Nem uma palavra para as
estudantes nigerianas raptadas, nem pela paquistanesa Asia Bibi, condenada à
morte pela acusação de ter ofendido o Islã. E também as audiências negadas ao
ex presidente do IOR, Gotti Tedeschi, dispensado por ter desejado fazer
limpeza.
Sandro Magister
No dia de Sant’ana, padroeira
de Caserta, o Papa Francisco visitou esta cidade. Tudo normal? Não. Porque
apenas dois dias depois, Jorge Mario Bergoglio voltou a Caserta, em visita
privada, para encontrar seu amigo italiano, que conheceu em Buenos Aires,
Giovanni Traettino, pastor de uma igreja evangélica local.

Em Francisco, a colegialidade
de governo é mais invocada que praticada. O estilo é o de um superior geral dos
jesuítas que, ao final, decide tudo por si só. Depreende-se isso por seus
gestos, por suas palavras e por seus silêncios.
Por exemplo, há semanas que,
por detrás dos bastidores, Bergoglio cultiva relações com líderes das poderosas
comunidades “evangélicas” dos Estados Unidos. Na casa Santa Marta, passou horas
e horas na companhia deles. Convidou-lhes para almoçar. Em um desses momentos
de convivência, fez-se imortalizar fazendo um high five, entre grandes risos,
com o pastor James Robinson, um dos tele-evangelistas americanos de maior
êxito.
Quando, no entanto, ninguém
sabia de nada, foi Francisco quem lhes antecipou seu propósito de ir a Caserta
encontrar seu colega italiano e a explicar o motivo: “oferecer as desculpas da
Igreja Católica pelos danos que lhes ocasionou ao obstaculizar o crescimento de
suas comunidades”.
Argentino como é, Bergoglio
conhece “ao vivo” a avassaladora expansão das comunidades evangélicas e
pentecostais na América Latina, que continua arrebatando da Igreja Católica
enorme massa de fiéis. Contudo, decidiu não combater seus líderes, mas, antes,
fazer-se amigo deles.
Trata-se da mesma linha que
adotou com o mundo muçulmano: oração, invocação da paz, condenações gerais do
que se está fazendo de mal, mas muito atento para se manter longe dos casos
específicos relacionados a pessoas determinadas, sejam vítimas ou carrascos.
Francisco tampouco abandona
esta atitude reservada quando o mundo inteiro se mobiliza em defesa de certas
vítimas e todos esperariam dele um pronunciamento.
Não pronunciou uma só palavra
quando a jovem mãe sudanesa Meriam estava presa com seus filhinhos, condenada à
morte somente por ser cristã, porém, recebeu-lhe uma vez que foi libertada
graças às pressões internacionais.
Não disse nada quanto às
centenas de estudantes nigerianas raptadas por Boko Haram, apesar da campanha
promovida por Michelle Obama com o tema: “Bring back our girls” [Devolvam
nossas garotas].
Cala-se sobre o destino de
Asis Bibi, a mãe paquistanesa presa há cinco anos, a espera da apelação contra
a sentença de morte que recebeu, acusada de ter ofendido o Islã.
Também a campanha pela
libertação de Asis Bibi tem o mundo católico comprometido por todos os lados e
foi divulgada, no início deste ano, uma dolorosa carta escrita por ela ao Papa
— que não a respondeu.
São silêncios que causam
muitíssima má impressão uma vez que são praticados por um Papa de quem se
conhece sua generosíssima disponibilidade para escrever, telefonar, levar uma
ajuda, abrir as portas a qualquer pessoa que toca a campainha, não importando se
pobre ou rico, bom ou mau.
Por exemplo, sua demora em se
encontrar com as vítimas de abusos sexuais, cometidos por representantes do
clero, havia levantado algumas críticas. Porém, no último 7 de julho, remediou
essa situação, dedicando toda uma jornada a seis dessas vítimas, trazidas a
Roma desde três países europeus.
Nestes mesmos dias, Francisco
avançou com a reorganização das finanças vaticanas, com algumas substituições
nos cargos máximos e a demissão do inocente presidente do IOR, o alemão Ernst von
Freyberg.
Inexplicavelmente, em
dezesseis meses de pontificado, este funcionário jamais conseguiu obter uma
audiência com o Papa.
Porém, mais inexplicável é a
“damnatio” que atingiu seu predecessor, Ettore Gotti Tedeschi, despedido em
maio de 2012 justamente por ter levado adiante a obra de limpeza, demitido
precisamente pelos maiores culpáveis pela má administração.
Seus pedidos ao Papa Francisco
para ser recebido e escutado jamais receberam resposta.
Título e Texto: Sandro
Magister
Tradução: Fratres in Unum.com – Roma, 1 de agosto de 2014
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