Aparecido Raimundo de Souza
Para Marlucia Loureiro de Melo, com carinho e afeto
Desde cedo, ainda menina,
Marlucia aprendeu que o tempo, embora implacável, também se apresentava
benévolo e generoso, complacente e apolíneo nas suas pequenas retribuições de
gratificações e privilégios. A infância foi um mosaico de memórias coloridas, com
tardes passadas em brincadeiras no quintal e noites estreladas, onde a lua,
flor em botão, parecia estar sempre à espera em um jardim magnânimo, aos
cuidados do Pai Maior, para ouvir os segredos sussurrados não só por ele,
“parceriados” pelos sonhos de uma criança completa.
Cresceu jubilosa,
atrelada a uma certeza imorredoura de que a vida seguiria feita de momentos
simples e verdadeiros, e que cada um deles teria o poder, tipo o de uma varinha
de condão, para transformar o belo em uma lembrança preciosa e inesquecível.
Quando a juventude chegou, Marlucia se vestiu de uma vivacidade ímpar, se
aquilatou em uma “jovem-mulher-adulta”, cheia de sonhos imorredouros e
esperanças imarcescíveis. A vida, por seu turno, irmanada em sua ironia, muitas
vezes brincou com as suas expectativas, usque desleixou com o seu porvir. Tudo
em vão!
Sempre firme e forte, imbatível e insuperável, nunca jogou a toalha ou perdeu a fé no poder do amor e, sobretudo, na robustez da dedicação. Seu único erro, a meu ver, foi um só. Juntou-se a mim, um cara de sorriso fácil e de coração estranho, com a alma congestionada de batidas descompassadas e cheias de imprudências e maluquices. Após algum tempo de vida comum debaixo do mesmo teto, eu a abandonei à sorte negra e, pior de tudo, com duas meninas lindas, e ganhei o mundo, partindo numa viagem que jamais deveria ter acontecido.
Antes dessa fatídica
partida, eu e Marlucia construímos uma vida à dois. Um elo espetacular e sem
problemas, embora vivêssemos dias, às vezes sem conta, nada tendo para colocar
na mesa. Apesar disso, nosso cantinho se fez real numa casinha simples, repleta
de muito riso, amor e calor humano. Por algum tempo, tivemos o nosso refúgio de
convívio, como se morássemos longe da Terra e divorciados das preocupações,
onde os interesses do mundo externo pareciam desaparecer sucumbidos pelas
reinações inquebrantáveis de um amor que se fazia corpulentamente angelical e
provido de rosto imperioso, ou dito de forma mais elástica, se abastecia o
nosso gostar em seu maior grau de força e poder.
Tal mimo vinha regado
pelos aromas dos cafés de todas as manhãs, feitos na hora, nos pães
fresquinhos, culminando com os almoços e os jantares temperados com os
auspícios de uma esposa amorosa e, tempos mais à frente, pelo som das
gargalhadas inesquecíveis de nossas filhas, Amanda, nascida em 25 de novembro
de 1996, e Luana Cristina, coroada dois anos depois, ou seja, em 8 de maio de
1998. Marlucia se tornara, então, mãe de duas esperanças, cada uma com sua
personalidade única e sonhos inexplorados. E, ao vê-las crescer, Marlucia
percebeu que a vida se fazia num ciclo interminável de aprendizado e amor.
O tempo, que era amigo na
infância e companheiro na juventude, revelou-se um professor rigoroso na
maturidade. Marlucia, agora mãe e esposa, encontrou novos desafios e alegrias
nas tarefas de equilibrar suas várias e infindáveis responsabilidades. Cada dia
parecia ser uma dança lisérgica entre a calma e o caos, entre a serenidade do
lar e as exigências da rotina cotidiana. Então, como se a vida tivesse
reservado seu último ato para um momento especial, Marlucia se fez avó. A
chegada de dois netos — João Eduardo, filho de Amanda, nascido em 4 de julho de
2015, e Heitor, também dois anos à frente, nascido de Luana Cristina em 20 de
dezembro de 2017 — trouxe novas ondas de encantamento e ternura para sua vida.
Cada sorriso infantil,
cada pequeno passo e cada risada representavam um lembrete de que, apesar das
agruras, dos arrochos e das aperturas, inclusive do meu abandono à vida de
todas elas, sempre o porvir oferecia novas razões para celebrar. Agora, com uma
idade em que muitos olham para trás e relembram com nostalgia, a lutadora e
incansável Marlucia decidiu que suas melhores memórias seriam as mais
alvissareiras, ou seja, muita coisa de bom e extraordinário ainda estava por
acontecer. Com um coração sem limites, uma alma que nunca envelheceu e uma vida
santificada que continua a buscar a beleza nas coisas simples, Marlucia se
tornou uma verdadeira guardiã das magias do cotidiano.
Nesse timbre afinado com
mais de cinquenta tons de realeza, ao soprar as velinhas de um bolo surpresa,
cercada pela família e pelos dois netos, Marlucia, as nossas filhas e demais
familiares, essa figura inquestionável se lembra saudosa de que o tempo não é
apenas um fluxo incessante de dias e noites. Ele é também um mestre dos
pequenos milagres que se revelam na companhia dos entes queridos, ou mais
especificamente, nos momentos compartilhados e na esperança edificada e sempre
renovada em cada novo amanhecer.
