativas podem
dar ensejo a uma maior ação ocidental na Eurásia. A China, por sua vez, não
pode se dar ao luxo – pelo menos ainda – de ver as empresas americanas que para
lá foram se estabelecer a partir dos anos 1980s, de repente, se retirarem do
país. Assim, questiona-se se, realmente, os chineses não estão sendo levados
pela influência de Putin a se comprometerem com iniciativas que possam ir de
encontro aos seus interesses globais. Também não se sabe ainda até onde iria o
comprometimento chinês com a construção desse canal.
Um empresário chinês, Wang
Jing, que tem a concessão estatal de Pequim para construir o canal na
Nicarágua, disse também que tem outra concessão russa para construir um porto
de águas profundas na Península da Crimeia, uma área estratégica da Ucrânia que
recentemente foi anexada à Federação Russa, via plebiscito, mas sob a pontaria
das armas de grupos pró-Rússia.
Segundo Blank, a oposição
nicaraguense na pessoa do deputado Eliseo Nunez Morales disse que o planejado
Grande Cana da Nicarágua é um projeto que não vem acompanhado de uma
“declaração de neutralidade”. Isso significa que, no caso de um conflito
militar, regional ou mesmo global, a rota marítima não será respeitada como uma
zona neutra e se transformará em alvo, além do mais por permitir o
estabelecimento de bases militares contíguas a ele.
“Portanto, garantindo à Rússia
uma concessão segura, a Nicarágua certamente vai criar em seu país uma base
militar estrangeira secreta para a introdução de uma série de agentes secretos
e programas destinados possivelmente à lavagem de dinheiro em grande escala
obtidos do crime organizado, principalmente do tráfico de drogas e armas no
subcontinente”, explicou Blank.
Além disso, a estrutura legal
que está sendo preparada para a zona do canal, permitirá a realização de
“negócios com isenção fiscal”, diz outro deputado opositor da Nicarágua, Victor
Hugo Tinoco, ao jornal local ‘La Prensa’. “Em outras palavras” – comentou Blank
– “a coisa toda vai criar uma plataforma para a corrupção maciça não só dentro
do projeto, mas também dentro do governo, potencialmente financiado pelo
dinheiro chinês e russo”.
É também evidente que as
potencialmente amplas jazidas de gás natural do Caribe, próximas do Mar da
Nicarágua, também estimularam o interesse eurasiano.
A grande preocupação
subjacente é a de que Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua, que é íntimo dos
russos, possa tornar o país numa base russa de operações.
“Tal combinação de vendas de
armas, concessão de instalação de bases militares e investimento em larga
escala econômica em projetos de infraestrutura e de energia tem sido uma
característica hegemônica da política russa”, disse Blank. “Estes são
instrumentos bem testados pelos quais Moscou busca permanentemente alavancar
‘estados amigáveis’ tornando-os parceiros ou, mais eufemicamente ‘clientes’”. O
Grande Canal da Nicarágua não passa de um dos muitos projetos com os quais os
russos estão atrelando os chineses em sua penetração econômica no hemisfério
ocidental.
“Esse fenômeno", disse
Blank, "combinado com esforços persistentes da Rússia para travar uma
"guerra assimétrica" contra os Estados Unidos no mundo e na sua
vizinhança, deve pelo menos incomodar o sono dogmático das pessoas em
Washington que, até agora, negligenciam em refletir sobre as metas de Moscou na
Nicarágua e em toda a América Latina".
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 22-05-2014
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