Ministros do STF estão brincando com a Constituição, com o decoro e com a cara da população
Guilherme Fiuza
Luís Roberto Barroso [foto] disse que assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal se não houver golpe. Ele não disse isso numa mesa de bar, com dez doses de pinga na cabeça. Disse isso publicamente, na condição de ministro da mais alta corte judiciária. Numa democracia mais ou menos saudável, Barroso teria de explicar à sociedade a que golpe se refere.
Mas o Brasil vive hoje um
ensaio de democracia particular, em que uma amizade colorida entre togados
criativos, mídias à la carte, milionários desinibidos e mandatários
de cabresto experimenta transformar suas vontades pessoais em lei, para ver o
que acontece. Até aqui a experiência tem tido um êxito surpreendente. Vale até
humilhar empreendedores graduados, transformando-os na marra em caso de
polícia.
A sociedade está assistindo a
esse ensaio bizarro em silêncio, entre um murmúrio encabulado aqui e um lamento
inaudível ali. A humilhação imposta aos empreendedores não precisou de
processo, investigação, instrução ou denúncia. Bastou a química entre um
senador histriônico e um ministro voluntarioso. Assim se procedeu à devassa na
vida e nas empresas dos alvos escolhidos. A química não estaria completa sem a
boa vontade do consórcio — que antigamente se chamava imprensa — com a
tabelinha envolvente da dupla Randolfe & Alexandre.
Um papo de WhatsApp virou
arquitetura de golpe num passe de mágica. Como já dissemos, no novo modelo de
democracia particular o direito pode emanar da vontade de três pessoas — a que
produziu a manchete voadora, a que transformou isso em fato jurídico e a que
usou essa doce salada para sujeitar cidadãos em dia com a lei à coerção do
Estado. E transformar a suprema corte em central de fofoca — distribuindo aos
quatro ventos a historinha do golpe.
Vale
até ser ministro da suprema corte e participar de um comício disfarçado de
seminário para conspirar contra o presidente da República
Seria a esse golpe imaginário que Barroso estava se referindo? Ele não precisa explicar. Afinal, um ministro que brinca de caraoquê com jornalista influente do consórcio não deve satisfações a ninguém. Qualquer coisa que ele diga aparecerá como um brado democrata na televisão. Mesmo assim perguntaram a ele, com jeitinho, sem querer ofender, o que significava aquela referência súbita a um “golpe”, e o eminente togado respondeu que estava brincando.
Para a missão de ministro
brincalhão, não seria melhor passar a toga ao Tiririca? Pior do que tá não fica
— como dizia o slogan do palhaço.
E Barroso é reincidente no
picadeiro. Foi visto no Congresso Nacional comentando com seus áulicos, num
passeio alegre pelos corredores da Câmara dos Deputados, que “eleição não se
ganha, se toma”. Pura descontração. Ao saber que tinha sido gravado, o ministro
do Supremo sacou o seu habeas corpus circense: estava
brincando.
É exatamente isso que está
ocorrendo. Ministros do STF estão brincando com a Constituição, com o decoro e
com a cara da população. O golpe de brincadeirinha mencionado por Barroso tem
sido o pretexto para medidas que não são de brincadeira, como o atropelo do
Ministério Público pelo ministro Alexandre de Moraes, conforme assinalado pela
vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo. Mas, como o inquérito em
questão era contra o presidente da República, Moraes estava amparado pela Lei
Maior: a caça ao fascismo imaginário.
Contra
o “golpe bolsonarista”, essa entidade transcendental, vale tudo.
Vale até ser ministro da
suprema corte e participar de um comício disfarçado de seminário para conspirar
contra o presidente da República. Mas não era conspiração, era só brincadeira.
O patrocinador do evento, o empresário Jorge Paulo Lemann, declarou em sua
palestra que em 2023 o Brasil terá um novo presidente. E Luís Roberto Barroso
(o do golpe de brincadeirinha) disse que “nós somos mais fortes que eles” —
respondendo a uma pergunta da deputada e afilhada política de Lemann sobre como
fazer para Bolsonaro não se reeleger.
Tudo isso aconteceu nos
Estados Unidos da América (Boston), porque o exterior é naturalmente mais
aconchegante para o propósito de achincalhar a democracia brasileira. De
brincadeira, claro.
Aguce o seu olfato e responda:
de onde vem o cheiro de golpe? Se você não responder logo, em alto e bom som,
os brincalhões de toga responderão por você.
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, Revista
Oeste, nº 128, 2-9-2022
FOTO LEGENDADA DO MI"SI"NISTRO LUROBA (AI EM CIMA):
ResponderExcluir- Eu quero uma cadeira nova. Determino que o STF (Sou Totalmente Folgado) me coloquem uma merda de uma cadeira nova. E determino na mesma Fula, digo Fala, que o fotografo que tirou a minha foto tire a dita do banheiro... olhem para minha cara... pareço um menino? Tenho cara de Fábio Jr ??!!
Aparecido Raimundo de Souza
de São Paulo, capital