quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Os inventores de falsas memórias

Rogério Marinho

Há uma comédia romântica muito interessante de 2004, com os atores Drew Barrymore (a menina que trabalhou em E.T. em 1980) e Adam Sandler cujo tema é a falta de memória. O protagonista, Henry (Adam), se apaixona por Lucy (Drew), só que ela sofre de síndrome de Goldfield (uma doença fictícia, inventada pelos roteiristas) e, ao dormir, apaga todas as memórias recentes.

Assim, Henry acaba tendo que todos os dias “reconquistar” Lucy, se apresentando, e tendo todas as chances até para cometer erros – afinal, Lucy não se lembrará no dia seguinte. O pai de Lucy todos os dias entrega a ela seu presente de aniversário, o mesmo – já que ela se esquece de já ter ganho. A tal doença tem semelhança com um problema chamado amnésia anteretrógrada progressiva; o filme se tornou um clássico da comédia romântica. Apesar da doença, o final é feliz.

Quanto à amnésia anteretrógrada de que sofre o Brasil, não sabemos se esta terá final feliz. Afinal, tivemos Lula lançando projetos que deveriam ter sido entregues no governo Dilma, o prefeito do Rio surfando em um BRT que deveria ter sido entregue em 2016 e também esquecendo de cumprir promessas como a de colocar ar-condicionado em todos os ônibus até o fim do PRIMEIRO mandato.

Tal como no filme, o povo brasileiro vai sendo convencido de que é primeira vez que ganha o “presente”, o tempo vai passando, nada de concreto é resolvido. No filme, ela vai envelhecendo, sem casamento e sem filhos – só é salva por Henry, que decide todos os dias contar a verdade, todos os dias esclarecer.

Quem deveria ser o Henry do Brasil? Talvez a imprensa, mas esta prefere embrulhar o presente e entregar junto, sem apego à verdade. Há seis meses que a imprensa combativa dos anos Bolsonaro se tornou, tal e qual o prefeito do Rio, um cachorrinho do presidente – sendo pautada por ele. Há seis meses que a imprensa investiga apenas o governo passado – e quanto ao atual, que já recusou vacina contra a dengue para ser distribuída aos pobres, nada de investigar ou contestar.

É um filme triste e nada romântico. O ideal seríamos entrar em outro filme de Adam Sandler, o “Click”, aquele em que com um clique os anos passam rápido – eu pediria para irmos logo para 2027. E já irmos nos acostumando.

Título, Imagem e Texto: Rogério Amorim, Vereador do Rio pelo PTB e neurocirurgião do Hospital Universitário Gaffreé e Guinle. Diário do Rio, 15-8-2023

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