Depois das vigas da
Perimetral, 54 trens somem no Rio
Thiago Prado
Mais um mistério envolvendo o
desaparecimento de toneladas de aço ronda o Rio de Janeiro. Um relatório
concluído no mês passado por técnicos da Secretaria de Transportes do
governo revela que um lote de cinquenta e quatro carros de trens antigos
– substituídos por novos – não foi encontrado no patrimônio do
próprio estado ou da Supervia, concessionária responsável pela malha
ferroviária fluminense. Quando um vagão é trocado, o contrato de concessão
prevê um leilão da composição e o repasse do dinheiro arrecadado para os cofres
públicos. É o segundo caso deste tipo que vem à tona em menos de um ano – em
outubro, sumiram sem qualquer explicação seis vigas de aço que eram do elevado
do Perimetral, demolido para a revitalização da Zona Portuária da
cidade.
A venda de vagões velhos
poderia ser revertido em uma bolada para o governo fluminense. Para ilustrar o
prejuízo, o documento feito por quatro técnicos da Companhia Estadual de
Engenharia de Transportes e Logística (Central) relembra um leilão feito em
2005 de 83 carros que levantou 60,3 milhões de reais. Os vagões que
sumiram, segundo o relatório, são da série 800 e entraram em circulação
comercial entre 1980 e 1984. Os carros foram trocados por novos entre os
governos de Rosinha Garotinho e Sérgio Cabral.
O desaparecimento das
vigas e dos trens tem uma personagem em comum, a Odebrecht.
A empreiteira tem o controle da Supervia desde 2011 e é uma das sócias do
Consórcio Porto Maravilha, responsável pela demolição da perimetral no ano
passado. Avaliadas em 14 milhões de reais, as seis vigas da perimetral tinham
cada uma 40 metros de comprimento e pesavam cerca de 20 toneladas. A prefeitura
do Rio também faturaria com o leilão das vigas. Um inquérito da Polícia Civil
do Rio de Janeiro aberto no ano passado já ouviu dezenas de pessoas, mas não
conseguiu avançar um milímetro na solução do caso. Em breve, mais trens vão
virar sucata pronta para entrar em leilão. O governo do Rio de
Janeiro fechou acordo para a compra de 60 novos trens para a rede
ferroviária – alguns, inclusive, já estão em circulação ou fase de testes.
Passageiros na estação São Cristóvão, Marcelo Piu, O Globo |
Em meio a colisões de
trens, agressões a passageiros e problemas operacionais, a Supervia foi
agraciada com uma série de benefícios durante o mandato de Cabral. Há quatro
anos, o governo do Rio renovou a concessão para a operação do sistema
ferroviário até 2048. Além disso, a empresa ganhou sem licitação o direito de
explorar o teleférico do Complexo do Alemão – que gera um lucro de 13 milhões
de reais ao ano. As boas relações entre Supervia e o governo coincidiram com a
contratação de Adriana Ancelmo, esposa de Sérgio Cabral, para advogar
pela concessionária em causas trabalhistas.
Procurados, o governo do Rio
de Janeiro e a Supervia deram respostas evasivas aos questionamentos do
relatório. A concessionária informa que “todos os bens patrimoniais recebidos
pela concessionária estão regularizados”. Já a assessoria do governo, depois de
dois dias, não deu nenhuma explicação para as denúncias do relatório produzido
pelos seus técnicos. Enquanto ninguém esclarece nada, resta acreditar que
uma espécie de mágico do aço está atuando no Rio de Janeiro desaparecendo com
vigas e trens.
Texto: Thiago Prado, do Rio
de Janeiro, Veja,
02/10/2014
Colaboração: José Manuel
Impressionante! Só no Brasil, ou no Rio de Janeiro!
ResponderExcluirMas continuam insistindo no refrão "Cidade maravilhosa". E os prefeitos do Rio sabem disso: nada lhes acontecerá, porque a multidão internalizou a violência e a sujeira e acha tudo muito lindo.
O Brasil só mudará para melhor (e quando mudar, sai de perto!) quando os brasileiros, ao invés de se orgulharem de brasileiros que triunfam no Exterior, por seus próprios méritos, e fazer deles monumentos nacionais, se ENVERGONHAREM da violência urbana, que não tem semelhança no mundo.
Sei que é muito difícil, e ficou muito pior nos últimos anos.
Lamento sinceramente pelo Brasil, mas não tenho pena dos brasileiros. Pois têm e vivem o que merecem: escolheram 'democraticamente'.
Grande abraço./-