terça-feira, 14 de outubro de 2014

Macroscópio – Enquanto esperamos pelo Orçamento…


José Manuel Fernandes
A conta-gotas vamos sabendo detalhes do Orçamento do Estado de 2015, nomeadamente que o défice previsto ficará um pouco acima do anterior compromisso (2,7% em vez de 2,5%), mas o dia D será amanhã, quando Maria Luís entregar no Parlamento a pen com todos os números. Esperemos então. Até lá deixo-vos aqui algumas sugestões, chamando a atenção para textos que talvez tenham escapado aos leitores do Macroscópio.

Aqui no Observador fizemos um trabalho de investigação sobre o financiamento dos partidos. Sobre quem são os empresários que os financiam e sobre como organizam as suas contas. Os números que obtivémos referem-se sobretudo ao PS, ao PSD e ao CDS. Lidos estes trabalhos, fica-se com a sensação de que ainda há muito que evoluir para termos um sistema realmente transparente. A lista dos financiadores, apesar de longa, tem poucas contribuições vultosas. Demasiado poucas, diria eu. Mas é o que há, e vale a pena perceber como funciona.

Regressando aos temas que aqui abordei ontem – os soluços económicos da Europa – queria deixar algumas indicações:

· a Spiegel fez um ponto da situação da crítica europeia às políticas alemãs: Out of Balance? Criticism of Germany Grows as Economy Stalls. Depois de sintetizar o que tem sido dito na Europa, a revista recorda a posição de think tanks alemães sobre a pouca margem de manobra do governo de Markel: “Compounding the problem is that measures taken by the government -- a coalition of Merkel's CDU and the center-left Social Democrats (SPD) -- are contributing to weak growth. The think tanks predict that projects undertaken by the coalition, including allowing people to retire at the age of 63 and the introduction of Germany's first-ever national minimum wage, will cause around 300,000 jobs a year to disappear.“

· No Financial Times encontrei uma interessante crónica sobre a forma como os partidos populistas estão a explorar o desencanto e o medo dos sectores que perderam com a globalização: Populist politics is no use to globalisation’s losers. O ponto de partida é uma pergunta: “Who is worse: the elitist who shrugs at people left behind or the huckster who offers false hope?”

· A ideia de que é necessário estar atento aos sectores da população que se sentem desamparados face aos eleitos da globalização é um dos pontos da análise de Adrian Monck, managing director do World Economic Forum no Wall Street Journal: Saving Globalization From Itself. Ele chama a atenção, por exemplo, para o que identifica como os três falhanços do Ocidente neste processo. O primeiro é: “We grossly underestimated the social, political and economic impact of the freer movement of people and capital. Yes, prosperity can mitigate prejudice. Immigration brings economic benefits in the long term. We know that. But we don’t know how to manage the bumps along the way, the surges in demand for local services and the swelling of xenophobia among those who feel like they’re being left behind.”

· Enquanto isto, um dos temas da semana é o braço de ferro em Bruxelas entre o governo de Paris e a Comissão Europeia por causa da intenção do governo socialista de não cumprir as metas com as quais se comprometeu. O Le Monde fez um breve ponto da situação: “Partie de poker menteur entre Paris et Bruxelles sur les réformes”. Para haver uma porta de saída tem de haver algum compromisso. Em especial com os alemães: “Avant que la situation ne se dénoue véritablement, la « France doit bouger, même si sa majorité politique est fragile. On veut voir une réforme. Après, on pourra discuter » assure une source allemande. Lundi, Bercy a confirmé une information du Spiegel selon laquelle Emmanuel Macron, ministre de l’économie et son homologue à Berlin Sigmar Gabriel, avaient décidé d’élaborer des propositions communes d’investissement mais aussi de réformes dans les deux pays. De là à voir le soutien tant attendu de Berlin à Paris, il n’y a qu’un pas, qu’on ne franchit pas encore à l’Elysée : « c’est bien trop prématuré ».”

· Termino este bloco remetendo para um texto de Rui Ramos aqui no Observador em que ele analisa uma recente tomada de posição de Ferro Rodrigues. Extrato: “O que Ferro Rodrigues nos quis dizer é isto: ou mantemos a austeridade (…), ou não há Estado social. Trata-se de uma ideia nova no debate político em Portugal. Em tempos, Daniel Bessa argumentou que “o Estado social é a economia”. Bessa queria explicar que sem um enquadramento fiscal e regulatório favorável ao investimento e ao trabalho, o poder político nunca arranjaria recursos para honrar os compromissos assumidos em cada campanha eleitoral. Ferro Rodrigues tem uma alternativa: o Estado social é a austeridade.”

Nas últimas 24 horas houve bastante noticiário sobre as cheias de Lisboa [foto] – pela segunda vez, em menos de um mês, uma parte da cidade ficou debaixo de água depois de uma chuvada intensa. Ficámos a saber que há em Lisboa um plano de drenagem de Lisboa não avança há sete anos, mas que António Costa acha que "não existe solução para as inundações". Para perceber um pouco melhor o que está em causa recupero uma excelente reportagem multimédia da Renascença, onde se mostra com detalhe, mapas e muitos testemunhos o que se passa quando chove muito em Lisboa. E também se fala de propostas, entrevistando o professor do Instituto Superior Técnico Saldanha Matos, autor do Plano de Drenagem de Lisboa, "que se queixa da falta de continuidade dada ao documento. Lá estão as soluções possíveis para minimizar o impacto das precipitações fortes e das insuficiências do sistema de drenagem da capital.”

Termino com uma última sugestão, de novo recuperando um tema de ontem, a entrega do Prémio Nobel da Economia ao francês Jean Tirole. Isto para recomendar dois textos: a pequena conversa, aqui no Observador, com Pedro Pita Barros, o professor de Economia da Nova que quase acertava na escolha, e um texto mais analítico (e crítico) de David Henderson, investigador na Hoover Institution da Universidade de Stanford, publicado no Wall Street Journal. Extrato: “If George Stigler were alive today, he would probably recognize, in Jean Tirole, a kindred spirit. In 1950 Stigler advocated breaking up U.S. Steel. In his 1988 memoirs he confessed, “I now marvel at my confidence at that time in discussing the proper way to run a steel company.” Mr. Tirole seems to share Stigler’s humility.”

E por aqui fico.
Hoje também joga a seleção nacional.* Que tenha um bom jogo, e os leitores dos Macroscópio boas leituras. 
Título, Imagem e Texto: José Manuel Fernandes, Observador, 14-10-2014

* Portugal 1, Dinamarca 0


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