quarta-feira, 2 de agosto de 2023

"Católico (mas pouco)"

Henrique Pereira dos Santos

Não tencionava escrever sobre as jornadas mundiais da juventude, fosse sob que ponto de vista fosse.

Mas ao ler a capa do Público, que qualifica Portugal como país "católico (mas pouco)", achei curioso e resolvi escrever este post, depois da epifania que se seguiu à leitura do jornal.

Fui ver qual era a razão para o Público escrever na capa esta revelação.

Sem estranheza, era uma peça de Natália Faria, uma anticlericalista militante que escreve no Público sobre a Igreja Católica (estive para escrever que escrevia sobre religião, mas não a associo às questões religiosas fora do paroquial anticlericalismo militante que existe em Portugal, sobretudo entre as elites, há mais de trezentos anos, embora se achem sempre moderníssimos).

Toda a peça se baseia em declarações de uma senhora Teresa Toldy, que apresento de seguida:

"Teresa Maria Leal de Assunção Martinho Toldy é doutorada em Teologia (área da Teologia Feminista) pela Philosophisch-Theologische Hochschule Sankt Georgen (Frankfurt/Alemanha), Mestre em Teologia (ramo de Teologia Sistemática) pela Universidade Católica Portuguesa, Licenciada em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa. Pós-doutorada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Professora Catedrática da Universidade Fernando Pessoa (Porto), onde ensina Ética. Investigadora do CES integrada na Linha Temática "Democracia, justiça e direitos humanos". Co-coordenadora do Grupo de Trabalho POLICREDOS, juntamente com Júlia Garraio e Luciane Lucas Santos, bem como do grupo de trabalho GPS, juntamente com Ana Cristina Santos e Madalena Duarte. Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres, entre 2009 e 2014. Membro do Conselho Editorial da coleção e da revista da ESWTR (Studies in Religion), associação à qual pertence. Domínios de Especialização: Religião; Estudos feministas. Outros domínios: Cidadania. Com várias publicações na área da religião, género e estudos feministas".

Pois bem, no essencial, embora 80% da população portuguesa se declare católica nos censos (para minha surpresa, pensei que hoje fossem menos as pessoas a declarar-se católicas), na verdade, de acordo com o Público, não são nada católicos.

Lapidarmente (diz Natália Faria, que se declara jornalista, mas faltam-me estudos para me meter nessa discussão), Teresa Toldy explica que perguntados sobre a relação entre o pagamento de impostos e a sua filiação católica, a esmagadora maioria dos que se dizem católicos não sabem responder, portanto, são católicos que nem conhecem a doutrina social da Igreja, portanto não são católicos a sério.

Coitados do Santo Agostinho ou se São Tomás de Aquino, que nunca puderam ser católicos porque nessa altura ainda se estava muito longe de haver uma doutrina social da Igreja.

Toda a gente sabe que a parte substancial dos dez mandamentos é sobre a Autoridade Tributária, o que quer dizer que o facto de uma pessoa se declarar católica sem conhecer a doutrina social da Igreja só quer dizer que, afinal, não é nada católica.

Lá ser um homem, ter um cromossoma Y e outro X, mas declarar-se mulher, sim senhor, não há discussão possível sobre isso, agora uma pessoa declarar-se católico é que nem pensar, é preciso passar pelo crivo de Teresa Toldy e, consequentemente, pelo crivo do Público.

Não é católico quem quer, era o que mais faltava, católicos, católicos, em Portugal, são uma quase inexpressiva minoria com que nem vale a pena contar, diz o Público e, se calhar, diz muito bem.

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 1-8-2023

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