segunda-feira, 26 de maio de 2014

Esposas dos prefeitos presos por Maduro dão uma extraordinária surra eleitoral no chavezismo

Francisco Vianna

A candidata da oposição, Patricia Ceballos, deposita seu voto com a ajuda de seus filhos, ontem, domingo, na cidade de San Cristóbal, na Venezuela. Seu marido, o Prefeito Daniel Ceballos, foi preso por ordem do governo de Nicolás Maduro após ser acusado de “incitar protestos de rua”. Foto: George Castellano/Getty Images

As esposas dos prefeitos opositores do regime venezuelano destituídos e presos pela ditadura disfarçada de democracia de Nicolás Maduro há mais de dois meses, sob a acusação de apoiar os protestos de rua contra o regime, ganharam as eleições em suas cidades por ampla margem neste domingo de ontem e irão sucedê-los nas prefeituras de San Cristóbal, no estado de Táchira (a oeste do país) e San Diego, no estado de Carabobo (ao norte).

Na cidade de San Cristóbal, onde ocorreu o auge dos protestos, 121.212 eleitores se apresentaram para votar e elegeram a esposa de Daniel Ceballos, Patricia de Ceballos, com 73,62% dos votos, ao passo que seu rival situacionista, o advogado de 33 anos, do partido PSVU, chavezista, conseguiu apenas 25,52% dos votos válidos.

Em San Diego foram 60.500 votantes que elegeram a esposa de Enzo Scarano, Rosa de Scarano, com uma avalanche de 87,68% dos votos válidos, enquanto o candidato da situação Alexis Abreu teve que se se contentar com apenas 11,63%, conforme um boletim da junta municipal eleitoral.

Eleitores fazem fila numa zona eleitoral, ontem, em San Cristóbal, na Venezuela. A candidata Patricia de Ceballos, esposa do prefeito da cidade, preso pelo regime chavezista, Daniel Ceballos, conseguiu 73,62% dos votos. Foto: George Castellano/Getty Images

Nesses centros tradicionalmente opositores ao regime, as esposas dos prefeitos presos conseguiram vitórias eleitorais acachapantes e mais folgadas do que as conseguidas por seus maridos em dezembro, o que muitos consideram uma mensagem clara de repulsa às suas prisões ordenadas pela ‘justiça venezuelana’ amplamente aparelhada pelo chavezismo.

Em San Cristóbal 41% do eleitorado se absteve de votar, ao passo que em San Diego a abstenção foi de 36%.

Daniel Ceballos e Enzo Scarano tinham ganado as eleições municipais de dezembro último com boa margen (respectivamente 67% e 75,24% dos votos), mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) convocou novas eleições para este domingo depois que, em março último, os prefeitos foram presos e condenados a um ano e a 10 meses de, respectivamente, por sua suposta responsabilidade nos piores protestos que Maduro já enfrentou em seu primeiro ano de um governo que muitos consideram espúrio e ilegal, sob alegações que vão de fraude eleitoral com urnas eletrônicas até ao fato de ele supostamente não ser venezuelano nato, mas sim, colombiano.

Os protestos antigovernamentais deixaram 42 mortos, centenas de feridos e presos nessas e em outras cidades do país.

As ruas próximas do comando de campanha de Patricia de Ceballos, no Bairro Operário, no centro de San Cristobal, ficaram congestionadas de carros e centenas de pessoas que celebraram com fogos-de-artifício a vitória da oposição.

Pouco antes das autoridades eleitorais informarem o resultado final da votação, Maduro veio à TV ameaçar os vitoriosos de que, se voltarem às suas “loucuras” e insistirem na violência como arma política, novamente “as autoridades agirão e, se for o caso, eles serão destituídos pelo poder judiciário”.

O governador do estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski, se referiu às eleições de San Diego e de San Cristóbal, e assegurou que ambos os municípios deram “uma coça” em Maduro. “Foi uma surra eleitoral para que Caracas respeite a vontade do povo”, escreveu ele em sua conta do Twitter @hcapriles. O país espera a liberdade de @Daniel_Ceballos e @ENZOSCARANO”, acrescentou.

Mesmo assim, Capriles se referiu às eleições presidenciais da Colômbia e exortou que os candidatos, que vão para o segundo turno, “decidam de fato em função da altíssima abstenção que houve”. Além disso, recomendou que a reitora do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Tibisay Lucena, “desse uma voltinha pela Colômbia para que veja como se contam os votos e como os totais são anunciados oficialmente, em duas horas, de 99,51% dos votos”.
Título e Texto: Francisco Vianna, 26-05-2014

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