1. Há um paralelismo no pós-guerra entre a política e a economia
argentina e brasileira em relação às suas especificidades e ao tempo em que
ocorrem. Foi assim com Getúlio e Perón, com Frondizi e JK, com os militares,
com Collor e Menem, Alfonsín e FHC, com os planos Austral e Cruzado, Primavera
e Verão e depois com Kirchner e Lula. As análises de ambas as dinâmicas
políticas ajudam a entendê-las. E a preveni-las, se for o caso. Veio Cristina
Kirchner na Argentina e Dilma no Brasil.
2. O politólogo Natalio Botana analisou os desafios que virão com a
morte de Kirchner. Para unificar o peronismo, só com um líder forte. Afinal,
são quatro correntes do peronismo, como sugere. A semelhança com o PT tem
raízes e história. A base do peronismo é uma liderança popular,
onicompreensiva. Seus ciclos sempre dependeram dessas presenças, com Evita e
Perón, Menem e depois Kirchner e, agora, Cristina Kirchner. Na ausência de
líder forte, o peronismo perde o poder. É o que passa agora. E, quem sabe, no
Brasil.
3. Na Argentina, diz Botana, esse tipo de liderança nunca se
desenvolveu fora do peronismo. Aliás, como aqui, entendendo o trabalhismo de
ontem e de hoje como linhas contínuas. Diz Botana que, “para isso, as
fronteiras do peronismo devem ser laxas, segundo as circunstâncias”. Com cada
novo líder, a trama se atualiza e vêm novos registros de concentração do poder.
Perón, Menem e Kirchner representaram interesses distintos, mas sempre com a
mesma apetência hegemônica. “Quando o êxito está ao alcance da mão, o peronismo
é vertical. O paradoxo é que essa concentração se dá com uma base plural: é uno
na chefia e plural quanto à sua conformação sociológica”. Semelhanças com o
Brasil, Lula e Dilma.
4. São quatro as tendências internas do peronismo: a política, a
sindical, a revolucionária surgida nos anos 70 e os movimentos sociais
mobilizadores ativados nas crises. Kirchner disciplinou sua base parlamentar e
os governadores através do caixa, diz Botana. Sublinha que ele foi negociador
com o sindicalismo, que tem, aliás, base financeira própria, como aqui. Com os
movimentos sociais, negocia, coopta, mobiliza e desmobiliza, neste caso via
políticas sociais e favores fiscais. Finalmente, o “setentismo”
(ex-revolucionários), “com o qual agregou uma política de reparação histórica,
como aqui. Esses se sentiam como vanguarda que abria uma nova história
alimentada com memórias excludentes”.
5. E conclui Botana: “Dessa forma, sem uma liderança carismática,
essas quatro linhas (política, sindical, setentista e movimentos sociais) terão
que se cruzar, porque são difíceis de conciliarem-se e exigem a liderança forte
como signo de identidade. Mas o pós-líder forte arrasta a complicação dos
desengajamentos que ele mesmo produz”. Não será diferente aqui. Líder fora do
poder não é forte. Só se fosse de oposição. E sucessora não tem, nem tenta ter
o carisma do chefe. Que a tragédia argentina atual não se repita no Brasil.
Título e Texto: Cesar Maia, 08-08-2014
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