Henrique Pereira dos Santos
Os governos, e os partidos que os apoiam,
devem ser avaliados mais pelo que fazem que pelo que dizem
O padrão destes últimos
governos do PS, os de António Costa, são muito consistentes: perante um
problema concreto, de pessoas concretas - pôr o filho da creche, escolher uma
escola, resolver um problema de saúde, melhorar a mobilidade, morar em algum
lado, etc. - ter sempre soluções de Estado e não soluções sociais, isto é, o
Estado inventa soluções para que o Estado se substitua à sociedade na resolução
dos problemas das pessoas.
Os resultados são os que
conhecemos, no acesso às creches, na dualidade de acesso ao ensino e saúde, nos
problemas de mobilidade, na habitação, etc., e, por consequência, nas finanças
do Estado e na carga fiscal sobre as pessoas: soluções ineficientes e com perda
de valor não geram sociedades mais ricas.
A questão central é que para este governo, este PS e os satélites que intermitentemente o apoiam (PC e BE), ganhar dinheiro é uma coisa boa, no caso dos trabalhadores, mas é uma coisa muito má, no caso dos donos das empresas que criam os postos de trabalho que geram a coisa boa de os trabalhadores ganharem dinheiro.
Vai daí, o governo, o PS, os satélites que intermitentemente os apoiam e os eleitores e apoiantes destes todos, acham horrível o negócio das creches, acham elitista o negócio do ensino, acham inaceitável o negócio da saúde, acham irrelevante a eficiência das soluções de mobilidade e acham que a habitação é um direito que não deve ser condicionado pelo mercado (um dia destes ouvi, voltei atrás para confirmar, Catarina Martins a dizer que em Portugal não existe nenhum controlo de rendas da habitação, "zero", dizia ela, ignorando, com certeza, a legislação aplicável à esmagadora maioria dos contratos de arrendamento existente em Portugal, não era por estar a mentir, presumo eu) e lá chegará o dia em que o governo virá a propor o programa "bitoque social", para garantir o direito a dos trabalhadores a almoçar fora, com base numa rede de restaurantes aderentes escolhidos pelo governo, a quem será exigida a compra de carne nacional, com certificação biológica e o fornecimento de refeições a um preço baixo, que o governo comparticipará depois da tutela da alimentação validar as faturas de cada almoço.
Olhar para a sociedade, olhar
para s capacidade instalada e para o capital disponível, confiar nas pessoas e
nas empresas e apoiar diretamente o beneficiário, dando-lhe a liberdade de
gerir a sua vida e os recursos a que acede, isso é que nem pensar, era o que
mais faltava que as pessoas quisessem fazer opções por si, abdicando, por
exemplo, do seu direito a viver no Chiado a preços acessíveis e alugando uma
casa no Barreiro, que não sendo o ideal, é a que serviria a necessidade de ter
alojamento a preço razoável e a vinte cinco minutos do centro de Lisboa, por
transportes públicos.
António Costa tem razão, se a
maioria absoluta dos deputados lhe pertence, é porque esta é a opção de uma
grande parte dos eleitores, portanto, siga, o que nos faz falta é mesmo pôr em
marcha o programa "bitoque social".
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
31-8-2023
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