quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A angústia da existência ou o vazio do nada?...

Valdemar Habitzreuter
A nossa existência é algo interessante. Todos nós perseguimos uma existência plena. Isto é, queremos subsistir na vida e que seja infinda, que não termine. No entanto, sabemos que não é assim. Tudo tem um fim, tudo perece, e nós inclusive; e isso nos angustia. A vida é angustiante, pois não aceitamos que a morte determine seu fim. No fundo achamos que a morte acontece sempre aos outros e não a nós pessoalmente. Além do mais, tudo que projetamos na vida é incerto e volúvel. Assim, angustiamo-nos com as incertezas da nossa existência.

Diz-se que algo de imortal há no ser humano: a alma. Se assim for, nada mal. Seríamos, então, eternos. Mas, como seria isso, a alma sem o corpo? Não há uma concepção a respeito. A nossa razão não dá conta disso, não consegue provar que tal estado anímico puro se dê. Para isso recorre-se às religiões que nos conclamam a ter a fé de que isto é verdade, mesmo que não esteja ao alcance da razão. A existência de Deus também é problemática, só a fé nos pode fornecer a crença de que Ele existe. Pela razão Ele é inalcançável e inescrutável. (O filósofo Kant tem argumentos convincentes a respeito).

A existência das coisas para os primeiros filósofos na antiguidade grega era algo enigmático e procuravam uma explicação. Heráclito, por exemplo, observava que tudo estava em movimento, tudo em transformação. As coisas vêm a existir e depois desaparecem, têm um fim. A existência seria um rio onde não era possível banhar-se nas mesmas águas, já que a água fluía constantemente e outra se apresentava. Assim, existir significa passar, fluir como as águas de um rio. Tudo está em movimento transformador (nascença, crescimento e morte).

Outro filósofo, Parmênides, achava que isto não é bem assim. O que existe como realidade mesma é imóvel e não passa: O Ser. Se as águas do rio de Heráclito não são as mesmas, as margens desse rio são as mesmas. Isto é, a realidade mesma do rio são as margens. O fluir das águas representa as ilusões dos nossos sentidos. Daí ele dizer: o que sustenta tudo, o que está debaixo de tudo, é o ser. Todas as coisas têm isso em comum: o ser. Isto é, o que não passa, e é sempre o mesmo.

O que passa é ilusório porque nossos sentidos se enganam. A realidade é o ser e não o movimento fugidio que quer transformar o ser em não ser. Eu, Valdemar, sempre serei Valdemar, mesmo que na velhice tenha uma aparência diferente daquela quando criança e jovem.

Qual dos dois filósofos tem razão? Os dois em parte têm razão, e em parte não. Foi preciso surgir o maior filósofo da antiguidade para resolver esta questão: Platão.

Platão diz que há de fato uma realidade imutável e eterna que ele chama de ‘mundo das idéias’, mas também admite outra que está em constante mudança. Por exemplo, a idéia de ‘homem’ é uma realidade eterna e imutável, mas o homem em sua existência física sofre transformações: nasce, cresce, envelhece e tem um fim. Platão diz que a realidade mesma do homem, a sua realidade mais concreta, é sua idéia, e sua existência física seria apenas uma cópia daquela idéia. Portanto, Platão deu sentido aos pensamentos de Heráclito e Parmênides, concatenando-os. As idéias são imperecíveis, enquanto as cópias das idéias são imperfeitas e perecíveis.

E por aí vai se levando adiante as especulações filosóficas séculos afora sobre a existência. Sempre estamos às voltas com a questão da existência, e nos dias atuais os filósofos se perguntam: por que existem as coisas e não simplesmente o nada? O nada não seria mais plausível?

Acho que temos pavor do nada, pois lutamos sempre pela sobrevivência. Nós, velhinhos e velhinhas do Aerus fazemos isso: queremos o quinhão que nos foi tirado para podermos prolongar nossa existência. A maioria de nós prefere existir a não existir, mesmo que o nada (não existir) eliminaria todas as nossas angústias existenciais.

P.S. Dedico esta reflexão em memória ao colega e amigo Carlos Edmundo [foto] que nos privou de seu convívio recentemente. Sentimos sua falta, pois era um militante das boas causas. Foi um exemplo de camaradagem e um aliado em prol de nossa causa Aerus. Sua existência como cópia se dissipou, mas a idéia do homem Carlos Edmundo íntegro e companheiro permanece, é imperecível.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 20-08-2014

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