Aquele que foi o primeiro
produto de doçaria a ser certificado em Portugal está agora em condições de dar
mais um passo importante no sentido da comercialização internacional.
Maria José Santana
Um estudo realizado por
investigadores da Universidade de Aveiro (UA) acaba de confirmar que os
ovos-moles podem ser congelados, sem perderem as suas qualidades. Quando
ultracongelado a 40 graus negativos, o doce conventual aveirense "mantém o
sabor inicial e não é nocivo para a saúde durante cerca de quatro meses",
atestou a investigação da UA.
Na prática, a conclusão a que
chegou a equipa coordenada por Manuel António Coimbra, do Departamento de
Química daquela universidade, permite alargar o mercado de comercialização dos
ovos-moles. Actualmente, os 15 dias de validade do produto limitam, e muito, a
sua exportação. Depois de ultrapassado o processo de validação da congelação,
os ovos-moles poderão, então, chegar ao mercado internacional.
Na mira dos produtores deste
doce tradicional estão já vários países europeus, especialmente aqueles que têm
comunidades portuguesas representativas - como Suíça, Bélgica ou França -, e
também o Brasil. "Temos muitas solicitações de vários pontos da Europa
para importar os ovos-moles", revelou Francisco Silva, presidente da
Associação de Produtores de Ovos-Moles (APOMA), adiantando que, em breve, irão
ser iniciados os contactos internacionais para avançar com a exportação do doce
aveirense.
Apesar de o processo de congelação
ainda depender da emissão de despachos favoráveis, por parte do Ministério da
Agricultura e da União Europeia, a APOMA irá aproveitar a feira Alimentaria, um
dos principais certames do sector alimentar a nível europeu, para começar a
sondar o mercado externo. "Estaremos em Barcelona, no próximo mês de
Março, com a perspectiva de angariarmos já clientes internacionais",
assume o presidente da APOMA.
A associação de produtores ainda não dispõe de qualquer estimativa relativa às potencialidades de crescimento do sector, com a expansão para o mercado externo. Mas não tem dúvidas de que o futuro próximo ficará marcado por uma expansão do sector, que actualmente emprega cerca de 300 pessoas e envolve um total de 36 associados. "Certamente, que a abertura para outros mercados implicará um aumento da produção e, consequentemente, dos postos de trabalho", antecipou Francisco Silva, a propósito das novas potencialidades comerciais da iguaria que teve origem no Convento de Jesus, em Aveiro, e cujos ingredientes não vão além da água, açúcar e gema de ovo.
O doce tradicional que, desde
há dois anos, está imune de falsificações - exibindo um selo de certificação
que atesta a sua qualidade - pode estar, assim, a um passo de se converter em
mais um produto nacional com vocação para a exportação.
Título e Texto: Maria José
Santana, Público, 27-02-2012
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