Péricles Capanema
Ninguém se preocupa com a joça
(nem a esquerda, quando não encena para a galeria). A palermice tem sede em
Quito, parlamento em Cochabamba e o presidente atual é o Evo Morales [na
foto, ao lado de Dilma Rousseff, numa das cúpulas da Unasul]. Só faz bem
duas coisas: torra dinheiro e dá vexame. A propósito, a cota brasileira para a
geringonça é de 4 milhões de dólares anuais, há três anos não paga. Pagar e
pendurar dá na mesma.
Vou apresentá-la melhor. Da Lansul
participam, ou participavam, 12 países; ia dizendo 12 patetas: Argentina,
Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Peru, Chile, Suriname, Guiana, Venezuela,
Colômbia e Brasil (para vergonha nossa). Já existia desde 2004 uma altissonante
Comunidade Sul-americana de Nações, da qual brotou em 2008, gestada por
hierofantes da política, à frente dos quais Hugo Chávez. Entre outros, Lula,
Nestor Kirchner (depois a mulher), Evo Morales, Rafael Correa, Tabaré Vásquez
(depois José Mujica), Michelle Bachelet. Lustroso plantel, embora de padrão
terceiro-mundista.
O bruxo-mor da estrovenga
sempre foi o coronel Hugo Chávez [na foto abaixo, ao lado de Lula da
Silva, numa reunião da Unasul]. O grande objetivo, fazer frente à
influência norte-americana na região. Em agosto de 2009, esbravejava
Chávez: “Chegou a hora da América do Sul, a hora da Unasul, confiamos
na capacidade política de nossa nascente união para enfrentar agora essa ameaça
[a influência dos Estados Unidos] que compromete o futuro de nossas repúblicas,
o futuro de nossos povos e o futuro de toda a humanidade”. O futuro da
Venezuela, bem entendido, não estava comprometido pelos delírios bolivarianos.
Nos últimos anos, 2,2 milhões de venezuelanos deixaram o país, fugindo da fome
e da ditadura, buscando futuro em outras regiões não flageladas pelo
bolivarianismo.
A propósito, é óbvio, os
Estados Unidos estão morrendo de medo da Unasul, os políticos em Washington nem
conseguem dormir só de pensar que na América do Sul atua tal organização…
Em abril passado, Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru finalmente anunciaram que deixariam de
participar da Unasul. Não dava mais seguir fingindo que a tal estrutura não é
um disparate dos pés à cabeça. Iam se reunir, formar comissões, emitir
comunicados, coisas assim, tomar atitudes. Já estamos em agosto e quase nada.
A Colômbia forçou os
acontecimentos, deixou a lenga-lenga, deu o bom exemplo de como as coisas devem
ser feitas. Em resumo, apressou o passo, comunicou aos demais e lerdos
participantes da maluqueira chavista: “Estou fora”.
Mergulhemos nos fatos
recentes. Ivan Duque, o novo presidente colombiano, havia prometido durante a
campanha tirar a Colômbia desse ambiente tóxico. Preto no branco, não admitia
mais seu país “cúmplice da ditadura venezuelana”. Explicou: “Sou
a favor de que a Colômbia se retire da Unasul, não podemos pertencer a uma
organização que foi criada por Chávez para legitimar o seu regime e foi uma
grande promotora, por seu silencio, de uma ditadura. Parte da tragédia que se
vive na Venezuela se deve à grande indiferença dos países latino-americanos”.
Com três dias no cargo de
mandatário supremo da Colômbia cumpriu a promessa. Na sexta-feira, 10 de
agosto, Carlos Holmes Trujillo [foto ao lado], ministro das
Relações Exteriores, anunciou que a Colômbia estava abandonando a Unasul. “É
uma decisão política irreversível”. Acabou. O ministro convidou os
outros países a se unir a este avanço no rumo da liberdade, da decência e da
respeitabilidade. “Estamos em um processo de consultas com outros
países que, aparentemente, desejam tomar o mesmo rumo. Se for consolidada
decisão similar, atuaremos em conjunto”.
Se não for, paciência. A
Colômbia tomará sozinha a atitude. Grande avanço. Pelo menos um país da América
do Sul deixa de fazer papelão feio diante do mundo. Nem todos entre nós
escolheram a apatia no pântano do retrocesso.
Título, Imagens e Texto: Péricles Capanema, ABIM,
22-8-2018
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