Cesar Maia
1. Após a segunda guerra mundial, o populismo passou a ser marca
registrada do chamado terceiro mundo, na África, na Ásia e especialmente na
América Latina. O ciclo populista da América Latina com destaques conjunturais
para este ou aquele país, já dura setenta anos, e oscila entre caudilhos
ditatoriais, autoritários e formalmente democráticos. Formalmente, porque
afirmam-se democráticos em ciclos favoráveis e sem nenhum pejo, tornam-se
autoritários em situações adversas, apontando o dedo para um “inimigo do povo”,
que por muitas décadas foi o “imperialismo norte-americano”.
2. O populismo religioso ascende ao poder em vários países – em
geral africanos – lastreado num fundamentalismo que não deixa espaço para
religiões distintas e, por isso mesmo, avança sempre para regimes autoritários
teocráticos. Na Europa a desintegração da União Soviética democratizou as
repúblicas do leste que se integraram de corpo e alma à Europa Ocidental e
progressivamente à União Européia.
3. Nas últimas duas décadas construiu-se na Europa, de forma
progressiva, um Populismo que se torna tipicamente europeu. Populismo de
direita e de esquerda, dependendo da força motriz de impulsão. Três vetores
impulsionaram este euro-populismo, basicamente simultâneos. O primeiro foi a
crise financeira dos derivativos na segunda metade dos anos 2000. Em fins de
2010, a avaliação do presidente do PPE ex-primeiro ministro belga, (que há anos
controla o Parlamento Europeu), em reunião da IDC em Marrrocos, era que a crise
financeira lastreada numa especulação desenfreada, era sobretudo uma crise de
valores. Acertou na mosca.
4. O segundo vetor foi o desmanche da Primavera Árabe e a formação
progressiva do Estado Islâmico, a partir de uma força miliciana radical
dissidente do Al Qaeda, de resistência à intervenção dos EUA no Iraque. A Síria
e a Líbia foram desintegradas. O Egito reagiu com um novo regime militar
anti-fundamentalista. E foram formando-se colunas e colunas de refugiados
atravessando o Mar Mediterrâneo ou entrando pela Turquia. O terrorismo ganhou
as manchetes e a preocupação primeira dos governos do centro-norte da Europa.
5. Finalmente – o terceiro vetor – multiplicando estes fluxos, as
Redes Sociais foram construindo grupos e partidos de todos os perfis
ideológicos. Na Espanha e Itália, como forças de uma nova antipolítica de
esquerda. Na França,na Alemanha no Reino Unido e na Aústria – entre outros – como
forças de uma nova antipolítica de direita. Na Alemanha ainda a nível de alguns
estados. Na França e no Reino Unido se espalhando nacionalmente.
6. Na França como um movimento e partido unitário e centralizado
liderado por Marine Le Pen. No Reino Unido o aparentemente pequeno o
nacionalista UKIP foi contido pelo sistema eleitoral de voto distrital
uninominal de pequenos distritos. Mas quando veio a eleição proporcional para o
Parlamento Europeu a verdadeira representação popular do UKIP surgiu elegendo
uma bancada de deputados europeus superior a dos conservadores e dos
trabalhistas.
7. Na França, na Áustria, no Reino Unido, em países do norte da
Europa,na Hungria, etc... como expressão de um nacionalismo expandido pelas
colunas de imigrantes e as tragédias para alcançar terra firme. Ou seja, como
forças nacionalistas discursando sobre os valores e sobre os empregos.
8. Enquanto isso – e paradoxalmente – o Populismo na América Latina
declina e sofre derrotas contundentes como na Argentina, no Brasil, na
Venezuela e no Peru, construindo uma onda azul que acumula sinais de avanço.
Título e Texto: Cesar Maia, 1-7-2016
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