A jornalista Bruna Castro conta suas peripécias durante uma crise de farmacodermia e sua tentativa de receber tratamento no hospital que escolheu, o Samaritano Barra
Trata-se de uma porta dupla, com resquícios de um letreiro – arrancado sem cuidado – onde se leu um dia “EMERGÊNCIA”. Meto a mão na porta. Mas está trancada. Então saio do tal pátio e ando – me arrastando – até o verdadeiro pronto socorro, que não é onde o totem diz “EMERGÊNCIA” e nem onde um dia esteve escrito a mesma coisa. Lá, um lindo balcão de ônix retro iluminado – adoro, tenho nos banheiros de casa – com diversos atendentes. Uma delas insistentemente no celular, aparentando uns 20 anos. Ri bastante. Está feliz brincando com a colega ao lado. Mas eu não, pois estou com uma farmacodermia que toma meu corpo inteiro (alergia a um medicamento). Espero ela terminar de brincar. Uma senhora idosa cambaleante recém atendida pede para saber onde é o consultório 4. A moça que brinca no celular não sabe. Mas sabe usar o facebook. Jovens sabem dessas coisas.
Por fim, consigo me registrar.
Me entregam um papel branco recortado para eu mesma preencher com meus dados,
enquanto a atendente continua feliz no celular. Preencho. Recebo uma pulseira
laranja e teoricamente serei atendida rapidamente. Estou coberta de brotoejas e
com a língua inchando. 30 minutos depois, não sou atendida. Meu marido reclama,
diz que eu devia ter ido ao Miguel Couto em voz alta, que em emergência eles
são treinados. A atendente então chama ele “discretamente” e organiza
finalmente o atendimento. Sou atendida por uma excelente médica. Exatamente o
que eu esperava de um bom nome como o Samaritano. Ela ouve tudo, faz uma ótima
anamnese; por sorte, ela é dermatologista, e entende o problema. Chega a me
explicar que vai dar uma pioradinha antes de melhorar. E me indica a
internação.
No ato da internação, sou
informada que vou ficar “uns minutinhos” no Hospital Vitória, vizinho de porta,
enquanto me arrumam um quarto. Sou enviada para o leito 8 do Vitória. Tudo
bacaninha, mas eu vim ao Samaritano – meu plano me dá este direito. Entro no
leito 8 do Vitória exatamente as 14h com meu marido, que trabalha no Centro, e
tem trabalho a fazer, mas combinou de me acompanhar até eu chegar no meu
quarto. Às 14:30 informam que meu quarto – 225 – está pronto e que “já, já” vou
ser transferida. As horas passam. Muitas. Do lado de fora do leito 8 ouço os
funcionários conversando, eles vêm e vão. Nada acontece. Abordo duas vezes o
rapaz que fica exatamente na porta do meu leito numa mesinha com computador.
Ele responde as 2 vezes que “o quarto está pronto”, mas que ele “precisa ter
tempo de preparar a internação”. As horas se passam, mas ele não tem tempo
nunca. E vai embora. Entra o outro plantão. O novo plantão desdiz o rapaz
anterior: diz que não está pronto o quarto. Eu continuo lá, com meu marido.
Mais horas passam; e a paciente/cliente do Samaritano acaba ficando no Vitória.
Resta saber se meu plano vai pagar a conta do Vitória ou a do Samaritano!
Os amigos vêm me visitar;
perguntam por mim na recepção do Samaritano. Lá dizem que eu não estou
internada no hospital. Eles então vão ao Vitória, onde eles também dizem que
não estou. Uma amiga brinca comigo que quando não quiser pagar as contas ou ser
encontrada devo me internar lá novamente. Penso: esse Samaritano Barra
existe mesmo ou é só um hospital de fachada? Peço para ir ao banheiro
da emergência do Vitória. Os funcionários gentis me direcionam para o banheiro.
Na porta diz “Banheiro para Colaboradores”. Entro – lembra que estou toda
ardida e com locomoção difícil – e o banheiro é na verdade um cubículo, onde
sequer minha perna cabe entre o vaso e a parede. Meu marido é da área de
imóveis, ele me explica que se o banheiro fosse para pacientes, não poderia ser
tão pequeno e teria regras mínimas, então eles podem ter posto a placa que é
“pra colaboradores” para evitar fiscalização. Ah, bem. Que mundo a gente vive,
e o colaborador não tem que ter espaço para sentar direitinho? Enfim, estou
mais preocupada em ir para o meu quarto no hospital que escolhi.
Quase 6 horas depois, sou
finalmente levada para o meu quarto no Samaritano, onde tenho outras histórias para
contar, mas…fica para outro dia, ainda estou toda me coçando! Todos os procedimentos
de emergência – que duraram cerca de 6 horas – foram executados no Vitória,
exceto o atendimento da excelente médica do Samaritano que me atendeu por 20
minutos. É como pagar uma viagem de classe executiva e receber uma viagem de
econômica. Ou ser encaminhada à rodoviária, que aliás tem um banheiro bem
melhor que o “dos colaboradores”.
Uma sopa de erros, que não
consegui expor a ninguém nos dois hospitais, pois sequer fui atendida por
ninguém com condições de apresentar a justificativa de toda esta confusão.
Sequer atendem o telefone. Talvez leiam jornal.
Título, Imagem e Texto: Bruna
Castro, Diário do Rio, 11-7-2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-