J.R. Guzzo
As manifestações populares em
massa do dia Sete de Setembro, quando mais de 1 milhão de cidadãos cobriram as
ruas de verde e amarelo, por livre e espontânea vontade, para declarar o seu
apoio e o seu voto em favor ao presidente Jair Bolsonaro, tiveram de imediato
um efeito altamente instrutivo para o entendimento do Brasil como ele é.
Trouxeram à plena luz do sol, mais que em qualquer momento recente, um fato
essencial da vida política deste país: o horror puro, simples e recalcado da
elite em geral, e da esquerda em particular, pelo povo brasileiro. Em geral
isso é escondido por trás de filosofança hipócrita, barata e pretenciosa, em
seminários de ciência política e em mesas redondas com “especialistas” na
televisão. Desta vez, porém, ficou escancarado demais, e declarado em todas as
letras. É mais do que horror - é ódio mesmo.
É indiscutível que a multidão
toda que estava na rua no dia Sete de Setembro era o povo brasileiro. Se não
era, de onde teria vindo, então, toda aquela gente – de Marte? Também é indiscutível
a tempestade de ira que a presença do povo na praça provocou de imediato na
esquerda. O ex-presidente Lula foi o mais insultuoso: comparou as manifestações
a uma ”reunião da Ku Klux Klan”, a sociedade secreta dos racistas norte-
americanos (ou “Cuscuz Klan”, pelo que deu para entender do que ele disse.) É
isso o que Lula pensa do povo do Brasil quando este povo se declara contra ele
– é tudo “racista”. Já o ministro Luís Roberto Barroso disse que os
manifestantes eram “fascistas” – segundo ele, o dia Sete de Setembro serviu
para mostrar “o tamanho do fascismo” no Brasil. A mídia se cobriu de editoriais
aflitos com a “ameaça à democracia” representada pelo fato de que a população
foi às ruas de todo o país, em demonstrações sem um único ato de desordem ou
incidente de qualquer tipo.
Em
geral isso é escondido por trás de filosofança hipócrita, barata e pretenciosa,
em seminários de ciência política e em mesas redondas com “especialistas” na
televisão
O fato, e esse é o único fato que interessa, é que na comemoração dos 200 aos da independência do Brasil o povo brasileiro cometeu o crime de ir para a rua sem pedir licença à Lula, aos ministros do STF, aos jornalistas e ao resto da elite. Pronto: está tudo amaldiçoado como manifestação de extrema direita – racista, fascista e “antidemocrática”. O que poderia provar com mais clareza o ódio deles todos pelo povo? A possibilidade de Lula levar às ruas do Brasil uma multidão comparável é zero. Ele e PT sabem perfeitamente disso. Resultado: reagem automaticamente, então, com a hostilidade compulsiva por tudo o que não está debaixo das suas ordens. Como não podem dizer que aquela massa toda não era o povo brasileiro, dizem que o povo brasileiro está errado em sair à praça pública para manifestar as suas preferências políticas. A democracia que defendem para o Brasil é isso. O adversário não pode abrir a boca.
A dificuldade, para Lula e
para a esquerda, é que a população de verdade só vai mesmo para rua para se
manifestar contra ele – e, neste momento, a favor do presidente da República.
Lula, na verdade, não sai jamais – e nem o PT consegue juntar gente para uma
manifestação de massa, além de umas miseráveis aglomerações com a do lançamento
da sua “Carta aos Brasileiros”. Ficam fechados com grupinhos de sindicalistas,
artistas e mais do mesmo; é este o seu mundo. É extraordinário, positivamente,
que o candidato que se apresenta como “popular” não possa ir, sequer, a um
estádio de futebol, porque tem medo de levar vaia; não foi a um único jogo Copa
de 2014 no próprio Brasil, em pleno reinado de Dilma Rousseff e do seu partido.
Na ocasião ficou escondido em casa. Hoje, com o mesmo medo de aparecer em
público, chama de racistas os brasileiros que não querem votar nele.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 19-9-2022, 15h03
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