terça-feira, 4 de setembro de 2018

[Aparecido rasga o verbo] Um balão à mercê do vento e o curto-circuito anunciado

Aparecido Raimundo de Souza

MAIS UM ITEM IMPORTANTÍSSIMO para acrescentarmos à enorme lista negra desse Brazzil sem porteira. Além de país de ladrões, de vigaristas, de safados, de juízes corruptos, de presidentes que se vendem por sítios e tríplex, de ministros que vomitam palavras bonitas, que defecam na tal da Carta Maior e pior, escudados nas máscaras misteriosas do STJ e outras siglas importantes (importantes??!! Kikikikikiki...) borram de estrumes os rostos escancarados e cheios de dentes (a maioria dentes podres) de uma nação inteira de cidadãos honrados, honestos, trabalhadores, todavia amordaçados e manietados diante de tantas barbáries e putarias, temos uma nova inclusão a ser feita. PAÍS SEM HISTÓRIA.

Isso mesmo, leitores amigos. PAÍS SEM HISTÓRIA. O Brazzil não tem passado, não tem presente. Futuro, então, nem se fala. Passou longe, numa nave em direção a um planeta longínquo. O pouquinho que restava da sua bela “história” viva, acabou de virar um amontoado de cinzas. Se criminoso ou acidental, não importa. Esse acontecimento ficará impune, como até agora ninguém foi preso, ninguém viu nada, ninguém sabe de porra nenhuma. Fazemos menção ao caso da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Pedro Gomes. Atentem, caríssimos, que desde o dia desse bárbaro crime (ocorrido em 14 de março, se passaram quase sete meses). Até agora a polícia do Rio de Janeiro continua a navegar num mar de ondas procelosas, sem ter como dar uma resposta clara e coerente à sociedade.

Caso idêntico, para se juntar a esse, não outro senão o incêndio no Museu Nacional, aqui na Quinta da Boa Vista (Zona norte da ex-Cidade Maravilhosa).  Com ele, boa parte da história do Brazzil foi literalmente para as cucuias. Viraram um amontoado de cinzas. Segundo informações que nos foram passadas, por pessoas com as quais conversamos, as chamas tiveram inicio por volta das 19h30min. As labaredas arrasaram o prédio construído em 1808 (ou mais precisamente há 210 anos).

Foto: Marcello Dias/Futura Press/Folhapress

Um acervo de mais de vinte milhões de documentos bibliográficos (entre outras obras de valores inestimáveis, até agora considerado como o mais completo da América Latina, aliás, o quinto em tamanho no mundo, incrivelmente, misteriosamente), virou fumaça. Dentre esses milhões, o maior fóssil humano encontrado. O de Luzia. O incêndio se fez tão violento e devastador que, após três horas do seu início, os homens do corpo de bombeiros abraçados a sete outros quarteis da região, não conseguiram debelar.

Correram rumores aqui nas redondezas, que houve dificuldades para se puxar água. Imaginem! Água. Na hora fatídica, quatro seguranças estavam no interior do prédio. Graças a Deus essas vidas foram poupadas. Os vigilantes que trabalhavam no catastrófico momento conseguiram sair a tempo. Demorassem dois ou três minutos, seriam queimados vivos. O museu da Quinta, que entre outras coisas abrigava documentos sobre a ocupação das Américas, que guardava murais de Pompéia, que acolhia o sarcófago da cantora de Ámon, Sha-Amun-em-su, que protegia a botânica de Bertha Lutz, que albergava o maior dinossauro brasileiro, virou horrenda torrada.


A casa do trono do rei Adandozan ficava aberta ao público de terça a domingo, e, nos feriados, das 10 da manhã até às 16 horas. O fogaréu atingiu todo o edifício e transformou em pó e fuligem duas extensas áreas onde jaziam expostas coleções raras, incomuns e atípicas, base de pesquisas para estudantes não só aqui do Rio, como de outras localidades que para cá se convergiam em caravanas. Além da parte administrativa, no terceiro andar, funcionava, igualmente, nesse pavimento, uma abastança linguística voltada ao povo indígena.

Como tudo o que havia em outros pisos, foi também de bandeja, para o raio que o parta, a carreira de quase noventa pesquisadores, bem ainda a sala onde D. Pedro II reinou. Em linhas gerais sucumbiu ante a incandescência das línguas fervorosas do medonho queimão, escafedeu sem tirar nem pôr, a magia, o encanto, e a soberba de presente, para a casa do Carvalho.

O Brazzil perde, com isso, o que nunca teve. E o que ele nunca teve? A sua história. Não só isso, a sua moral, a sua identidade, a sua dignidade. Em outras palavras: o seu berço-chão. Deixa no ralo, mais uma vez, o seu passado. Atira, aos porcos, um futuro que nunca chegou nascer. E nem chegará. E todos nós, brasileiros e brasileiras, continuaremos aqui. Sem eira nem beira, à espera que algum ministro futuro da chamada EDUCAÇÃO, num momento de visão bestial, tenha por seu país, conhecimento da verdadeira EDUCAÇÃO e saiba o que é, de fato, no sentido preciso, no sentido amplo, completo e complexo, o que deveria ser encarado como E-D-U-C-A-Ç-Ã-O.

Até lá, senhores, acreditem. Não existirá polícia federal, civil, militar, guardinhas de brinquedos, força nacional, exército, marinha, aeronáutica ou qualquer outra merda constituída que apareça e dê jeito. Que ponha um fim definitivo. Esse incêndio aqui no Museu da Quinta, nas barbas de São Cristóvão, não levará a nada. Ou melhor, levará sim. Desaguará num seguro milionário, talvez, desde que essa grana beneficie meia dúzia de malandros.

De próspero, a culpa cairá sobre um balão colorido cortando o azul celeste, um artefato ao acaso que alguém soltou por aí, ou melhor, TUDO FICARÁ POR CONTA DE UM MERO CURTO-CIRCUITO. As estátuas das divindades gregas que teimaram ficar em pé, por todo o corrediço do prédio agora ardido, que nos sinalize um ponto de apoio nesse vendaval sem fronteiras. E fim de papo.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. 4-9-2018

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