Rogério Marinho
Há uma comédia romântica muito interessante de 2004, com os atores Drew Barrymore (a menina que trabalhou em E.T. em 1980) e Adam Sandler cujo tema é a falta de memória. O protagonista, Henry (Adam), se apaixona por Lucy (Drew), só que ela sofre de síndrome de Goldfield (uma doença fictícia, inventada pelos roteiristas) e, ao dormir, apaga todas as memórias recentes.
Assim, Henry acaba tendo que
todos os dias “reconquistar” Lucy, se apresentando, e tendo todas as chances
até para cometer erros – afinal, Lucy não se lembrará no dia seguinte. O pai de
Lucy todos os dias entrega a ela seu presente de aniversário, o mesmo – já que
ela se esquece de já ter ganho. A tal doença tem semelhança com um problema
chamado amnésia anteretrógrada progressiva; o filme se tornou um clássico da
comédia romântica. Apesar da doença, o final é feliz.
Quanto à amnésia
anteretrógrada de que sofre o Brasil, não sabemos se esta terá final feliz.
Afinal, tivemos Lula lançando projetos que deveriam ter sido entregues no
governo Dilma, o prefeito do Rio surfando em um BRT que deveria ter sido
entregue em 2016 e também esquecendo de cumprir promessas como a de colocar
ar-condicionado em todos os ônibus até o fim do PRIMEIRO mandato.
Tal como no filme, o povo brasileiro vai sendo convencido de que é primeira vez que ganha o “presente”, o tempo vai passando, nada de concreto é resolvido. No filme, ela vai envelhecendo, sem casamento e sem filhos – só é salva por Henry, que decide todos os dias contar a verdade, todos os dias esclarecer.
Quem deveria ser o Henry do
Brasil? Talvez a imprensa, mas esta prefere embrulhar o presente e entregar
junto, sem apego à verdade. Há seis meses que a imprensa combativa dos anos
Bolsonaro se tornou, tal e qual o prefeito do Rio, um cachorrinho do presidente
– sendo pautada por ele. Há seis meses que a imprensa investiga apenas o
governo passado – e quanto ao atual, que já recusou vacina contra a dengue para
ser distribuída aos pobres, nada de investigar ou contestar.
É um filme triste e nada
romântico. O ideal seríamos entrar em outro filme de Adam Sandler, o “Click”,
aquele em que com um clique os anos passam rápido – eu pediria para irmos logo
para 2027. E já irmos nos acostumando.
Título, Imagem e Texto: Rogério
Amorim, Vereador do Rio pelo PTB e neurocirurgião do Hospital Universitário
Gaffreé e Guinle. Diário
do Rio, 15-8-2023
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