O HAMAS EXIBE UMA FALSA
EUFORIA PARA ESCONDER A PREOCUPAÇÃO DE QUE ISRAEL PROVAVELMENTE O EXPULSARÁ DA
FAIXA DE GAZA, SE NECESSÁRIO.
Francisco Vianna
O conflito na Faixa de Gaza
situa Israel em meio a lados preocupados no mundo islâmico sunita. Se Israel
quiser pôr um fim a ele, as regras do jogo precisam mudar, e depressa.
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Veículo armado transportador
de tropas das FDI a cruzar um campo próximo à fronteira com a Faixa de Gaza no
sul de Israel, ontem, 18 de julho de 2014. Foto: Flash90
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A iniciativa de cessar-fogo do
Qatar ilustra como a contínua escalada do conflito em Gaza, na verdade, não tem
nada a ver com Israel em si, mas, tristemente, a nação judaica se viu enredada
e envolvida numa guerra que tem proporções muito mais amplas, e que vem como um
reflexo da disputa sem fim entre dois eixos rivais no mundo islâmico sunita.
De um lado estão o Egito e a
Autoridade Palestina, com a Jordânia e a Arábia Saudita provavelmente indo se
juntar a eles no próximo par de dias. Por outro lado, o Qatar, a Turquia e o
Hamas, bem como outros defensores globais da Irmandade Muçulmana. Esta é uma
“guerra por procuração” sob todas as intenções e propósitos.
Não se engane o leitor, pois o
Hamas continua comprometido com a destruição de Israel e, de um modo mais amplo
com o “jihad” ou “guerra santa” contra o Ocidente. Por isso, o Hamas está a
disparar foguetes contra Tel Aviv e enviar terroristas através de túneis, no
sul de Israel, que aportam, em essência, no Cairo e conta com o apoio de Doha e
Ancara.
Ambos os lados usam a
população palestina da Faixa de Gaza e agentes infiltrados na Cisjordânia para
agredir Israel, na condição de “buchas de canhão”, pois não cabe alternativa a
Israel senão a de defender-se com as armas que tem.
O que emerge desse estado de
coisas, e das demandas infundadas do HAMAS como aparecem na proposta de
cessar-fogo do Qatar, é que esta crise está longe de terminar. O HAMAS está
confiante, até mesmo eufórico, e nos últimos dias, as pessoas que entraram em
contato com os líderes dessa organização terrorista antissemita que usa os
palestinos relatam que a sensação que eles transmitem é a de que o HAMAS está
sitiando Tel Aviv e que irá começar a invasão de Israel em breve, e não o
contrário, ou seja, admitirem que as FDI estejam varrendo sem maiores
dificuldades a Faixa de Gaza com suas tropas terrestres e que deverão eliminar
o HAMAS do enclave palestino.
Num encontro com o Presidente
da ‘Autoridade Palestina’ – um arremedo de estado mantido com o dinheiro da ONU
–, Mahmoud Abbas, no Cairo na última quarta-feira, Moussa Abu Marzouk, subchefe
do escritório político do Hamas, rejeitou os apelos de Abbas para que parasse com
o lançamento de foguetes contra Israel visando um cessar-fogo e explicou que,
"afinal, o que são 200 mártires em comparação com o levantamento do
bloqueio militar naval e terrestre da Faixa de Gaza, que os israelenses
consideram tão importante para a sua ilusória segurança”? Abu Marzouk, mais
tarde escreveu pelo Tweeter que “não haverá trégua alguma que não reconheça as
demandas da ‘resistência’ e que é melhor que Israel ocupe a Faixa de Gaza do
que continue com o seu bloqueio militar”. Abu Marzouk, desnecessário dizer,
reside no Cairo, longe da ameaça da reação israelense com seus ataques aéreos
cirúrgicos, pelos quais, provavelmente já estaria morto.
Sua intenção é fazer com que
Israel reconsidere suas “noções pré-concebidas e seus planos de ação em relação
ao HAMAS”. O conceito básico que norteou Israel nos últimos anos é o de que o
controle do Hamas na Faixa tem sido administrável e, até mesmo "bom para
os judeus", e no final das contas, menos risco para a segurança do que
qualquer cenário alternativo. Mas Israel já não pode se dar ao luxo de
transmitir a mensagem de sempre, qual seja a de que a "calma será recebida
com calma". A mensagem, agora, é a de que “a agressão será recebida com a
perda do território e o extermínio da organização terrorista”, pois a Israel
não resta outra opção para existir.
