domingo, 1 de setembro de 2024

[As danações de Carina] No tête-à-tête: como cair matando nas frustrações do dia a dia?

Carina Bratt 

NO NOSSO COTIDIANO, estamos cercadas, de manhã (desde a hora em que acordamos), até a noite - quando decidimos nos recolher para dormir - por uma ‘desgraça catastrófica das mais difíceis e penosas’ dessas muitas já existentes. Não é nada mais, nada menos do que o fato de precisarmos viver o tempo todo com as ‘frustrações’. Elas surgem como formigas em um pedaço de doce que ficou esquecido na hora do primeiro dejejum, em cima da mesa ou na pia, ainda que em meio às louças lavadas e à espera de estarem secas para voltarem ao local de onde foram retiradas. No meu entender, derrubar essas ‘fuzarcas’ é um desafio constante. Uma luta assídua e continuada. Ponham fé, caras amigas da grandiosa ‘Família Cão que Fuma’, também, em contradita, se tornaria numa oportunidade única para nos ajudar a crescer e, obviamente, a nos conhecer melhor a nós mesmas. ‘Aquilo que nos tripudia’, - grosso modo -, são partes inevitáveis da nossa vida rotineira, atuando minuto a minuto em diversas formas e intensidades. A cada dia, elas (repetindo, as ‘frustrações’) reaparecem com uma cara diferente, um rostinho novo, ainda não usado. Nos perseguem essas endiabradas, como pessoas chatas e pegajosas, sem que as identifiquemos.

Em face disso, para lidarmos com elas de maneira saudável e construtiva, seria essencial adotar algumas estratégias práticas e reflexivas. Como assim, práticas e reflexivas? Primeiramente, importante reconhecermos que as ‘picuinhas’ nada mais são do que emoções naturais e válidas. As desgranhentas desabrocham quando as expectativas não se alinham com a nossa realidade. Em vez de tentarmos suprimir ou ignorar esses sentimentos contrários ao nosso trivial, deveríamos encará-los com honestidade. Oxente! Honestidade?! Honestidade numa hora dessas? Sim, caras amigas! Mister se faz entendermos que as ‘bambochatas’ são uma parte normal da nossa vida. Sem que as próprias percebessem, engoliríamos as danadinhas e, via de tocar em frente, elas nos ajudariam a normalizar as experiências malparidas. Se formos espertas o bastante, as ditas nos conduziriam ao ato de reduzir aquela velha e surrada ‘sensação de estarmos sozinhas’ ou ao deus-dará. E tal fato sempre se repetiria nesses momentos - ou seja, no instante em que nos pegássemos cara a cara visando o combate definitivo de mandarmos a infeliz (fazemos referência à sensação) para os quintos do inferno.

Uma abordagem útil que enfrentamos em tempos idos, deu certo. Querem saber? Não há outra, senão o desenvolvimento do ‘estoicismo emocional’. O que é isso? Se come? Faz viajar em sonhos dourados? Amigas, ‘estoicismo emocional’ é aquele sistema filosófico colocado em prática pelo simpático grego (aliás, seu inventor), um camarada porreta batizado como Zenão de Cítio. Segundo ele (e cá entre nós, concordamos em gênero, número e grau), o ‘estoicismo’, ou a ‘rigidez ou o desprezo’ pelos males físicos e morais, pode ser feito por meio da prática da autocompaixão atrelada à construção de uma ‘mentalidade de crescimento’. Sempre de crescimento. A autocompaixão envolveria lidarmos ou tratarmos com a mesma gentileza aquilo tudo que ofereceríamos para um amigo próximo em uma situação semelhante. A ‘mentalidade de crescimento’ é a crença de que as habilidades e competências podem ser desenvolvidas com esforço e perseverança. Ao cultivarmos essas atitudes, tornar-nos-emos mais capazes de dar um salto adiante, fatigando e superando os anfêmeros diários. Outra estratégia infalível: o ‘ajustamento das expectativas’. Muitas vezes, as nossas ‘frustrações’ à flor da pele vêm de burradas pouco realistas ou, pior, perfeccionistas. Refletirmos, pois, sobre essas ‘parvoíces’ e, com carinho, sem pressa, sem alardes, ajustá-las para algo mais alcançável e flexível.

Toda essa sistemática concorreria para reduzir significativamente as ‘pentelhações’. É útil termos ao alcance das mãos metas claras e concisas, que possam ser adaptáveis às aceitações de que ‘nem tudo sairá como planejado’. O autocuidado é uma prática fundamental para lidarmos com as ‘desilusões’, sejam elas fortes ou pesadas. Isso incluiria cuidarmos igualmente da nossa saúde física e mental, onde deveríamos estabelecer rotinas que promovessem o bem-estar, como exercícios regulares, uma alimentação equilibrada e momentos de relaxamento eficazes. Além disso, em paralelo, sairíamos em busca de atividades que trouxessem prazeres e satisfações pessoais. Nesse emaranhado todo, o ‘T U D O’ se agigantaria e ajudaria a sopesar os momentos difíceis, proporcionando uma perspectiva mais saudável e infinitamente positivista. Estabelecermos uma rede de apoio também seria vista com bons olhos. Isso se faz crucial. Ao compartilharmos os nossos ‘desgostos’ com amigos, familiares ou profissionais que possam, de alguma maneira, propiciar alívio e novos horizontes. Às vezes, queridas amigas, o fato singelo de ‘apenas expressarmos’ o que estamos sentindo se transformará em um enorme alívio e, muitas vezes, dessa dádiva poderemos receber conselhos úteis ou até um excelente e inesperado apoio emocional.

Tentem entender que a reflexão e o querer saber mais são ferramentas poderosas. Após enfrentarmos uma decepção turbulenta, seja ela em que escala pinte em nosso caminho, percamos um tempo (ainda que mínimo) para dedicarmos uns segundos ao corriqueiro mais simplório, ou dito de forma mais objetiva, estanquemos, por cinco ou dez minutos, para ‘catalogar sobre o que aconteceu’ e o que aprendemos com a situação vinda à baila. Indaguemos a nós mesmas o que poderíamos ter feito de ‘diferente’ e como lidaríamos melhor com ‘embarações’ semelhantes no amanhã ou depois, caso outra enrascada viesse a nos tirar do chão? Esse processo de ‘autoavaliação’ não apenas nos ajudaria a superar as enfermidades atuais, como também fortaleceria, e muito, a capacidade de enfrentarmos desafios futuros com mais confiança e sabedoria. Por derradeiro, viveríamos sem os ‘logros’ do dia a dia, tirando as barbáries de letra, sem sacanagens e aporrinhações. Nos envolveríamos e não aceitaríamos essas emoções contraditórias. Assim, ajustaríamos expectativas, praticaríamos o autocuidado, buscaríamos apoios e refletiríamos sobre as experiências ainda não chegadas ao nosso redor. Com o tempo, esses pequenos ‘mimos’ que acima mencionei, se bem dosados e estudados, nos ajudariam a desenvolver questões internas que tornariam a nossa vidinha num ‘vidão’ mais manejável e gratificante, mesmo, queridas amigas da ‘Família Cão que Fuma’, mesmo - vejam bem - mesmo diante dos inevitáveis desafios que a vida ingrata teima em nos enfiar a todo custo, goela abaixo. Até domingo que vem. PAZ!

Título e Texto: Carina Bratt, da Freguesia do Ó, São Paulo, capital, 1-9-2024

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