José António Rodrigues Carmo
Em Portugal os Comandos sabem que contam com a esquerda, como grande
inimiga.
A esquerda, fora e dentro das Forças Armadas, continua a ter atravessada
na garganta a ignóbil derrota dos valentes revolucionários, às mãos de algumas
centenas de comandos, metade dos quais antigos combatentes que largaram as suas
famílias e empregos, para voltarem a pegar na G3, nas semanas que antecederam o
golpe de 25 de Novembro de 1975.
É por isso, e só por isso, que a agenda mediática se engalfinha contra os
comandos, quando acontecem acidentes no treino.
Tudo o que fazemos na vida tem riscos. Morrem pessoas a fazer desporto, a
jogar à bola, a subir montanhas, a fazer surf, a conduzir automóveis, a passear
no campo, a mergulhar na praia.
Cada morte é, para os seus familiares, uma tragédia, mas não podemos
viver numa rodoma à prova de riscos, viver é um permanente risco e nem a mais
extremada prudência nos coloca a salvo dos imponderáveis. Não teremos jamais
capacidade de prever tudo o que vai acontecer, o mundo não é determinista,
ponto.
Temos de ter alguns cuidados, para minimizar as probabilidades de sermos
apanhados na roleta, mas só isso.
A instrução dos comandos é dura. É tão dura quanto possível. E por muitos
cuidados que se tomem, todos sabemos que " o diabo faz fogo com uma tranca
de pau".
Estive nos Comandos e vi morrer alguns camaradas. Não só nos comandos,
sublinhe-se. O meu primeiro contacto com a morte em directo, no meio militar,
foi quando tinha 18 anos e era cadete. Um jacto Fiat G 91, enganou-se no alvo e
disparou sobre nós, matando o cadete Minas e ferindo gravemente o Pinto de
Almeida.
Não se proibiram, que eu saiba, nem os jactos, nem o treino de ataque ao
solo.
E poderia continuar a desfilar casos.
Outros países, bem mais pintados, assumem que o treino militar encerra
riscos e aceitam-nos. Só o ano passado, morreram três militares nos treinos dos
SAS.
São dezenas, só neste século.
Não fiz pesquisa alguma, mas não tenho quaisquer dúvidas que o mesmo
acontece nas tropas especiais de todos os países do mundo.
Não há milagres.
Quem leva a sério o que faz, em termos militares, sabe que o combate é
pior do que tudo o que se possa treinar. Pensar que o treino de uma tropa
especial, não é mais do que um acampamento de escuteiros, em condições vigiadas
de pressão e temperatura, é uma grossa asneira.
Se se entende que um país tem de ter militares preparados para o pior,
então há que aceitar que no treino vão acontecer acidentes e haverá baixas.
Que devem ser investigadas, sentidas, evitadas, choradas, mas sem passar
daí para a estupidez demagógica e populista de pôr tudo em causa.
Não o fazem em França, não o fazem no Reino Unido, não o fazem nos EUA,
não o fazem em Espanha, nem em nenhum país a sério.
E também não o fazem por cá, quando não se trata dos comandos. Há tempos
faleceu um piloto da Força Aérea num acidente com um C-130.
Vamos fechar a Força Aérea?
Isto tudo para dizer que quando se trata dos Comandos, o fogo que faz
rabiar muita gente, é o que está aceso desde 1975. Basta lembrar, por exemplo,
que um dos cabecilhas do golpe, capturado na Ajuda pelos Comandos, era o então
Major Mário Tomé, hoje "assessor" do BE.
Afinal o senhor coronel não mais é do que um ressabiado do 24 de abril e, ainda não percebeu, passados 50 anos que Portugal finalmente é uma democracia onde até gente como ele pode falar livremente sem que os seus correligionários da extinta PIDE intervenham. Comando ou não trata-se dum direitolas ressabiado. Aconselho Alk Setzer!
ResponderExcluir