MAIS UM NAVIO NORTE-COREANO
ZARPA DE CUBA E LEVANTA SUSPEITAS DE CONTRABANDO DE ARMAS CUBANAS PARA A CORÉIA
DO NORTE NAS BARBAS DE TIO SAM...
Francisco Vianna
Um cargueiro norte-coreano
encalhou no Golfo do México poucos dias depois de fazer uma parada em Havana,
um acidente que levantou inevitáveis comparações com outra embarcação de
Pyongyang capturada no verão passado com um carregamento ilegal de armas
cubanas.
O ‘Mu Du Bong’, com 430 pés de comprimento,
encalhou na manhã de hoje, segunda-feira, num recife a cerca de sete milhas do
porto mexicano de Tuxpan, segundo alguns diretores da indústria da marinha de
cabotagem. “O trabalho de desencalhe do recife será complicado e levará vários
dias para terminar”, disseram.
O barco navegava vazio e
planejava carregar em Tuxpan quando encalhou porque o capitão “ficou
desorientado”, conforme uma reportagem da Agência de Notícias ‘France Presse’. O porto de Tuxpan é conhecido como um dos principais
portos exportadores de açúcar, no México.
Os administradores do porto
disseram que “não sabiam se o Mu Du Bong
estava entrando ou saindo do porto”. Um agente do escritório da Capitania dos
Portos mexicana declarou que ninguém estava autorizado a dar qualquer
informação sobre o caso. No entanto, surgiram logo especulações sobre o
cargueiro, que começaram, inclusive, antes do acidente, porque sua viagem era
similar à do ‘Chong Chon Gang’,
confiscado pelas autoridades panamenhas em julho do ano passado e no qual foram
encontradas, escondidas sob uma carga de açúcar algo em torno de 240 toneladas
de armamento cubano.
Ambos os cargueiros navegaram
em águas cubanas, mas sua localização exata foi um mistério por vários dias
pelo fato de nça ter havido relatórios de seus indicadores automáticos de
localização (GPS), exigidos pelos regulamentos internacionais de segurança. O ‘Chong Chon Gang’ desligou seu
GPS para ocultar sua localização, conforme a conclusão chegada pelas
investigações que se seguiram à sua apreensão, feitas por agentes da ONU.
Já o ‘Mu Du Bong’ cruzou o Canal do Panamá rumo ao
Caribe em 15 de junho último. Seu transponder
indicou que em 25 de junho o navio estava próximo ao porto de Mariel, em Cuba,
e em 29 e 30 de junho se encontrava no cais de Havana, conforme um artigo
publicado no domingo seguinte pela revista FORBES, que foi a primeira em
relatar sua travessia.
Durante os nove dias que se
seguiram, seu transponder se manteve em silêncio (desligado), relatou a FORBES.
Esse equipamento obrigatório começou a funcionar novamente em 10 de julho,
mostrando que o navio estava em Havana, e em seguida zarpou com rumo a oeste
para o Golfo do México, conforme descreveu a revista americana.
Um diretor da indústria de
cabotagem chamou o cargueiro, construído em 1983, de “um velho ‘cacharro’
oxidado”, e disse que fotos da ponte do navio mostram um mastro estranho
rodeado de cabos que bem pode ser algum tipo de grua improvisada ou uma antena
de rádio para comunicação via satélite.
O responsável pelo website
Liderança de Vigilância do Governo da Coreia do Norte (North Korea Leadership Watch), Michael Madden, disse que nenhuma das duas possibilidades é
de se estranhar porque “a improvisação é coisa corriqueira na Coreia do Norte,
em particular nos casos em que precisa, mas não pode, adquirir materiais e
equipamentos de maneira eficiente e normal nos mercados internacionais”.
Quanto à possibilidade de
estar transportando ilegalmente armamentos de Cuba, há dúvidas, pelo fato de
seus documentos de propriedade e carta náutica assinalarem grandes entidades
que fabricam vários tipos de artigos civis, segundo Madden. Também é possível
que um terceiro país haja contratado o navio para transportar carga de ou para
Cuba.
