quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Avaliação do debate Aécio X Dilma, 14 de outubro

Luciano Henrique

Enfim, aconteceu na Band o primeiro debate da série que eu esperava há dias. Especialmente pelo fato de que a campanha de TV do PSDB não tem sido feita com a contundência necessária. Simplesmente no horário eleitoral o PT tem conseguido atacar mais do que o PSDB tem conseguido se defender.

Por sorte, o Aécio dos debates é bem melhor que a propaganda de TV do partido.

Durante todos os embates de ontem à noite, houve uma tensão muito maior do que nos debates anteriores, o que sempre é positivo, pois é assim que a política funciona. Sem a presença dos “nanicos”, finalmente tivemos foco.

Sem perguntas dos jornalistas, foi quase 1h30 dos dois candidatos se confrontando. Por isso mesmo, foi muito melhor do qualquer debate até o momento.

Aécio não teve papas na língua para chamar Dilma de mentirosa, chegando a dizer que a campanha não passa de um amontoado de mentiras. Ele também ganhou pontos ao lembrar que as mentiras do PT não se baseiam apenas em mentiras contra ele, mas contra Marina e contra Eduardo Campos.

Essa postura inicial foi essencial para associar o frame “mentirosa” a Dilma. Isso significa que grande parte do discurso (como sempre mentiroso) desta última fosse visto com reservas por boa parte dos espectadores.

Por parte de Dilma, não tivemos algo sequer próximo ao que podemos chamar de “conteúdo”. Por exemplo, ela falou da Lei Maria da Penha, assunto totalmente irrelevante, pois o PT não tem mérito algum nisso, o que foi explicado satisfatoriamente por Aécio.

Dilma continuou como sempre usando o discurso de que “criou mais empregos” e que “ninguém olhava para o social antes do PT”. Os pontos que ela conseguiu foi por que nem todas essas mentiras foram neutralizadas.

Por exemplo, Aécio pecou ao não dizer que o DIEESE sempre aponta o dobro de desemprego em relação ao IBGE, instituição aparelhada pelo partido. Por causa disso, Dilma ainda conseguiu enganar alguns incautos em relação ao truque de dizer que “reduziu o desemprego”.

Dilma ficou constantemente nervosa, gaguejando em vários momentos e até batendo sem querer no microfone. Se algum internauta quiser fazer uma compilação das gaguejadas, pode ser divertido, pois esse nervosismo conta ponto negativo para ela no subconsciente do eleitor. Em um momento inesquecível, ela disse: “Prev, prev… previsibilidade”. Patético.

E quanto a Aécio? No geral foi melhor em termos de assertividade e ataque, embora tenha começado muito melhor do que terminou. Se fôssemos avaliar apenas o primeiro terço do debate, ele teria ganho por uns 9×4 facilmente. Mas se avaliarmos o evento como um todo, eu diria que ele ganhou por uns 7×5. (Como eu já disse, nem todas as mentiras de Dilma são neutralizadas, e é aí que ela pontua)

O problema que ele precisa corrigir é deixar várias mentiras passarem. Tudo bem que Dilma usa tanta desinformação que é justificável se esquecer de uma ou outra.

Uma dica para os próximos debates é que Aécio use um bloco de notas (ou um tablet), anotando mentira por mentira. Daí, quando construir suas respostas, é possível dedicar espaço para refutar todas as mentiras relevantes.

Por sorte, várias das mentiras mais importantes foram refutadas.

No caso do frame “Aécio é rejeitado pelo povo de MG”, o tucano rebateu adequadamente ao dizer que nas pesquisas atuais ele tem 10% de vantagem sobre Dilma. Mas poderia também ter dito que foi Durval Angelo, deputado petista, que afirmou que “Dilma passou de 30% para 40% nas pesquisas depois da ajudinha de petistas infiltrados nos Correios”. Ou seja, ela não poderia comemorar a vitória em MG. Mas não se pode ter tudo.

Sobre o Mais Médicos, Dilma disse que ele foi contra, o que não é verdade. Aécio apenas criticou a forma cruel de contratação de cubanos. Dilma afirmou que “a proposta dele inviabilizaria os cubanos”. Ele rebateu citando o preconceito contra os cubanos.

Quando Aécio mostrou, com referências, que o Bolsa-Família teve sua origem nas propostas do PSDB, Dilma simplesmente negou, dizendo que “o Bolsa-Família não tem qualquer relação de ancestralidade com programas assistenciais do PSDB”. Mais uma mentira que deve ser rebatida agora no horário eleitoral, pois a própria lei que menciona o Bolsa-Família cita essa ancestralidade.

Fiquei muito satisfeito que finalmente Aécio tenha defendido Armínio Fraga, enquanto a campanha de TV do partido até agora tenha deixado o ex-presidente do BC ser devorado pela matilha de cães petistas. Para começar, ele mencionou que Dilma distorceu afirmações de Armínio Fraga. Mas brilhante mesmo foi ele ter citado os elogios de Palocci (e de Lula) ao Armínio.

Quer dizer, está fácil para mostrar que Dilma mente ao fazer campanha de medo ao citar FHC (pois ela escreveu uma carta elogiando FHC), Armínio (elogiado por Palocci e Lula) e até mesmo Aécio (que estava sendo proposto pela aliança PT/PMDB como sucessor de Lula, mas não aceitou). Ei, pessoal da campanha de TV, o que vocês estão esperando?

Uma boa sacada de Aécio foi dizer que “medo é o que o brasileiro tem do PT continuar no poder”. Também foi digno de nota ele mencionar que atende ao pedido de libertação do Brasil das garras do PT.

Dilma ainda tentou citar a questão do aeroporto, no que foi chamada de “leviana” por Aécio, com bastante assertividade. Quando Dilma acusou Aécio de nepotismo, ele a desafiou a dizer qual o cargo da irmã dele. Sem resposta.

Na questão da corrupção, Aécio acertou ao dizer que nada se compara ao Mensalão na história da república. É sempre importante mencionar que o PT não pode ser comparado a nenhum outro partido da história nacional na questão da corrupção.

Por exemplo, ela usou a técnica da metralhadora dizendo “onde estão os envolvidos no caso X, Y e Z?”. Bastaria ele ter dito: “O PT está falando que há crimes não investigados do PSDB mas não consegue demonstrar provas e nem reabrir inquéritos. É claro que ela está blefando ao comparar criminosos condenados com suspeitas investigadas. E se tiver alguém condenado, o PSDB expulsará do partido. O PT apoiou seus mensaleiros”. Pelo menos, ele disse “não tente nos igualar”.

Sobre Paulo Roberto Costa, ele questionou: “Quais foram os bons serviços prestados por esse senhor?”. Não teve resposta.

Como se nota, em linhas gerais, com bastante intensidade, Dilma teve muito mais “lixo” jogado para cima dela do que o inverso.

Se Aécio resolver refutar todas as mentiras, basta manter a assertividade vista ontem que isso aumentará a vantagem sobre Dilma. Espero que isso inspire a campanha de TV, que aí tudo fica mais fácil. 
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 15-10-2014

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