domingo, 26 de agosto de 2018

O comissário Moedas, Le Pen e o Bloco

O comissário europeu Carlos Moedas apoiou o ‘desconvite’ a Marine Le Pen para falar em Portugal, dizendo que «o Web Summit é a abertura ao mundo, logo todos aqueles que acreditam num mundo fechado não têm lugar».

José António Saraiva

O jovem comissário não se apercebeu certamente da contradição em que caiu.

Se a Web Summit é ‘a abertura ao mundo’, lá deviam caber todas as opiniões, mesmo as hostis ao establishment.

Ora, ao censurar Le Pen, a Web Summit mostrou só estar aberta a determinadas opiniões, excluindo outras.

É, portanto, um acontecimento fechado e não aberto, ao contrário do que disse Moedas.

Carlos Moedas [foto] é uma figura curiosa.  Tem emprego em Bruxelas mas está constantemente em Portugal.


Se calhar, só vai a Bruxelas buscar as… moedas, e a sua aposta principal é na política portuguesa.

Aliás, chega a parecer um ministro deste Governo, tantas são as vezes que o vemos ao lado de António Costa em eventos pelo país fora.

Estranho também é o facto de, sendo um europeísta, ter um conceito sui generis de ‘democracia’.

Não é suposto nas democracias haver liberdade de opinião, cabendo aos cidadãos fazer as suas escolhas – e não a uma qualquer comissão de censura prévia?

Até porque, a haver essa comissão, quem a constituiria?

Quem escolheria as pessoas com e sem direito a falar?

Carlos Moedas, por exemplo, achar-se-ia habilitado a fazer parte dessa comissão?

E se, em vez de Marine Le Pen, a WebSummit tivesse convidado o inglês Jeremy Corbyn, qual seria a sua posição?

Concordaria? Discordaria?

O facto de Corbyn ser de extrema-esquerda mudaria as coisas?

E na mesma linha, pergunto: o que seria (será) mais desestabilizador para Portugal – um discurso de Marine Le Pen na WebSummit ou a campanha feita todos os dias pelo Bloco de Esquerda no país inteiro?

Não é verdade que o BE também tem um discurso antieuropeu, defendendo que Portugal não devia sujeitar-se à tirania de Bruxelas (e, até, não devia pagar a dívida)?

Não é verdade que o BE tem uma agenda que apela à desobediência nas fábricas e à agitação nas ruas, tendo chegado durante o tempo da troika a apoiar a insubordinação dos agentes da Polícia que tentaram invadir o Parlamento?

Não é verdade que o BE refuta certos valores civilizacionais, como o respeito pela vida, ao defender o aborto e a eutanásia?

Não é verdade que o BE quer reescrever a nossa História, apelando, por exemplo, a que tenhamos vergonha dos Descobrimentos?

E não será isto mais desagregador do que um discurso de meia hora num recinto fechado, por muito incisivo que fosse?

O BE acusa Le Pen de ser ‘fascista’, achando por isso legítimo proibi-la de falar.

Mas por que razão os comunistas podem falar mas os fascistas não?

O que os diferencia?

Em 1980, ainda com os ecos da revolução de 25 de Abril em fundo, Sá Carneiro interrogava-se: «Que motivo há para a Constituição proibir os partidos fascistas, mas admitir o Partido Comunista?».

Que superioridade moral tem a extrema-esquerda sobre os fascistas?

No BE e no PCP há muita gente que apoiou (e se calhar ainda apoia) Estaline e Mao Tsé-Tung; ora, os dois juntos carregam muito mais cadáveres às costas do que Hitler e Mussolini.

É certo que não queremos um Governo fascista.

Mas quem quer em Portugal um Governo do Bloco de Esquerda?

Diz-se que um Governo fascista acabaria com as liberdades.

Mas um Governo do BE faria o quê? Defendê-las-ia?

Pelo apoio à proibição da vinda de Le Pen à WebSummit, temos a resposta.

Resumindo, podemos dizer que, nem no respeito pela liberdade, nem no respeito pelas referências históricas, nem no respeito pelos nossos princípios civilizacionais, há qualquer superioridade moral da extrema-esquerda portuguesa em relação a Le Pen.

Mas então, por que motivo Catarina Martins aparece todos os dias nas TVs a discursar, a dizer o que quer, a fazer a sua propaganda – e Le Pen não pôde fazer sequer um discurso num evento pontual?

Nenhum homem livre deveria ter ficado indiferente perante o que aconteceu.

Ora Carlos Moedas não só o aceitou como foi mais longe e disse que era muito bem feito.

E acrescentou ter «desprezo» por Le Pen – o que não é muito elegante, sendo ele comissário europeu e tendo sido ela candidata às eleições francesas, conquistando um terço dos votos, devendo ainda candidatar-se às próximas eleições europeias.

Ou acha Moedas que a França também deveria proibir Le Pen de se candidatar?

E, já agora, quererá Moedas um dia impedir-me de escrever, considerando que pessoas como eu, que defendem a liberdade de opinião de políticos como Le Pen, não devem ter voz na comunicação social?
Título e Texto: José António Saraiva, SOL, 26-8-2018

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