Hoje, pois, 2 de
setembro, Marlucia celebra não apenas um ano mais no calendário de sua vida.
Comemora, de cabeça erguida, uma infinidade de tantos e tantos outros momentos
que construíram a sua história. Ela é a prova viva e cabal de que a vida, em
sua essência mais pura, é feita de amor, dedicação e, acima de tudo, da
capacidade de transformar cada dia, cada minuto, cada hora, cada instante
vivido, por mais comum que possa parecer, em uma celebração maciça do
extraordinário.
Por ser dessa forma,
enquanto o sol se põe em sua majestade sobre o humilde bairro da Cascata, na
Serra, e à noite, quando as estrelas começam a brilhar no céu, Marlucia sabe,
aliás, tem a convicção de que a vida, a sua existência, é um baile de ritmo infinito,
de memórias e sonhos, de alegrias e tristezas. Por ser assim e não de outra
forma, em cada passo dado, ela está criando uma nova estrada numa jornada
incomensurável, ou a história única e maravilhosa, ou ainda, um episódio em que
os capítulos retratam a sua essência e também de todos aqueles que
verdadeiramente a amam e indubitavelmente a veneram como “RAINHA.”
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 2-9-2024
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Fila indiana
Sobre o texto, Marlucia e o tempo sempre presente nos pequenos milagres. Vamos por etapas. Me perdoem, se as minhas palavras não derem o recado que imaginei. Como um todo, a crônica acima, nada mais é que uma homenagem sincera, carinhosa e profunda à Marlucia Loureiro de Melo, destacando a sua trajetória de vida e a importância que ela teve para aqueles ao seu redor. Aparecido Raimundo de Souza narra, de forma poética e reflexiva, a jornada dela, desde o seu nascimento até o presente momento, ressaltando os pequenos milagres e os adventos significativos que perpetuaram a sua vida. Aqui está um resumo feito meio que às pressas e dentro desse resumo, algumas reflexões minhas, particulares, sobre o texto:
ResponderExcluirResumo:
Nascimento e Infância: Marlucia nasceu em 2 de setembro de 1976 e, desde pequena, viveu uma infância cheia de momentos felizes e memórias preciosas, caracterizada por brincadeiras no quintal e noites estreladas.
Juventude e Vida Adulta: Ao crescer, Marlucia manteve uma visão positiva e esperançosa da vida, enfrentando desafios e dificuldades com coragem soberana e fé no amor e na dedicação. O texto de Aparecido Raimundo de Souza é claro, bastante ilustrativo com relação a isso, uma vez que menciona que, apesar de um período difícil, com a separação dele (narrador) e as dificuldades financeiras, Marlucia construiu uma vida significativa com amor e dedicação, criando uma família unida.
Maternidade e Avós: Marlucia se tornou, mesmo horizonte, mãe de duas filhas, Amanda e Luana Cristina, e mais tarde avó de dois netos, João Eduardo e Heitor. A chegada dos netos trouxe novas alegrias e encantamentos à sua vida.
Reflexões Sobre o Tempo e a Vida: O texto reflete ainda sobre como o tempo, apesar de seu caráter implacável, também, lado outro, se mostrou generoso ao trazer pequenos milagres. Marlucia é descrita como uma pessoa que transforma cada momento, mesmo os mais comuns, em celebrações extraordinárias.
Celebração e Legado: Em seu aniversário de 2 de setembro de 2024, p.p., Marlucia é celebrada ou melhor, adorada, como uma “rainha” que, junto com um coração generoso e uma vida dedicada, se tornou uma guardiã das magias do cotidiano. O texto encerra com a ideia de que a vida de Marlucia é um baile de memórias e sonhos, um testemunho de amor e dedicação. Amei de paixão essa colocação. A meu entender, bastante criativa.
Reflexões:
O texto visto por outra ótica, é indubitavelmente uma bela e emotiva homenagem que combina detalhes pessoais com uma visão fantasticamente poética da vida. Destaca a importância do amor e da capacidade de encontrar beleza e significado nas pequenas coisas do cotidiano. Marlucia é apresentada como uma figura central, cuja vida é um exemplo de como enfrentar desafios com coragem e transformá-los em oportunidades para celebrar e criar memórias preciosas.
Por Derradeiro:
Essa narrativa leve e solta, também serve para lembrar a todas nós sobre a importância de valorizar e celebrar cada momento da vida, e de reconhecer as contribuições e o impacto das pessoas queridas em nossas histórias pessoais. Acho que nessas minhas poucas observações, eu acabei dizendo tudo e sei lá, creio até um pouquinho mais. Por favor, não me julguem. Não tenho pretensões literárias afloradas. Apenas escrevo e descrevo o que me vem à mente. Não passo, na verdade, de uma roceira. Meu mundo é cuidar de um sitio para que ele prospere e eu possa viver os dias que me restam em paz e feliz.
Tatiana Gomes Neves (Tati)
Tatianagomesnevesistoegente@gmail.com
Do Sítio Shangri-Lá - Divisa do Espírito Santo com Minas Gerais.