Os homens que vão ficar à espera: Paulo Rangel e Francisco Assis. Os
resultados conseguidos nestas europeias permitem-lhes tudo. Até aspirar à
liderança dos respectivos partidos.
A vida política alimenta-se de
balões de oxigénio e eles neste 25 de Maio conseguiram reabastecer-se para uns
tempos.
O homem com quem vai ter de se
contar: Passos Coelho. O PSD dos barões, de Cascais e dos notáveis cavaquistas
enganou-se nas contas. Achavam que Passos ia ali fazer uns meses e que perante
o que caíra em cima do País eles seriam de novo chamados ao palco. E magnânimos
eles iriam. Mas Passos em Julho de 2013 ganhou e agora as idiossincrasias do
PSD jogam a seu favor: os laranjas dissidentes não roubam votos ao partido, não
fazem movimentos, nem mudam de agremiação. Muito portuguesmente deixam-se estar
dizendo mal e praticando com fervor o seu desporto favorito: o tiro ao líder.
Mas na hora da verdade lá estão todos outra vez. Manuela Ferreira Leite e
Balsemão já deram o sinal do que vai acontecer nos próximos meses: arrumam-se
as pressões de ar e preparam-se as arruadas. Depois voltam ao mesmo. No PSD
isso não é defeito. É feitio.
Os homens que podiam ser:
António Vitorino, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa. A ordem pela qual
estão arrumados estes nomes não é aleatória. Marcelo está quase a ser o que
Vitorino já é e Costa está a entrar nessa selecção de homens que vão ser,
seriam e podiam ter sido mas que acabam por não dar o passo decisivo. Este
bloqueio que em Marcelo é quase patologia e em António Vitorino uma imagem de
marca, começa a tornar-se numa mania em António Costa. Ora só há uma coisa que
não se perdoa a estes homens que se habituaram a ser amados quando os outros
são criticados: o ressabiamento. António Costa esgotou nestas europeias a sua
quota de oportunidades para declarar que a vitória conseguida por Seguro soube
a pouco. Da próxima vez, como nos casamentos, ou diz ao que vai ou se cala para
sempre.
O homem que talvez não faça
mais política mas que pode fazer, se quiser, o melhor livro de memórias
políticas de Portugal: Paulo Portas. Em matéria de liderança o CDS está cada
vez mais próximo do PCP: na linha da frente uma multidão de quadros cuja
juventude ilude a eternização do líder. Mas o CDS não é marxista-leninista logo
a disciplina é-lhes arredia. Portanto ou o líder escolhe o momento para sair ou
terá de se confrontar com uma revolta interna. Mas seja como for Portas vai ser
sempre alguma coisa sem o CDS. O CDS é que vai ter de aprender a viver sem
Portas. Caso contrário acontece-lhe o mesmo que ao BE sem Louçã: morre.
O homem a quem temos de estar
agradecidos: Jerónimo de Sousa. O PCP, partido conservadoríssimo nos costumes e
no resto, poupa-nos aos desmandos e ao folclore da esquerda radical e
eurofóbica que campeia por essa Europa fora. O reverso de o PCP não ser um
partido de governo e sobretudo não ser um partido que o seu eleitorado queira
ver no governo mas sim um poderoso ‘lobby' cujos membros conseguem com eficácia
negociar com o Estado é termos de pagar o dízimo à Inter. Mas convenhamos que o
País já fez negócios bem piores.
O senhor que se segue: Marinho
e Pinto. Em primeiro lugar vamos acabar com a conversa sobre o desconhecimento
acerca do pensamento de Marinho e Pinto. O que se conhecia do pensamento de
Manuel Alegre que por sinal até poderia ter sido Presidente da República? E
qual é ou era o pensamento de Fernando Nobre? Que eu saiba nenhum. Marinho e
Pinto é a mais recente novidade produzida por esse relevante nicho do mercado
eleitoral constituído pelos eleitores que acreditam na transmigração das almas:
uns votaram Fernando Nobre, porque ajudando ele, os refugiados certamente
ajudaria o País; outros votaram Alegre porque com tanto soneto a fazer rimar
Portugal com sal haveria de arranjar uma solução criativa para o Orçamento de
Estado. Agora alguns desses "uns" e desses "outros",
devidamente acompanhados por novos fiéis, votaram Marinho e Pinto. Amanhã
votarão noutra personalidade qualquer. Porque as personalidades são como as
cerejas: desaparecem num ápice.
O homem que para ganhar tem de
derrotar o seu partido: António José Seguro. Os inimigos de Seguro não estão no
PSD e muito menos no CDS. Estão no PS. Uns como Costa esperam que ele lhes ceda
o lugar. Outros como Sócrates irritam-se quando ele não cumpre o papel que lhe
destinaram: gerir a memória de José Sócrates até que este possa voltar à
política activa. Ora acontece que para irritação dos notáveis e dos jornalistas
Seguro quer chegar ao Governo, coisa que sucederá em 2015 caso o PS o deixe.
Desde esta semana é mais claro que chegará com o PSD - com o BE em fanicos a
possibilidade de um governo PS mais BE ficou arredada - circunstância que não
lhe parece desagradar. Um governo com Passos a partir de 2015 não é apenas um
sonho ou uma meta para Seguro: é um refúgio.
O homem que ganhou tempo:
Cavaco Silva. Se o PS português tivesse obtido o resultado eleitoral da Frente
Nacional em França, Cavaco estaria hoje cercado em Belém por uma multidão a
exigir eleições antecipadas e a sua resignação. Como tal não sucedeu Cavaco vai
mantendo o seu objectivo de normalizar a democracia portuguesa - os mandatos
são para cumprir até ao fim - enquanto se prepara para aquele que pode ser o
momento mais simbólico das suas presidências: o dia em que dará posse a um
governo de bloco central.
Título e Texto: Helena Matos, Diário Económico, 27-05-2014
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