Catar feijão se limita com escrever:Joga-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
João Cabral de Melo Neto
Anteriores:
A um piolho
Aninha e Suas Pedras
Casamento
A Rua dos Cataventos
Seiscentos e Sessenta e Seis
Que este amor não me cegue nem me siga
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
João Cabral de Melo Neto
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A Rua dos Cataventos
Seiscentos e Sessenta e Seis
Que este amor não me cegue nem me siga
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