O HAMAS vem operando na
suposição básica de que Israel acabará por agir para preservar seu domínio
sobre a Faixa de Gaza e, daí a atual confiança do grupo terrorista e, mesmo,
sua euforia. Também acredita que Israel não quer, de fato, eliminá-lo ou matar
seus líderes.
Para forçar esses líderes a
reconsiderar a sua atitude, portanto, Israel deverá, no entanto, agilizar o que
começou, e depressa. O HAMAS precisa entender que as regras do jogo já mudaram
e que Israel está disposto a destruí-lo bem como o seu regime local,
reincorporando toda a Faixa de Gaza ao país, se necessário.
Tzipi Livni deu o primeiro
passo nessa direção, para a surpresa de seus entrevistadores, ao dizer pelo
Canal 2 da mídia judaica, nesta última sexta-feira à noite, que não descartou a
ideia de eliminar o HAMAS, caso isso seja preciso para restaurar uma calma
sustentada no seio da população palestina de Gaza.
O que há, todavia, até o
momento, não é uma recomendação explícita para as FDI reocupar e reincorporar o
pequeno território litorâneo de Gaza ao pai, mas, apenas a missão de pôr fim ao
conflito pela única opção deixada aos judeus, eliminar o HAMAS como grupo
terrorista, o que implica a levá-lo a crer que o seu desaparecimento será
iminente, caso ele não deponha suas armas. Certamente, seus líderes, por
enquanto, não pensam em nada parecido com nisso no momento.
A proposta de cessar-fogo
apresentada pelo Qatar se constitui mais ou menos dos mesmos termos que o HAMAS
vem exigindo desde o início da operação, inclusive com algumas exigências
adicionais, como a libertação de prisioneiros como ocorreu no acordo de troca
de Gilad Shalit, onde os libertados foram presos novamente na recente varredura
da Cisjordânia pelas FDI. Também exige a abertura da passagem de Rafah com o
Egito, além da construção de um porto em Gaza e muito mais. Tais exigências
devem ser cumpridas paralelamente com um cessar-fogo.
Esses termos foram
encaminhados ao governo americano, que foi convidado pelo Qatar para
intermediar as tratativas com Israel. Um dos objetivos – embora não o único –
era o de manter o Egito fora do esforço de cessar-fogo.
O tratamento desta questão
pelos norte-americanos, no entanto, tem sido tipicamente hesitante e pouco
claro, como, por sinal, têm sido as posições de Barak Obama em relação ao
habitual apoio a Israel por parte da Casa Branca. Washington flertou tanto com
Doha como com o Cairo.
Foi só depois que Israel
exigiu que o Qatar ficasse de fora das negociações e a partir da imagem de que
os EUA teriam ao anunciar seu apoio à iniciativa egípcia, com suas cláusulas
que, que em grande parte ignoram as exigências do HAMAS, que Israel, a Liga
Árabe, os EUA rapidamente se entenderam.
Empresas do Qatar dão apoio
contínuo ao HAMAS, o que explica a sua retirada plena da proposta egípcia. No
Egito, o ministro do Exterior Sameh Shukri entendeu bem isso e acusou
diretamente Doha e Ancara de tentarem minar deliberadamente seus esforços de
cessar-fogo. A Turquia reagiu ferozmente, com o primeiro-ministro Recep Tayyip
Erdogan chamando o presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi, de ditador.
E assim, as iras sunitas da
guerra são claras com a possibilidade de um cessar-fogo entre o HAMAS e Israel,
tornando o cessar-fogo mais remoto. Abbas ainda está tentando preencher a
lacuna entre as partes – entre Qatar, Turquia e Egito, ou seja, não entre o
HAMAS e Israel. Mas é duvidoso que ele venha a ser o homem capaz de reunir o
mundo sunita, amargamente dividido.
Aliás, a sorte de Israel –
muitos já disseram isso com boa dose de razão – consiste na aparente
incapacidade de unificação do mundo árabe, fortemente dominado pelo islã.
Não tendo mais o que fazer e
fustigado pela barragem de foguetes meia-bocas que Gaza tem despejado sobre o
estado judaico, Israel foi forçado a seguir a única opção de sobrevivência que
lhe restou e a mensagem que agora passa aos árabes é a de que “quem com ferro
fere, com ferro será ferido”, isso para dizer o mínimo.
Tel Aviv sabe que, por outro
lado, a reincorporação da Faixa de Gaza o obrigará a repensar com cuidado o
destino da população palestina que lá habita, acostumada a pensar que quanto
maior for o sofrimento mais créditos terão junto a Allah e que a imolação da
guerra vai garantir a essa gente pobre e miserável as maravilhas do paraíso
islâmico.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 19-07-2014
Ler, ainda, em inglês:
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