José Manuel Fernandes
A nível internacional as
atenções continuam muito focadas nas diferentes crises – Ucrânia, Síria, Gaza –
que parecem querer abalar a estabilidade das relações internacionais. Timothy
Garton Ash, um autor que já aqui citei várias vezes, escreve precisamente sobre
esta instabilidade, curiosamente seguindo uma linha de abordagem que não é
muito diferente da do Macroscópio de há dois dias (“Será esta a calma antes da
tempestade?”). Num texto intitulado “A century on, the first world war is still being played out”, ele acaba por
concluir com um raciocínio optimista:
One hundred years ago we had “the guns of August”, in Barbara Tuchman’s resonant phrase. Now we have the butter of August. Note the different role played by Germany, then and now. Slowly, step by step, the Berlin government is doing the right thing. Germany is bringing the unique weight of its economic relationship with Russia to bear, while quite reasonably insisting that the pain is shared with France, Britain and Italy. Some things do change. Some even get better.
Não sei se poderemos ser assim optimistas quando caminhamos mais para Oriente e olhamos para essa região a que, noutros tempos, chamávamos Levante. Dos vários conflitos que aí medram, o que tem suscitado mais discussão e mais paixões é, sem dúvida, o que opõe Israel ao Hamas. Seleccionei por isso alguns artigos cuja leitura me parece relevante:
Bernard-Henri
Lévy, o conhecido intelectual e activista francês, escreve no Wall Street
Journal um texto que considero de leitura obrigatória. Intitulado “The Ugly Tide Washing Across Europe”, é uma denúncia apaixonada da forma como,
para alguns sectores das opiniões públicas europeias, as únicas mortes de
árabes que contam são as mortes em que, de alguma forma, Israel está envolvido.
Se forem árabes a matar
árabes, isso parece ser-lhes absolutamente indiferente: “I would urge them to
think twice before letting themselves be manipulated by those whose motive is
not solidarity but hate, and whose true agenda is not peace in Palestine but
death to Israel—and, as often as not, alas, death to Jews.”
A revista
The Economist volta a dedicar a sua capa e o seu primeiro editorial ao
conflito, sob um significativo título, dirigido a Israel: “Winning the battle, losing the war”. O seu conselho é que “having won his battle, [Mr Netanyahu] could return
to the negotiating table, this time with a genuine offer of peace. Every true
friend of Israel should press him to do so.”
A
perspectiva de Charles Krauthammer na National Review é diferente, é de crítica à actuação do secretário de Estado John Kerry, que acusa de, na prática,
estar a legitimar o Hamas e os seus métodos terroristas. Eis o que ele recorda ao governante do seu
país: “Remember the complaints that the heartless Israelis were not allowing
enough imports of concrete for schools and hospitals? Well, now we know where
the concrete went — into an astonishingly vast array of tunnels for
infiltrating neighboring Israeli villages and killing civilians.”
A questão
dos túneis do Hamas é tema de uma análise da revista Foreign Policy onde se
considera que a sua construção representa um enorme falhanço dos serviços secretos de Israel. É uma perspectiva
diferente que pode ser complementada com a leitura de um trabalho de
investigação da Time onde se conta como o actual líder do Hamas, Khaled Mashaal, acabou por ser salvo por uma ordem de Benjamin Netanyahu quando
estava no leito da morte, agonizando por efeito de um veneno que lhe tinha sido
inoculado por agentes dos serviços secretos israelitas. É uma história
surpreendente e reveladora dos altos e baixos da sorte da guerra.
Destes cenários de conflito chegam-nos também, todos os dias, histórias humanas que não podemos ignorar. O Observador referiu uma delas, a de uma criança palestiniana que anunciou a um repórter em serviço em Gaza que queria ser jornalista. A outra é sobre o jovem soldado israelita que ontem terá sido raptado pelo Hamas num acto de guerra que violou, e fez colapsar, o cessar-fogo de 72 horas que tinha acabado de se iniciar. Este vídeo mostra esse soldado quase miúdo a tocar violino e a desejar a todos shalom aleichem, uma expressão hebraica que significa "A paz sobre vós”. Ouçam que vale a pena.
Bom fim-de-semana com boas leituras. E melhores férias ainda, se for caso disso.
Texto: José Manuel Fernandes, Observador, 02-08-2014
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