A reportagem da FORBES afirma
que os documentos de envio de mercadorias mostram que ambos os navios têm um
mesmo agente comercial, a Empresa de Gerenciamento Oceano Marítima Ltda. (Ocean Maritime Management Company Ltd.). Especialistas que investigaram o incidente do ‘Chong Chon Gang’ disseram que a
empresa “teve um papel chave na gestão do envio do carregamento oculto de armas
e materiais relacionados”. Tais especialistas chegaram à conclusão que o
carregamento cubano era uma violação do embargo de armas imposto pela ONU à
Coreia do Norte em 2006 por causa de seus esforços em desenvolver armas
nucleares e mísseis de longo alcance. Não foram impostas sanções a Havana.
As autoridades panamenhas
interceptaram e apreenderam o ‘Chong Chon Gang’
em julho do ano passado, quando o navio se posicionava para cruzar o Canal do
Panamá, em sua costa leste, após receber uma denúncia de que carregava drogas
ilegais. No lugar da droga, encontraram as armas e outros equipamentos
militares cubanos escondidas sob uma camada de sacos de açúcar.
O material militar apreendido
incluía dois aviões MiG-21, 16 motores para esses MIGs, dois sistemas de radar
e mísseis antiaéreos, assim como peças de artilharia e granadas autopropelidas.
Cuba declarou que tinha enviado esses equipamentos “obsoletos” a Pyongyang para
serem reparados e devolvidos, e argumentou que não tinha violado a proibição da
ONU de “transferência” de armas a Pyongyang. A equipe de vistoria da ONU que
examinou os documentos confiscados a bordo do cargueiro relatou que os papeis
mostravam uma “minuciosa estratégia para ocultar” as armas. O carregamento
militar não estava listado no manifesto de carga do navio, e em seu caderno de
bússola náutica faltava o registro de vários dias.
O ‘Chong Chon Gang’ esteve atracado em Havana de 4 a 9
de junho para estivar sua carga, e em seguida cursou pela costa norte de Cuba
até 20 de junho, quando atracou no Porto de Mariel e embarcou a carga militar
proibida. Em seguida zarpou em 22 de junho com destino a Puerto Padre, na costa
nordeste de Cuba, onde carregou o açúcar, e deixou as águas cubanas em 5 de
julho com destino à Coreia do Norte.
O artigo da FORBES diz que
“talvez tenha sido pouco provável que a Coreia do Norte tentasse de modo tão
ostensivo outro contrabando tão próximo às costas dos Estados Unidos, tão pouco
tempo depois do confisco da carga militar do Chong Chon Gang, mas, ao despachar o Mu Du
Bong para Cuba através do Canal do
Panamá, Pyongyang estivesse no mínimo a provocar os EUA, e provavelmente
tateando o terreno para futuras viagens de contrabando”.
Foi a segunda ida do Mu Du
Bong a Cuba e a sexta visita
norte-coreana ao país comunista do Caribe desde 2009, conforme dados do Projeto
de Controle de Armas Nucleares Wisconsin (Wisconsin
Project on Nuclear Arms Control).
O navio Po Thong Gang atracou em Havana e Santiago de
Cuba durante uma visita em 2011, e em Puerto
Padre em abril de 2012. O Oun Chong
Nyon Ho atracou em Havana e Puerto
Padre em maio de 2012.
O Panamá manteve detidos o
navio e sua tripulação durante vários meses, para investigar as acusações de
que não tinham relatado sua carga perigosa e proibida antes de cruzarem o
Canal, rumo ao Pacífico. O cargueiro e 32 de seus tripulantes foram liberados
em fevereiro último e seu capitão, bem como seu imediato, foi julgado e
inocentado no início deste mês.
As autoridades panamenhas
disseram ainda que entregarão o açúcar à Coreia do Norte, mas não as armas,
porque Cuba nunca admitiu ser a proprietária do armamento perante a alfândega
panamenha.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 04-08-2014
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