terça-feira, 21 de agosto de 2018

[Aparecido rasga o verbo] De volta ao passado

Aparecido Raimundo de Souza

NOS IDOS DE 1977 o escritor Lourenço Carlos Diaféria (nascido em 28 de agosto de 1930), foi preso e processado com base na Lei de Segurança Nacional (LSN ou Lei dos Salafrários Noiados), pela autoria de uma crônica intitulada “Herói. Morto. Nós”, considerada ofensiva às Forças Armadas. Notem que já naquele tempo, ou mais precisamente quarenta anos atrás, alguém descontente com a situação do país botava a boca no trombone, se insurgia veementemente contra as barbáries e as podridões da sua época.

O que mudou, desde então? Praticamente nada. Continuamos herói? Sim. Mas herói de quê? Da mesma nação fodida e malparida a querer eleger, por exemplo, um vigarista e malandro, ex-presidente condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, para governar. E que país é esse? Brazzil senhoras e senhores. O mesmo Brazzil conhecido como a Republiqueta de merda.
 
Na verdade, nos tornamos heróis a cada vez que saímos do conforto de nossas casas. De outro modo, nos fazemos heróis ao metermos os cornos para irmos à busca do pão de cada dia. O ato em si é um ato de heroísmo e de bravura. Sobretudo, de loucura e insensatez. Não sabemos, entretanto, se voltaremos vivos ou mortos. Continuamos heróis, porque lutar contra as intempéries do desconhecido, a cada amanhecer, é a mesma coisa que pugnar em desacordo com o desconhecido.

Pelejamos na mesma pernada no escroto, com armas insignificantes, ineficientes e sem as mínimas condições de sobrevivência.  Isso que fazemos não é heroísmo, é a mais pura e cristalina imbecilidade. Resumindo: somos todos, ou continuamos todos, desde os tempos de Lourenço Diaféria, sem tirar nem pôr, um enorme bando de idiotas.

Brigamos acirradamente contra as forças do mal e das correntes do incerto. E o que fazemos?  Nada.  Ser herói, portanto, é lutar contra nós mesmos, vencer nossos medos e cagaços interiores e botar para fora as amarguras que estão presas dentro de nossos corações. Continuamos heróis. Sempre. Mas heróis vivos ou mortos? Definitivamente mortos. E bem mortos. Morremos a cada movimento e novos passos. A cada gesto e palavras proferidas. Nessa engrenagem toda, somos ou pensamos ser o herói, ou (o “eroi”) dos nossos filhos pequenos, dos nossos netos.

Notadamente daqueles baixinhos inocentes que acreditam em contos de fadas, em cinderelas que perdem sapatinhos, nas brancas de neve que comem as maçãs envenenadas. Nas chapeuzinhos vermelhos que fogem dos lobos maus e nos enxergam com os olhinhos perenes e infantis de alguém que briga acirradamente como o Super Homem ou o Homem Aranha dos filmes da televisão que saem nas tapas e tabefes, com vilões de mentira, com desamáveis imaginários e, que no fim, sempre sucumbem diante da liturgia e a magnitude do bem.

A diferença dos filmes para a realidade, é que os nossos desprimorosos são de carne e osso e vão muito além daquilo que a nossa imaginação pode realmente quimeriar. Sem contarmos com o fato de que eles também não são nem um pouquinho de mentira.

Somos herói dos nossos filhos, porque para eles, conseguirmos trazer o pão e o leite, o feijão e o arroz com ovos para matar a fome negra de todos os dias é ser mais que herói. É, acima de tudo, ser um personagem púlvico que não pode faltar como aquele membro essencial para o corpo humano funcionar com precisão com todos seus movimentos em harmonia.

Esses atos de bravuras que nos acometem fazem parte da sobrevivência. Embora pelejemos com unhas e dentes para vivermos a cada novo dia, estaremos realmente mortos. Sabemos disso, porque a sociedade nos deixa sem saída, sem meios de escapes. Mortos, literalmente, porque não conseguimos sobrepor à vida lá fora, a vida além das cercanias do que chamamos de núcleo familiar.

Somos os mortos vivos de todos os instantes. Os zumbis e cazumbis do cotidiano. Formamos uma imensa fila de defuntos disformes, esqueletos “carcaçeados” que fenecem a cada novo segundo, em decorrência de balas perdidas, disparadas por assaltantes, com as caras fantasiadas de policiais. Aliás, por falarmos neles, referenciamos uma instituição despreparada, sucateada e sem lei. Esse é o sistema que nos passa uma ideia errônea de segurança de “mentirinha”. 

Em súmula, nos transformamos numa massa falida, disforme, que permanece estática, parada, inerte, sem movimento e ação, atirada em cima de mesas fétidas numa espécie sindromática de sala fria, necroterial, à espera e a mercê que a promiscuidade bárbara que nos abraça arranje caixões de segunda, esquifes fedorentos, covas e buracos e nos acomode dentro, como se fossemos lixo.

Diante desse quadro lúgubre perguntamos: faltaríamos falar alguma coisa da pomposa Lei de Segurança Nacional, a LSN ou como dissemos acima, Lei dos Salafrários noiados, a que correu atrás de Lourenço Diaféria?!  Acho que o humilde comentário que aqui fizemos bastou para o que pretendíamos deixar registrado. 

Nada, pois, a acrescentar, até porque, essa porcaria é uma Lei que não segura ninguém. Nunca segurou nem protegeu, diga-se de passagem. Por um tempo pode até ter sido possível. No tempo de Diaféria há mais de quarenta anos atrás.   Mas... cá entre nós... amigos e caros leitores, quanto as Forças Armadas, por Deus, QUEREMOS QUE ELA, COM TODOS SEUS GENERAIS E COMANDANTES, SEUS REPRESENTANTES E APANIGUADOS, SE FODAM E SE ESTREPEM LÁ PARA AS BANDAS DA PONTE QUE PARTIU, ou melhor, da PUTA QUE PARIU!
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Linhares, Espírito Santo. 21-8-2018

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A bússola que norteia o rumo da queda é tão selvagem como um onagro cego

Um comentário:

  1. 👏👏👏👏!!!! Estamos mortos com certeza, mortos na confianca, mortos na dignidade, mortos no respeito pelo nosso Brasil, mortos sem condições de ter descanso. Somos herois de nossos Filhos? Não sei estamos tao acovardados diante do que está acontecendo com nosso Brasil, alias me sinto envergonhada de ver pessoas fazendo greve de fome por causa de um ladrão safado, pessoas falando de um homem que está se de proclamando como se fosse Jesus, um mártir, uma vergonha ver essas pessoas adorando um ladrão. Não acredito que o Brasil tem jeito, virou simplesmente uma tumba onde estamos mortos, nós pessoas de bem. Carla

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