João Marques de Almeida
Por estes dias, no quente de Agosto, retirado na
Marmeleira, Pacheco Pereira [foto] deve passar grande parte do seu tempo em “diálogo”
com Sá Carneiro, queixando-se da sua solidão e confessando, em conversas
imaginárias com o antigo líder do PSD, que é o único que verdadeiramente o
entende. Pacheco resolveu competir com Santana Lopes pelo estatuto do mais
“devoto Sá-Carneirista.” Para Santana, conta mais o estilo e o modo de fazer
política. Pacheco privilegia o pensamento e a substância, julgando-se o
“herdeiro social-democrata” de Sá Carneiro.
Perdido no meio de tantos livros, corre também ele
o risco de se perder. Aliás, o seu último artigo na Sábado é de um homem cego
pelo ódio ao atual Primeiro-ministro, e cheio de azedume. É raro ler um artigo
com tanta desonestidade intelectual e política. Sem o mínimo de respeito pelo
contexto histórico, Pacheco andou a procurar citações de Sá Carneiro para
validar as suas opiniões. É um truque baixo, indigno de um “historiador” – se
há quem perceba devidamente a importância de colocar as citações nos contextos
históricos corretos são os historiadores – e ofensivo da memória de Sá
Carneiro. Nem Santana Lopes, nos momentos de maior fervor populista dos
Congressos do PSD, conseguiu instrumentalizar de um modo tão grosseiro o
fundador do partido. Pacheco quer reescrever a história intelectual do PSD.
Para demonstrar que o governo e a liderança do partido pertencem à “direita
radical”, está a construir um “novo Sá Carneiro”, o “social-democrata de
esquerda”, tal como o próprio Pacheco. O desespero e a imaginação não conhecem
limites na biblioteca da Marmeleira.
Pacheco Pereira exibe, todas as semanas, com o seu
radicalismo primário a dimensão do seu fracasso como político. Nos anos de
maior sucesso, durante o Cavaquismo, o seu brilhantismo intelectual sobressaia
e depressa se destacou no PSD. No entanto, o brilho e a inteligência não são
suficientes para uma carreira política de sucesso. A humildade, a resistência,
a capacidade de transformar derrotas em vitórias, a inteligência emocional, a
sabedoria social, são igualmente importantes. Pacheco nunca mostrou possuir
estas qualidades. Não se destacou como legislador – e o papel de um parlamentar
não se esgota nos talentos oratórios -, nunca exerceu qualquer lugar executivo
de relevo. Por isso Pacheco nunca testou a sua capacidade de decisão, uma das
qualidades mais importantes num político. Ou seja, no seu melhor período,
Pacheco não passou de um bom tribuno. A sua folha de serviços nada mais tem
para apresentar.
Depois, com a liderança de Durão Barroso, foi
eleito para o Parlamento Europeu. Poderia ter sido uma boa oportunidade para
relançar a sua carreira de político. Mas, mais uma vez, uma oportunidade
perdida. E mais uma vez, por causa dos pecados que o caracterizam, sobretudo a
imensa vaidade. Pacheco chegou a Bruxelas julgando que os seus colegas
parlamentares se renderiam imediatamente à sua inteligência e aos conhecimentos
adquiridos com as suas leituras (que de resto exibe com um zelo profissional).
Claro que ninguém ligou ao Pacheco chegado de Lisboa. No Parlamento Europeu,
não basta ser inteligente e ter opiniões. Também é necessário ler documentos
maçadores, escrever relatórios sem interesse literário ou mesmo analítico,
preparar emendas legislativas, fazer alianças políticas, saber sofrer, aceitar
a derrota e trabalhar arduamente para a vitória. Tudo isto é demasiado vulgar
para quem gosta de subir ao seu assento etéreo para discutir a
“social-democracia com Sá Carneiro.”
No seu percurso político europeu, não se destacou
por reflexões sérias sobre os desafios e os problemas do Euro – e foi na altura
que se iniciou a união monetária – ou sobre os perigos da hegemonia alemã, cuja
natureza se começava a manifestar. Agora que é popular criticar o Euro e atacar
a Alemanha, é demasiado fácil. De novo, Pacheco terminou um período político
desanimado com a realidade, a julgar todos os outros errados e ele, como
sempre, solitariamente certo. Um dia um deputado europeu definiu com acerto a
passagem de Pacheco por Bruxelas: “Achava que chegava, dizia umas coisas
inteligentes e todos fariam vénias à sua sabedoria. Como isso não aconteceu,
passou a criticar a União Europeia.”
Pacheco Pereira ainda teve mais um curto momento
político, junto a Ferreira Leite, quando esta foi líder do partido. Na altura,
foi notada a sua defesa da “austeridade” antes das políticas de “austeridade”.
Estou mesmo convencido que se tivesse sido a PM Ferreira Leite a aplicar o
memorando de entendimento, Pacheco teria sido o grande ideólogo da austeridade
(e talvez passasse fins de semana na Marmeleira à procura de citações de Sá
Carneiro para a justificar). Mas a vida partidária de Pacheco acabou com a
triste prestação eleitoral da sua “líder”.
Mas o pior estaria para vir com a vitória
eleitoral de Passos Coelho e a sua elevação a PM; ainda por cima aliado a Paulo
Portas: os dois ódios de estimação de Pacheco. Este ódio que o alimenta (e
atormenta) tirou-lhe a lucidez que restava. Está há quatro anos a escrever o
mesmo artigo, e duas vezes por semana; além de o repetir uma terceira vez na
televisão. E aparentemente não percebe. Depois dos fracassos da política, adotou
como cronista a política do ódio e do ressentimento. O oposto de tudo o que foi
Sá Carneiro. Pobre Pacheco.
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