Reconhecer isso é crucial para
eventualmente reverter o quadro. Afinal, a forma mais rápida de perder uma
guerra é fingir que não está nela
Rodrigo Constantino
Participo de um grupo de
WhatsApp com alguns intelectuais liberais e conservadores, enquanto isso ainda
é permitido no Brasil. Após a ação civil pública, de dois procuradores do
Ministério Público Federal de São Paulo, pedindo a cassação de concessões de
telecomunicação da Jovem Pan, iniciou-se um debate no grupo sobre como definir
o que temos em nosso país hoje. Alguns sustentaram que o correto é falar em
“democracia iliberal”, outros preferiram o termo “ditadura” mesmo, mais direto.
“Que diferença faz?”, pode
perguntar o leitor. Sou alguém chato com conceitos, pois eles importam. Mas a
essência é mais importante do que o nome, sem dúvida. Se balança o rabo como um
cachorro, late como um cachorro e anda como um cachorro, você pode até chamar
de gato, mas é um cachorro. Falar em “democracia iliberal” serve, em minha
opinião, apenas para suavizar nossa triste realidade. A “democracia” brasileira
age como uma ditadura, persegue como ditadura, censura como ditadura. Logo, é
uma ditadura!
E reconhecer isso é crucial para eventualmente reverter o quadro. Afinal, a forma mais rápida de perder uma guerra é fingir que não está nela. Todos aqueles que aceitam o verniz de normalidade institucional no Brasil hoje colaboram para o avanço do regime opressor. Chamar juristas para opinar na imprensa sobre as decisões de ministros supremos ou do TSE, como se fosse um debate sério sobre Direito, é conceder uma aparência de legitimidade ao que é claramente decisão política.
Tenho lugar de fala. Sou alvo
da ditadura, da censura prévia inconstitucional, tive minhas contas bancárias
congeladas e até meu passaporte cancelado, sem qualquer crime cometido.
Portanto, não esperem que eu participe de um simulacro de democracia, ainda que
com a qualificação de “iliberal”, quando sei na pele se tratar de uma tirania
abjeta. Aquela que conta com o Poder Judiciário como instrumento é a pior de
todas, pois dá ares de legalidade ao que não tem, e não há a quem recorrer.
Por medo, muita gente está
calada. Mas ninguém atento e sério vai negar que inúmeros atos são típicos
apenas em ditaduras. Criaram a falsa premissa de que a direita “bolsonarista” é
uma ameaça terrível à democracia, que o ex-presidente é golpista e genocida, e
que persegui-lo e a seus apoiadores é questão de sobrevivência democrática.
Para “salvar a democracia”, aceitaram as práticas ditatoriais, o duplo padrão
que acaba com o império das leis, a censura, a prisão arbitrária, tudo!
O ministro que recebe tapinha
no rosto de Lula e diz “missão dada é missão cumprida” ao pé do ouvido de
Alexandre de Moraes vota pela inelegibilidade de Bolsonaro pelo “conjunto da
obra” e pelo “flerte com o golpismo”. Criamos crimes novos, ridículos, e a
velha imprensa aplaude. É tudo tão escancarado que nem mesmo um tucano
moderado, se tiver um pingo de decência, vai negar a perseguição política. O
intuito é eliminar a direita do jogo e voltar ao velho esquema corrupto das
esquerdas, com a presença da “direita” permitida para fingir que há
pluralidade.
Nenhuma tirania se satisfaz
com isso e recua voluntariamente depois de saciar sua sede de poder. Quando a porteira se abre para perseguir impunemente
determinado adversário político, passa a boiada toda
O teatro, porém, é patético e
não engana mais ninguém, apesar do esforço dos veículos de comunicação que
vibram com a destruição de um concorrente — efetivamente plural, ao contrário
deles, com hegemonia esquerdista em seus cinquenta tons de vermelho. A Gazeta
do Povo, único jornal sério entre os grandes que restou no país, escreveu
um editorial esta semana sem rodeios, onde conclui:
“O que temos, portanto, é uma enorme sequência de criminalização de opiniões que não são criminalizáveis, apoiada pelo uso de conceitos que também não constituem nenhum ilícito legalmente definido, usada para se solicitar uma medida completamente desproporcional que traz de volta os abusos do regime militar brasileiro e o de ditaduras de esquerda como a venezuelana e a nicaraguense. Cabe ao Judiciário responder ao ativismo militante dos procuradores do MPF com a defesa sólida das liberdades de expressão e de imprensa, pois a retirada de concessões de veículos de comunicação por ‘crimes de opinião’ é sinal de que o autoritarismo avança a passos largos no país.”
O único problema é que o Poder
Judiciário tem sido justamente o principal instrumento para essa perseguição
tirânica. O sistema podre e carcomido se uniu para criar a “democracia sem
povo”, a “liberdade sem contraditório”, a tirania perfeita, com ares de
legitimidade democrática. Infelizmente, não são poucos os que ainda se negam a
enxergar o óbvio, pois os perseguidos são associados ao movimento conservador.
Ocorre que nenhuma tirania se
satisfaz com isso e recua voluntariamente depois de saciar sua sede de poder.
Quando a porteira se abre para perseguir impunemente determinado adversário
político, passa a boiada toda, e qualquer um que passar a criticar o regime
será também alvo. Afinal de contas, não é crítica, é “ataque às instituições”,
e isso o sistema não pode tolerar. Quando aceitam essa premissa contra
Bolsonaro, ou Deltan Dallagnol, ou Daniel Silveira, ou Paulo Figueiredo, ou
Jovem Pan, não há qualquer razão para ficar restrito a eles o abuso de poder.
Acreditar no contrário é prova de profunda ingenuidade dessas focas que vibram
com cada golpe na direita, encantadas com a força do tubarão. Elas nem se dão
conta de que também serão devoradas depois…
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Revista Oeste, nº 171, 30-6-2023
A guerra contra a Jovem Pan
Fora do jogo
Ninguém compreendeu a figura de Jair Bolsonaro
Monark depõe na Polícia Federal
População brasileira chega a 203,1 milhões de pessoas em 2022
Uma cidadã brasileira esteve sozinha junto ao local onde o Diretor Geral da OMS foi condecorado, em Coimbra... Um grande exemplo de resiliência!
Calvário no TSE?
O jacobino Anarcharsis Cloots escreve République universelle (República universal) em 1792.
ResponderExcluirNo ano seguinte constitui as bases constitucionais da república do gênero humano.
Robespierre, o então senhor todo-poderoso, não gostou. Achou extremista demais. Vai daí, sem tapinhas nem beijos, mandou Anarcharsis para a guilhotina.
Salut!