Luís Naves
Durante três anos, lemos
milhares de artigos de falsos profetas que previam o desastre iminente do País.
O ajustamento jamais iria funcionar e o resultado seria, de forma inevitável, a
espiral recessiva e o caos social. Fomos enganados durante três anos mas,
estranhamente, não há responsáveis. Pelo contrário, os analistas que falharam
nas suas previsões são os que agora ironizam com superioridade intelectual
porque a saída da troika não teve efeito visível nas nossas vidas.
O resgate financeiro evitou em
Portugal um colapso de estilo argentino. Os europeus não tinham instituições
apropriadas e não havia mecanismos eficazes de controlo orçamental na união
monetária, pelo que tudo teve de ser improvisado em cimeiras periclitantes. Em
troca do salvamento, o País foi obrigado a cumprir condições particularmente
difíceis, mas o programa foi concluído, apesar das decisões ruinosas do
Tribunal Constitucional (aplaudidas por uma comunicação social hostil ao
resgate) e da péssima negociação inicial da ajuda financeira, que se baseou em
premissas erradas, que a troika, para não desafiar os mercados, se recusou a
adaptar à realidade.
A intelectualidade nacional só
falou dos sacrifícios: ela diz-se reformista mas é profundamente conservadora e
anti-reformista, pelo que esteve sempre contra o programa de ajustamento.
Agora, a narrativa dominante entre os autores de opinião é a de que nada foi
feito, que as reformas ficaram pelo caminho e que o programa falhou em toda a
linha. O argumento é incompreensível (o que levou então a troika a sair?) mas
continua a ser repetido por analistas que falharam durante estes três anos. São
os mesmos que agora desvalorizam o fim do programa de ajustamento, cujas medidas
de cortes na despesa e aumentos de impostos somam mais de 16% do PIB, ou seja,
um ritmo anual acima de 5% do PIB. O País perdeu 6% da sua riqueza e tem mais
de 15% de desempregados, mas a alternativa era a Argentina, a saída da zona
euro e a provável saída da União Europeia. Provavelmente, tirando processos
revolucionários, nunca fomos sujeitos a uma transformação tão importante como a
que decorreu neste período.
Os socialistas, que nos
levaram à pré-bancarrota, prometem agora 80 medidas e uma mudança, mas se forem
para o poder terão de cumprir o Tratado Orçamental, ou seja, concluir o
processo de ajustamento e as reformas estruturais (que obviamente não se faziam
em três anos). Se não aumentarem os impostos, terão de cortar na despesa e
convinha que explicassem onde é que vão cortar pelo menos 5 mil milhões de
euros até 2018.
Os comentadores mais à direita
culpam o actual Governo por não ter feito reformas que nunca constaram do
memorando assinado com a troika. Em 2011, quando foi pedido o resgate, não
havia dinheiro para pagar dois meses de salários completos e a situação
financeira era muito pior do que a admitida pelo então executivo socialista.
Tudo isto continua a ser branqueado e afirmar o contrário leva a acusações de
propaganda.
Título, Imagem e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
19-05-2014
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